Série Chamada Pública CNPq/MCTIC/IBAMA/A.B.E.L.H.A.- Marina Wolowski
Pesquisa avalia impacto do serviço de polinização na produtividade da cafeicultura
O Brasil é o principal produtor e exportador de café do mundo. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área cultivada no país com café totalizou 2,16 milhões hectares em 2018, dos quais 1,7 milhão de hectares ou 81% da área com lavouras de café no País são ocupados por Coffea arabica.
O Estado de Minas Gerais responde pela maior parte da produção, mais de 26,4 milhões de sacas em 2018, que ocuparam 1,2 milhão de hectares, ou 69,6% da área ocupada com café arábica em âmbito nacional. Os números vultosos denotam a importância da cultura, sobretudo para a região mineira.
De acordo com Marina Wolowski, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Alfenas, o café arábica pode produzir mais com a presença de polinizadores. Ela explica que a floração, em si, não depende de polinização: as plantas com flores florescem e na maioria das vezes, fatores climáticos são os gatilhos. No caso do café, a precipitação após o período de seca é o estímulo que leva as plantações a florescerem. Já o desenvolvimento das flores em frutos e sementes pode depender de polinizadores em diferentes níveis, fator que varia de uma espécie para outra.
Estudos estimam que o aumento da produtividade no café pode chegar a 30% com os polinizadores. Diante disso, a ciência busca responder algumas questões essenciais para o incremento da produção aliado à conservação da biodiversidade. Qual o impacto dos polinizadores na cafeicultura? Qual a importância da manutenção de hábitat para garantir recursos florais aos polinizadores? De que forma o uso indiscriminado de insumos pode aumentar o custo do produtor e frear o aumento da produtividade?
Marina coordena um projeto que busca estimar o papel das abelhas na polinização do café arábica no Sul de Minas. A pesquisa é uma das selecionadas por meio da Chamada Pública nº32/2017 do CNPq e financiadas em parceria entre CNPq, Ibama, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.).
Conservação e produtividade
“Estamos examinando quase 30 propriedades em diferentes cidades, que apresentam cenários diversos, desde características de relevo, incluindo as paisagens montanhosas da região, até sistemas de produção orgânica e agroflorestal”, destaca. “Consideramos os aspectos da biodiversidade e da diversidade de polinizadores nas áreas de plantio e no entorno e o quanto tais condições impactam a produtividade”.
O café floresce de agosto a novembro, com picos de floradas a cada cinco dias, o que requer planejamento estruturado e padronização de metodologia para coletar os dados em todas as propriedades. Nesse período, além de verificar as características das áreas cultivadas – por exemplo, a presença de outros recursos florais e plantas de interesse comercial, como frutíferas e hortaliças –, os pesquisadores buscam determinar a quantidade de frutos e sementes produzidos em flores expostas aos polinizadores contra flores isoladas – o que virá a ser um indicativo do déficit de polinizadores na natureza local.
Contribuição para a sociedade
“Ao comparar o número de flores polinizadas com o de flores isoladas, teremos dados sobre o incremento de quantidade e da qualidade (tamanho) dos frutos de café”, comenta Marina. Ela ressalta ainda que os produtores são muito receptivos e que, com eles, os pesquisadores desenvolveram uma relação bastante amigável, pois existe uma demanda por informação técnica e científica. “Trata-se de impacto direto do trabalho da Academia na rotina dos produtores, especialmente considerando as certificações internacionais e orgânica do café”.
Ampliar o acesso à informação científica e contribuir para a conservação no meio ambiente é a essência do trabalho da pesquisa. “Buscamos demonstrar aos produtores que o serviço de polinização beneficia a produção e, para tanto, a manutenção de áreas para polinizadores é essencial. É um ganho para toda sociedade”.
Resumo
Linha de Pesquisa 5 – Avaliação bioeconômica do serviço de polinização na produtividade agrícola por cultura relevante
Projeto de pesquisa – Avaliação bioeconômica do serviço de polinização na cafeicultura ao longo de um gradiente de sustentabilidade de métodos de cultivo
Rede de parceiros
Produtores de café do Sul de Minas Gerais
Associação de Cafés Orgânicos e Sustentáveis do Brasil
Universidade Federal de Alfenas
Universidade Federal do Paraná
Universidade Federal dos Vales Murici e Jequitinhonha
Universidade de São Paulo
Universidade Federal de Goiás
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso