Manejo produtivo

Na apicultura, colmeias populosas, saudáveis e produtivas em mel são sustentadas principalmente por cinco pilares que, quando trabalhados de forma adequada pelo apicultor, geram bons retornos financeiros. O primeiro pilar é o conhecimento sobre as abelhas, pois, para se tornar um apicultor de sucesso, é necessário aprender o máximo sobre elas, seu comportamento e seu papel na natureza. Ao conhecer o seu instrumento vivo de trabalho, o apicultor será capaz de tomar decisões que visem à melhora de sua produção. Os demais pilares são localização dos apiários, gestão da atividade apícola, manejo produtivo das colmeias e associativismo.

Veja abaixo um resumo dos principais tópicos a serem considerados na criação e produção de mel pela espécie de abelha Apis mellifera.

Localização

Definir onde será posicionado o apiário é uma das decisões mais importantes do apicultor. Alguns fatores devem guiar essa decisão, que interferem nos rendimentos pretendidos, na praticidade dos trabalhos e na segurança das pessoas e outros animais. Para se ter sucesso nesse empreendimento, o apicultor precisa levar em consideração a flora apícola, a presença de locais abrigados por árvores ou cercas-viva (conhecidos como quebra-ventos), sombreamento, topografia, condições do ambiente, facilidade de acesso e segurança.

As campeiras podem realizar a coleta de alimento num raio médio de 3 km, porém, quanto maior a proximidade das fontes florais das colmeias, maiores serão as chances do apicultor obter uma boa produção. Portanto, recomenda-se que a flora apícola (ou pasto apícola) seja rica e abundante num raio de 1,5 km do apiário, além de ser composta por espécies de plantas que apresentam complementaridade na floração para que exista alimento disponível ao longo do ano. Durante o ano, as campeiras de abelhas africanizadas podem coletar alimento em até 50 espécies de plantas diferentes.

A distância que as abelhas percorrem para a coleta de néctar e pólen impacta diretamente na produção de mel, pois, se as operárias precisam voar longas distâncias para procurar fontes de alimento, elas gastam muito mais tempo e energia para retornarem para suas colmeias, em relação àquelas operárias que voam para locais mais próximos. Consequentemente, quanto mais as abelhas trabalham, maior o desgaste e menor o tempo de vida. 

No caso da apicultura fixa principalmente, é necessário que os apiários sejam instalados com uma distância mínima de 3 km um do outro para evitar o superpovoamento de áreas. Lembrando que em um espaço com muitas abelhas e poucas flores, por exemplo, há maior competitividade pelo uso do alimento e, consequentemente, o apicultor produzirá menos.

A localização de fonte de água também é muito importante. O ideal é que ela esteja no máximo a 500 m do apiário. Caso o terreno não ofereça essa opção, é necessário fornecer água potável em bebedouros. A água é uma fonte essencial para manter o equilíbrio térmico da colônia, pois é usada para refrigerar o ninho quando a temperatura externa está muito elevada.

A localização do apiário também deve respeitar uma distância mínima de 3 km de estabelecimentos (sorveterias, aterros sanitários, lixões, lagoas de decantação de resíduos, engenho, entre outros) onde as abelhas podem coletar recursos diferentes do pólen e néctar e, assim, contaminar o mel a ser produzido.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) também estabelece a separação mínima de 1 km entre apiários e áreas experimentais para plantio de organismos geneticamente modificados (OGM).

Por questões de segurança, também é importante observar a distância em que as colmeias ficarão posicionadas em relação a casas e outros locais frequentados por pessoas. O ideal é uma distância mínima de 400 m, que também deve ser observada em relação a criação de outros animais.

Por último, é importante ressaltar que o apicultor não deve instalar apiários em propriedades de terceiros sem autorização. O diálogo entre apicultores e agricultores é importante para a existência de uma relação mais produtiva entre as atividades, podendo evitar o ataque de abelhas aos colaboradores e mortalidade desses insetos pelo uso de defensivos agrícolas.

Gestão das atividades apícolas

Cada colmeia é uma fábrica de produtos (mel, pólen, cera, própolis, geleia real e apitoxina) e uma prestadora de serviços de polinização que gera retorno financeiro para o apicultor. Quando uma colmeia morre, enxameia ou produz pouco, dificilmente cobrirá os custos do apicultor com a produção. Dessa maneira, para obter uma boa produtividade, é importante considerar uma programação anual de manejo. Assim, o apicultor poderá organizar melhor a gestão de suas despesas, receitas e de seu tempo de dedicação aos apiários. Existem diferentes períodos de floradas para os diferentes Estados brasileiros e a construção de um calendário apícola com a previsão da época de realização das principais práticas é uma boa forma de gestão na apicultura para a produção de mel.

Floradas

O conhecimento sobre as floradas da região deve guiar a maior parte das ações de manejo, já que a produção estará diretamente ligada ao máximo aproveitamento dos períodos de floradas.

Para alcançar o maior rendimento possível, as colmeias precisam estar populosas e sadias no período de floração da planta que se deseja explorar o mel. Para isso, o apicultor precisa sincronizar o manejo das colmeias com a época adequada à sua realização. Manejos realizados fora de época comprometem a produção e reduzem o lucro dos apicultores.

