Cientistas ainda não sabem qual é exatamente a origem da síndrome respiratória aguda grave 2 (Sars-CoV-2), mas uma das hipóteses mais populares é que ela veio dos morcegos. Pesquisadores já apontaram que esses mamíferos e o coronavírus convivem há milhões de anos. Além disso, os bichinhos são conhecidos por hospedar outros tipos de vírus, como o Nipah e o Ebola. Mas afinal, por que esses bichinhos são mais resistentes a vírus do que os humanos?
Há algumas explicações para isso. Segundo um estudo publicado no Emerging Infections Diseases, morcegos liberam muita energia quando voam, o que faz com que a temperatura do corpo deles fique entre 38 °C e 41 °C. Os patógenos que evoluíram nesses animais suportam esse calor; o que não acontece no organismo humano. Nosso sistema imunológico aprendeu a usar temperaturas elevadas como uma forma de inabilitar patógenos. É por isso que temos febre.
Uma equipe de cientistas liderada pela Faculdade de Medicina Duke – NUS, em Cingapura, também identificou mecanismos genéticos e moleculares que podem explicar por que morcegos são tão tolerantes a vírus que matam outros animais. No organismo desses mamíferos voadores, a proteína NLRP3, responsável por ativar uma resposta inflamatória de combate a infecções, mal reage quando encontra uma carga viral. Assim, o corpo dos morcegos consegue limitar inflamações.
Já o organismo dos humanos têm uma resposta inflamatória muito mais intensa. Quando controlado, esse mecanismo é ótimo para lutar contra infecções; mas ele também pode causar muitos danos no nosso corpo.
Um terceiro estudo, publicado no site eLife, trouxe mais uma hipótese: para conseguirem atacar o sistema imunológico dos morcegos, alguns vírus acabaram aprendendo a se espalhar rapidamente pelas células. Então, ao infectarem animais que não têm um sistema imunológico tão forte quanto o dos morcegos, esses microrganismos acabam causando mais danos.
Cientistas continuarão tentando entender o que está por trás da resistência dos morcegos a tantos vírus que são letais para outros mamíferos. Mas eles têm certeza de uma coisa: exterminar os bichinhos não é uma saída para a prevenção de epidemias.
Morcegos comem insetos, o que ajuda a proteger plantações de pragas. Além disso, eles são responsáveis por espalhar sementes, como as de figueiras, e por polinizar plantas. Assim, exterminar morcegos é desequilibrar ecossistemas.
Livia Loureiro, pesquisadora da Universidade de Toronto (Canadá), destaca que esses animais também podem trazer a solução para a Covid-19 e outras doenças. Para ela, morcegos não merecem a má reputação que têm, e devem ser protegidos. “Mesmo se for comprovado que morcegos são a origem desse vírus, eles não devem ser culpados pela disseminação da Sars-CoV-2 – humanos que são os culpados. Nós destruímos habitats naturais em uma velocidade frenética; nós matamos espécies ameaçadas de extinção, o que muda cadeias alimentares inteiras; nós poluímos o ar, a água e o solo”, afirma Loureiro no site The Conversation.
Fonte: Revista Galileu, Emerging Infectuous Diseases, Duke NUS e eLife