Produção agrícola

A polinização é um serviço ambiental que permite a manutenção da biodiversidade ao participar do processo de reprodução das plantas com flores. Avaliações atuais evidenciam inúmeros benefícios que os polinizadores animais promovem aos seres humanos, incluindo a participação na melhora da produção e qualidade de frutos e sementes consumidos na dieta humana por realizarem a polinização cruzada. Assim, a conservação dos polinizadores se faz necessária para garantir o aumento sustentável da produtividade agrícola e o fornecimento seguro e diversificado de frutos e sementes para uma dieta balanceada, pois cultivos dependentes de polinizadores animais são as principais fontes de muitos micronutrientes, como as vitaminas A e C.

Globalmente, 75% dos cultivos agrícolas dependem ou são beneficiados pela polinização realizada pelas abelhas e outros animais. No Brasil, mais de 60% das plantas cultivadas para a produção de alimentos apresentam algum grau de dependência por polinização animal, incluindo frutíferas, leguminosas, oleaginosas e outras culturas com alto valor agregado, como a castanha-do-Brasil, o cacau e o café. Do ponto de vista monetário, o benefício causado pelos polinizadores na agricultura mundial foi estimado entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões, anualmente. No Brasil, foi calculado que a polinização relacionada à produção agrícola tem um valor anual de US$ 12 bilhões. Esse valor refere-se ao montante que os agricultores teriam de gastar caso não houvesse polinizadores animais.

As abelhas são os polinizadores de cultivos mais importantes e representam 87% das espécies de polinizadores que garantem parte da produção agrícola brasileira.

A conclusão é que as abelhas e a agricultura tem um caráter complementar, com benefícios para todos os envolvidos. Enquanto as abelhas conseguem o néctar e o pólen necessários para alimentação e produção de mel, a agricultura se beneficia da polinização que melhora o rendimento e a qualidade de frutos e sementes.

O desenvolvimento da agricultura, com a consequente ampliação da área cultivada e diminuição das áreas de mata nativa, o crescimento de cultivos extensivos em grandes áreas, entre outras técnicas de plantio, e o uso de defensivos agrícolas de forma incorreta acabam provocando abalos nessa relação, que é a base da nossa cadeia alimentar.

Vários estudos, compilados pelo relatório da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas (IPBES) em 2016 sobre Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos, mostraram que espécies de abelhas silvestres estão em declínio em várias regiões do planeta, o que significa que algumas espécies não são mais encontradas em determinados locais e outras estão menos abundantes na natureza, comparado com estudos de levantamento no passado. Sendo assim, as ações propostas pelo relatório e todo esse contexto mundial de perda de biodiversidade representam uma grande oportunidade para promover mudanças nos sistemas de produção agrícola e uma melhor relação com a atividade de criação de abelhas e outras ações de conservação da biodiversidade.

Polinização animal

abelha polen flor amarela

De acordo com o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil, publicado em 2019, de 191 plantas cultivadas ou silvestres utilizadas direta ou indiretamente na produção de alimentos em solo brasileiro, 144 (75%) são visitadas por animais, alguns dos quais atuam como polinizadores.Para que se pudesse ter uma dimensão da dependência por polinizadores, pesquisadores realizaram uma revisão baseada em 57 trabalhos publicados na literatura científica mundial sobre o tema. 

Os trabalhos citaram 85 culturas como apresentando algum grau de dependência da polinização animal, sendo que mais de um terço dessas culturas (30 culturas) foram citadas como apresentando dependência essencial ou grande de polinizadores.

Em 2017, a revista científica Apidologie publicou um outro estudo que apresenta uma revisão de 249 publicações científicas sobre os polinizadores de culturas com interesse econômico. O valor econômico da polinização é calculado com base na dependência de cada cultura pelo processo e o valor de produção anual. 

No Brasil – Foram identificados os polinizadores de 75 culturas agrícolas brasileiras. Esses polinizadores estão distribuídos em 250 espécies de animais, sendo que 87% são abelhas.

* Dados do Catálogo de Abelhas Moure

Fonte: Tereza Giannini, pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável – ITVDS

Quadro 1. Espécies de abelhas que foram citadas como polinizadores efetivos do maior número de culturas agrícolas, bem como suas distribuições geográficas e o grau de dependência de cada cultura por polinizador animal. As espécies em negrito destacam-se por serem citadas como polinizadores de muitas culturas que apresentam dependência essencial ou grande por polinização animal (ver também Quadro 2).

quadro 1Quadro 2. Espécies de abelhas que foram citadas como polinizadores efetivos do maior número de culturas agrícolas que apresentam dependência essencial ou grande por polinização animal. As espécies em negrito também foram citadas no Quadro 1.

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Quadro 3. Espécies de abelhas que foram citadas como polinizadores efetivos ou potenciais de culturas com alto valor econômico de produção. As espécies em negrito também foram citadas nos Quadros 1 e 2.

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Quadro 4. Espécies de abelhas que merecem destaque devido à sua múltipla importância na polinização agrícola e ampla distribuição geográfica. Foram citadas em pelo menos um dos 3 quadros acima.

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Polinização assistida

Em muitas situações, a polinização oferecida pela natureza não basta para obter boa produção agrícola. Isso ocorre, por exemplo, em áreas de cultivos extensas, distantes das áreas de vegetação nativa ou em áreas cultivadas com paisagem nativa muito deteriorada. Neste cenário, a aquisição de ninhos de abelhas para introduzir nas plantações durante a floração é uma solução viável para mitigar o déficit de polinização.

A utilização de uma espécie de abelha como polinizadora em cultivos requer conhecimentos sobre sua biologia e comportamento de coleta de recursos florais, além de reproduzí-la em larga escala. A espécie de abelha mais utilizada no mundo para serviços de polinização comercial é a Apis mellifera. No Brasil, a polinização assistida por meio do aluguel de colmeias de A. mellifera tem sido comumente usada em duas culturas de grande expressão econômica: maçã, especialmente em Santa Catarina, e o melão, principalmente nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte. O aluguel de colmeias tem gerado bons negócios para os apicultores, que cobram em torno de R$ 50 mensais por colmeia. Colmeias de jataí (Tetragonisca angustula) e mandaguari (Scaptotrigona depilis), espécies de abelha sem ferrão, têm sido usadas para a polinização de morango e café, respectivamente.

Em países como EUA e da Europa, onde a polinização assistida é mais comum, outros polinizadores além da A. mellifera são usados, destacando-se as mamangavas-de-chão (Bombus spp.) e as abelhas solitárias dos gêneros Megachile e Osmia. Na Europa, a utilização da espécie de abelha Bombus terrestris na polinização de tomate, berinjela e pimentão em estufas resultou no aumento da qualidade desses frutos e no desenvolvimento de biofábricas para criação em larga escala e venda de suas colônias.

A polinização assistida pode causar impactos ambientais negativos quando praticada de forma inadequada, assim, precisa ser realizada tomando cuidados de trânsito controlado e regular de colmeias, evitando o transporte de espécies de abelhas para locais onde não ocorrem naturalmente. Devido a questões sanitárias, devem ser deslocadas colmeias saudáveis para que não ocorra a disseminação de parasitas e patógenos. 

Por outro lado, a prática de polinização assistida tem ajudado na conscientização dos agricultores quanto a adoção de práticas amigáveis às abelhas e ao uso correto de defensivos agrícolas, uma vez que a presença dos polinizadores é vital para melhorar a produção e a qualidade de frutos e sementes em seus cultivos.