A diversidade da florada é um fator essencial para a instalação e manutenção de um apiário. Há a necessidade de identificar as espécies de plantas do entorno, plantar espécies nativas da região que disponibilizem pólen, néctar e resinas e plantar espécies que possuem períodos de floração complementares a fim de prover recursos alimentares por todo o ano.

Se possível, evitar a dependência de monoculturas, já que essas ofertam recursos em curtos períodos de tempo ao longo do ano e há o risco de contaminação dos enxames pela aplicação de defensivos agrícolas.

Materiais

A Confederação Brasileira de Apicultura (CBA) adota o padrão de colmeias Langstroth, que permite que as partes externas sejam impermeabilizadas com parafina de grau alimentar ou cera de abelha, que devem ser diluídas em óleos vegetais.

As indumentárias e utensílios apícolas devem ser mantidos limpos, em perfeito estado de conservação e guardados em local livre de contaminantes, como defensivos agrícolas, combustível e fertilizantes.

O material que será utilizado no fumigador deve ser de origem vegetal e não pode ser tratado com produtos químicos, devendo proporcionar fumaça fria, densa e sem cheiro forte.

Todos os procedimentos de limpeza e higiene devem estar descritos para que as pessoas envolvidas sigam os mesmos passos.

Registro dos apiários

As colmeias devem ser numeradas de forma progressiva para permitir os registros de produção individualizados. A numeração deve ser feita no ninho, em local de fácil visualização. O apiário também tem de ser identificado por número ou nome, para permitir a rastreabilidade da produção.

A área de entorno do apiário deve ser conhecida, devendo-se relatar a existência de culturas intensivas nas proximidades do apiário, principalmente quando se fizer uso de defensivos agrícolas na área. Para evitar o risco de acidentes, recomenda-se a prática de manejos especiais durante as pulverizações.

As colmeias ou os apiários também precisam ser marcados em caso de enfermidades. Nestas situações, o apicultor deve procurar ajuda técnica especializada para saber quais as medidas recomendadas para a situação.

Manejo produtivo das colmeias

Práticas gerais de manejo produtivo requerem o fortalecimento de colmeias nos meses anteriores às grandes floradas, trocas anuais de rainha e trocas de ceras velhas e escuras. 

Apesar de mais frequentes durante as floradas, as revisões devem ser rápidas, cuidadosas e as colmeias não devem ser manipuladas excessivamente, pois se trata do período em que as operárias estão trabalhando intensamente no armazenamento de alimento, atividade que deve ser preservada. No período de menor disponibilidade de flores no ambiente, conhecido como inverno ou entressafra, o manejo deve limitar-se principalmente à alimentação suplementar energética e/ou protéica para evitar que as colônias enfraqueçam demasiadamente. É natural nessa época do ano que a população de abelhas diminua devido à escassez de alimento no campo. Ainda em alguns municípios brasileiros, em razão do frio, é recomendado diminuir o alvado. Os apicultores também devem realizar a retirada de melgueiras vazias, pois essa prática auxilia na regulação da temperatura interna do ninho pelas abelhas.

Cada colmeia é única e se desenvolve de acordo com sua aptidão e as relações que estabelece com o ambiente. Contudo, existem determinados comportamentos identificados nas colmeias que nos dão pistas de como elas estão se desenvolvendo e nos indicam quais decisões devemos tomar para mantê-las saudáveis, populosas e produtivas. Com o quadro de tomada de decisões abaixo, espera-se que o apicultor se torne autônomo em suas decisões no momento de inspeção das colmeias. Não existe um único caminho para solucionar determinada situação observada. A decisão dependerá dos objetivos da produção e das práticas de manejo produtivo conhecidas.

Durante as inspeções, que devem ser rápidas para evitar impactos negativos nas colmeias, devem ser observados os seguintes aspectos:

  • Presença de alimento (mel e pólen) e de crias (ovo, larva, pupa);
  • Presença da rainha e avaliação de sua postura (presença da rainha ou observação da ocorrência de ovos nas áreas de cria);
  • Existência de espaço suficiente para o desenvolvimento da colmeia e armazenamento do alimento;
  • Presença de realeira;
  • Sinais de ocorrência de doenças, pragas ou predadores;
  • Estado de conservação de quadros, caixas, fundos, tampas e suportes das colmeias.

