UFC e USP investigam comportamento e ciclo biológico de abelha solitária

Atualmente são conhecidas mais de 20 mil espécies de abelhas, das quais quase 85% apresentam modo de vida solitário. Apesar da riqueza de espécies solitárias, ainda são escassos os estudos sobre o ciclo biológico e hábitos de nidificação da maioria dessas abelhas, limitando o entendimento de seus potenciais usos na polinização de cultivos agrícolas. Para se ter uma ideia da importância das abelhas solitárias para a agricultura, espécies do gênero Xylocopa e Centris são polinizadores de plantações de maracujá e acerola, dois cultivos essencialmente dependentes de polinização cruzada. No Canadá, nos EUA, no Japão e em países da Europa, Megachile rotundata e espécies de do gênero Osmia, pertencentes à família Megachilidae, são manejadas para a polinização de cultivos de pêra, maçã, amêndoa, cereja, damasco, pêssego e alfalfa.

A família Megachilidae é bastante diversa e no Brasil, a tribo Anthidiini parece muito promissora para estudos em polinização, mas ainda é um grupo com poucas informações disponíveis. Diante disso, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de São Paulo (USP) estudaram por 11 meses o ciclo de vida de Epanthidium tigrinum (Megachilidae: Anthidiini) visando fornecer informações sobre o comportamento da espécie para estudos futuros em polinização agrícola. O estudo foi realizado no campus da UFC em Fortaleza (CE).

Epanthidium-tigrinum / USG Chelsey Ritner
Epanthidium tigrinum / USG Chelsey Ritner

Como a espécie de abelha E. tigrinum constrói ninhos em cavidades preexistentes, os pesquisadores foram capazes de estudá-la a partir de ninhos construídos em ninhos armadilha feitos com papel cartão preto com 12 mm de comprimento e 4,5 mm de diâmetro. Esses ninhos armadilha foram distribuídos em seis blocos de madeira, que foram colocados em estruturas que os protegiam de chuva e raios solares diretos.

As fêmeas de E. tigrinum se reproduziram e construíram ninhos durante todo o tempo do experimento. Os pesquisadores constataram que as fêmeas iniciavam a atividade de coleta de recursos por volta das 7h50, concentrando a coleta de pólen e néctar no período da manhã e a coleta de resina no período da tarde, e demoraram, em média, 15 dias para completar a construção do ninho. A resina é utilizada pelas fêmeas como material de construção. O tempo médio de emergência da prole foi de 43 dias, a proporção de emergência foi de 1,2 machos para 1 fêmea e a taxa de mortalidade das larvas foi de apenas 18,5%. Também observaram que o número de ninhos construídos por fêmea variou de 1 a 4, com comprimento médio de 7,97 mm, e não foi observado o ataque de parasitas.

Diante de todas as informações descritas, os pesquisadores concluíram que E. tigrinum é um espécie de abelha solitária que possui potencial para ser criada racionalmente e manejada visando a polinização de cultivos agrícolas.

O artigo Bionomy and Nesting Behavior of the Bee Epanthidium tigrinum (Schrottky, 1905) (Hymenoptera: Megachilidae) in Trap-Nests, de Angela Maria S. Gomes, Cláudia Inês da Silva, Arianne Moreira Cavalcante, Epifânia Emanuela M. Rocha e Breno Magalhães Freitas, está disponível em http://periodicos.uefs.br/ojs/index.php/sociobiology/article/view/4759