No Semiárido brasileiro, é tradicional em grande número de pequenas propriedades o plantio das melancias, chamadas popularmente de crioulas, que são próprias para o consumo das famílias dos agricultores. Contudo, a recente expansão do cultivo de melancia forrageira nessas mesmas áreas, para compor a base de alimentação dos rebanhos na seca, está criando um sério problema genético.
A atividade polinizadora de insetos como as abelhas nas flores dos dois cultivos acabam levando genes dominantes das forrageiras para as crioulas. O resultado é a geração de frutos híbridos com características próprias das melancias destinadas ao consumo dos animais: de casca amarelada, polpas mais amargas e duras.
Para solucionar o problema, a pesquisadora Rita de Cássia Souza Dias, da Embrapa Semiárido, apresenta uma alternativa simples, barata e acessível aos agricultores. Ela explica um modo de fazer uma polinização manual controlada, que já usa em suas pesquisas, e foi adaptada para o sistema produtivo agroecológico.
O método é simples: o agricultor fixa a uma pequena estaca uma garrafa pet cortada ao meio e com pequenos furos no fundo. Com esse objeto, cobre as flores masculinas e femininas das melancias crioulas. Esse procedimento deve ser realizado um dia antes da abertura delas, o que acontece até 32 dias depois do plantio.
No dia seguinte, quando as flores se abrem, o agricultor retira com as mãos a flor que fornece o pólen e encosta levemente nas pétalas femininas. Após isso, torna a cobrir por mais dois dias a flor geradora do fruto, cuja base é mais arredondada.
Rita de Cássia explica que o agricultor pode aplicar esse mecanismo em até dez pares de flores. Assim, no próximo plantio, terá sementes livres da influência de genes forrageiros. “Se métodos como esse não forem aplicados, corre-se o risco das famílias se obrigarem a recorrer às variedades comerciais das melancias de mesa, mais exigentes de adubos e insumos químicos que encarecem a produção”, observa a pesquisadora.
Fonte: Nordeste Rural