 

Situação observada Indicação Decisões a serem tomadas
Ausência de postura e presença de realeira Rainha morreu 1. Observar se haverá reposição natural a partir da realeira presente na colmeia ou

2. Retirar a realeira e introduzir uma rainha virgem selecionada

Ausência de postura e presença da rainha 1. Colmeia pode estar passando fome ou

2. Presença de rainha com mais de dois anos de idade

1. Oferecer alimentação suplementar energética e proteica ou

2. Trocar a rainha

Presença de postura, realeira e rainha, população grande de operárias fora da colmeia formando “barba” Colmeia irá enxamear 1. Retirar a realeira e aumentar o espaço da colmeia com sobreninho ou melgueira com favos novos ou

2. Dividir o enxame

Ausência de postura, realeira e rainha Rainha morreu e colmeia está sem condições de produzir uma nova rainha virgem 1. Introduzir uma realeira ou

2. Introduzir uma rainha virgem selecionada ou

3. Colocar quadros de favos com ovos ou larvas de até três dias para a colmeia puxar uma nova rainha

Colmeia com população pequena (fraca) 1. Enxame se dividiu naturalmente ou

2. Falta de alimento no campo ou

3. Presença de rainha com mais de dois anos de idade

1. Retirar quadros com crias fechadas prestes a emergirem de colmeias populosas e introduzi-los na colmeia fraca e/ou

2. Oferecer alimentação suplementar energética e proteica e/ou

3. Substituir a rainha atual por uma rainha virgem nova ou

4. Unir enxames

Postura nos quadros das melgueiras 1. Falta de espaço no ninho ou

2. Presença de favos velhos no ninho

1. Aumentar o espaço da colmeia pela adição de sobreninho ou melgueira ou

2. Substituir os quadros com favos velhos por quadros com favos novos

Falhas na área de cria 1. Presença de rainha com mais de dois anos de idade ou

2. Sinais de doença

1. Substituir a rainha atual por uma rainha virgem nova ou

2. Marcar as colmeias atingidas, procurar ajuda técnica para confirmar o diagnóstico e desinfetar as ferramentas antes de usá-las nas colmeias saudáveis

Larvas mortas nos favos e abelhas mortas no assoalho da caixa Sinais de doença Marcar as colmeias atingidas, procurar ajuda técnica para confirmar o diagnóstico e desinfetar as ferramentas antes de usá-las nas colmeias saudáveis
Quadros danificados ou quadros com cera velha   Transferir os quadros para as laterais da colmeia, esperar o nascimento das abelhas e substituí-los por quadros com cera alveolada

 

A rainha

A rainha cumpre um papel fundamental na condução da colmeia e sua atuação deve ser acompanhada com atenção, pois pode ser necessário trocá-la por uma mais jovem. Geralmente, recomenda-se a troca anual de rainhas.

Uma rainha jovem e de boa genética garante um crescimento rápido da colônia, enquanto uma rainha velha pode demorar para responder ao estímulo da florada para aumentar a taxa de postura de ovos, o que vai prejudicar o crescimento da população e a produção.

Para sua substituição, o apicultor deve utilizar os serviços de criadores idôneos que façam uma seleção criteriosa para a produção de rainhas a partir de larvas provenientes de colônias com características desejadas pelo apicultor, por exemplo, boa produtiva em mel, baixa defensividade e alto comportamento higiênico.

A troca deve ser realizada em um momento apropriado, pois a substituição resulta em mudança de comportamento da colônia. Uma troca numa colmeia que está em plena produção pode fazer com que as operárias armazenem mel nos favos de cria, diminuindo o espaço disponível para a postura.

Melhoramento genético

Atualmente existem diversas técnicas de melhoramento genético das abelhas, mas a mais simples está no acompanhamento e seleção de material genético superior em produtividade de matrizes e na substituição periódica de rainhas. Para identificar as colmeias com melhor desempenho, é preciso usar métodos padronizados e confiáveis. Na avaliação da produtividade do mel e do pólen, por exemplo, um registro deve acompanhar a quantidade por colmeia. Observam-se também outras qualidades importantes, como comportamento higiênico e defensividade.

O melhoramento genético por inseminação artificial é vantajoso, pois o apicultor também possui controle sobre a linhagem dos machos, mas são necessários equipamentos especiais e profissionais treinados. Mesmo diante do custo, o melhoramento genético pode promover avanços na produção, se aliado às técnicas de manejo adequadas.

Manutenção das colmeias

Um dos principais desafios para o apicultor é garantir a continuidade de suas colmeias nos períodos em que ocorre escassez de alimento no campo, conhecidos como entressafra.

Oferecer alimentação suplementar é uma forma de impedir que as abelhas abandonem as colmeias ou diminuam drasticamente em número de indivíduos. Na falta de néctar, aconselha-se a utilização de xarope com 50% de açúcar ou mais. Para a suplementação de pólen existem diferentes dietas sendo testadas por pesquisadores, principalmente com relação aos nutrientes e palatabilidade para as abelhas.

Colocar rapadura nas colmeias não é recomendável. É um alimento muito seco e duro, que demorará para ser consumido e que vai acabar atraindo inimigos naturais como formigas.

A união de colmeias também é uma medida interessante para que fiquem mais populosas. Assim, diminui-se o número de colmeias, mas aumenta o número de operárias disponíveis para a coleta de alimento. Normalmente, as colmeias mais populosas são as mais produtivas e as que menos apresentam problemas.

Associativismo

As associações são importantes espaços para o compartilhamento de conhecimento e troca de experiências. Organizados, os apicultores podem buscar uma melhor profissionalização e, dessa forma, serem mais competitivos, principalmente na comercialização do mel e demais produtos das abelhas.