Abelhas sem ferrão

A meliponicultura é a criação racional de abelhas sem ferrão (também chamadas de nativas ou indígenas). Além de permitir a produção de diversos tipos de mel, a atividade ainda contribui para a conservação das diferentes espécies de abelhas e para ampliar os serviços de polinização de plantas, inclusive de muitas culturas agrícolas. A criação de abelhas sem ferrão já era realizada em diversas localidades no Brasil, muito antes da chegada da Apis mellifera no século XIX.

Historicamente, muitas espécies de abelhas sem ferrão sofreram uma exploração predatória por meleiros, com a retirada do mel sem o manejo correto e consequente destruição das colônias, o que contribuiu para a diminuição das populações dessas abelhas em algumas regiões.

No decorrer do tempo, a exploração predatória cedeu espaço para a meliponicultura, que além de permitir a produção de diversos tipos de mel, disponibiliza ao meio ambiente uma variedade de polinizadores e contribui para a conservação das diferentes espécies de abelhas criadas, sendo, portanto, uma ótima ferramenta de desenvolvimento sustentável.

Diferentes etnias indígenas têm explorado produtos das abelhas sem ferrão desde tempos remotos, incluindo os Maias do México e da Guatemala, os Kayapó da Bacia Amazônica brasileira e vários outros grupos africanos e australianos. Apesar de no geral a meliponicultura ser uma atividade informal, no Nordeste brasileiro, em especial nos estados do Maranhão, Rio Grande do Norte e Pernambuco, existem pólos bem sucedidos de criação de espécies locais como a tiúba, a jandaíra e a uruçu. A comercialização do mel e colônias, os principais produtos aproveitados, geralmente é informal e sem regulamentação, e a demanda normalmente excede a oferta. Assim, a meliponicultura é um negócio com grande potencial de crescimento.

Abelhas sem ferrão

O Brasil conta com aproximadamente 250 espécies de abelhas sem ferrão descritas. Algumas destas espécies são criadas para a produção de mel, que tem sido cada vez mais valorizado para fins gastronômicos por apresentar características únicas de acordo com a espécie de abelha sem ferrão manejada e as flores que as operárias usam para buscar o néctar.

Além disso, elas cumprem um papel muito importante na reprodução das plantas nativas com flores, promovendo a polinização cruzada e, como consequência, a formação de frutos e sementes. Elas também contribuem para a polinização de plantas utilizadas na alimentação humana, como café, tomate, berinjela, urucum, coco, morango, goiaba, cupuaçu, açaí, camu-camu, entre outras, melhorando o rendimento e a qualidade dos frutos e sementes.

Sem a colaboração dessas abelhas, a reprodução de muitas plantas com flores seria impactada negativamente, ocasionando uma diminuição em suas populações, podendo inclusive chegar à extinção.

Classificação

As abelhas sem ferrão pertencem à família Apidae, tribo Meliponini, razão pela qual também são chamadas de meliponíneos. Apesar do nome, essas abelhas possuem ferrão, mas este é atrofiado e não possui função de defesa. No entanto, elas possuem outras maneiras de se defenderem, que vão desde morder e grudar nos cabelos, como a arapuá (Trigona spinipes), até liberar uma substância ácida que queima a pele, como a caga-fogo (Oxytrigona tataira).

Didaticamente, as abelhas sem ferrão se dividem em dois grupos, baseados principalmente no mecanismo de formação das rainhas. 

O primeiro grupo é caracterizado pela presença de célula real, uma célula de cria maior em altura e diâmetro das demais células, que recebe maior volume de alimento larval. É onde a rainha se desenvolve do ovo até um adulto. Esse grupo é o mais diverso em número de espécies e inclui os gêneros Trigona, Tetragonisca, Scaptotrigona, Nannotrigona, Oxytrigona, Cephalotrigona, Friesella, Plebeia, Schwarziana, Paratrigona e muitos outros. Nos gêneros Frieseomelitta e Leurotrigona não há a formação de células reais típicas, as larvas que se tornam rainhas ingerem uma quantidade extra de alimento depositado em uma célula acessória adjacente.

O segundo grupo é formado pelo gênero Melipona, caracterizado por não apresentar célula real. Todas as células de cria possuem o mesmo tamanho e contém similar volume de alimento larval. Assim, até 25% das larvas fêmeas de um favo de cria podem se desenvolver em rainhas. As espécies de Melipona são apreciadas pelos meliponicultores por sua alta capacidade de produção de mel, sendo que algumas espécies podem produzir até 8 litros de mel por colônia no ano quando manejadas adequadamente.

Essa diferença de formação de rainhas deve ser considerada pelo meliponicultor em sua rotina de aplicação do método de divisão de colônias. Na divisão de colônias de espécies do gênero Melipona, o meliponicultor não precisa se preocupar que os discos de cria nascente que ocuparão a nova caixa contenham células reais, ao passo que para a divisão de colônias das demais espécies, ele precisa se atentar para a presença de células reais nos discos.

Grande parte das espécies de abelhas sem ferrão, entre elas as mais conhecidas, como a jataí (Tetragonisca angustula), mandaguari (Scaptotrigona depilis), guaraipo (Melipona bicolor), jandaíra (Melipona subnitida), mandaçaia (Melipona quadrifasciata), tiúba (Melipona fasciculata) e uruçu (Melipona scutellaris), constroem seus ninhos em cavidades preexistentes em troncos de árvores. Outras constroem seus ninhos no solo, utilizando formigueiros e cupinzeiros abandonados, ou constroem ninhos aéreos presos a galhos ou paredes.

Distribuição

As abelhas sem ferrão ocupam grande parte das regiões de clima tropical do planeta. Ocupam também algumas importantes regiões de clima subtropical, como porções do Sul do Brasil e Argentina e o Norte do México. Também são encontradas nas florestas tropicais e savanas africanas, no extremo sul da Ásia, inclusive ilhas do Pacífico, e norte da Oceania, incluindo o nordeste australiano.

Desde o século XIX, houve diversas tentativas de aclimatação de abelhas sem ferrão em outras regiões do mundo. Em 1872, o naturalista francês Louis Jacques Brunet enviou colônias para a região de Bordeaux na França. Devido aos rigores do inverno europeu, as abelhas não sobreviveram por muito tempo.

Nos anos 50, algumas colônias foram enviadas para localidades norte-americanas no Arizona, Califórnia e Utah, entre outros. Algumas sobreviveram até oito anos.