A macieira (Malus domestica) é uma árvore que pertence à família Rosaceae e é originada da Ásia Central. No Brasil, ela é cultivada na Bahia, em Minas Gerais, em São Paulo, no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Quanto à forma de cultivo, os pomares de macieiras são cultivados em plantações abertas (Klein et al. 2020).
Polinização por animais
A macieira é um cultivo altamente dependente de polinização cruzada para a fecundação das flores, sendo assim, necessita da visita de polinizadores para gerar frutos. As flores da macieira disponibilizam néctar e pólen e são bastante atrativas para várias espécies de insetos, principalmente as abelhas. Ao visitarem as flores, os polinizadores realizam a transferência de pólen (que contém o gameta masculino) de uma flor até a parte feminina de outra – o que garante a fecundação e, logo, a formação do fruto. O pólen das flores da macieira é muito pesado para ser transferido pelo vento (Klein et al. 2020).
Por ser altamente dependente de polinização cruzada, se todo um pomar de macieiras fosse isolado e suas flores não recebessem visitas de seus polinizadores, uma pequena porcentagem das flores vingariam frutos por autopolinização, porém, haveria uma redução de 40% a 90% na produção de maçãs, além de serem de pior qualidade. Em geral, as flores da macieira necessitam de pólen de outras variedades compatíveis, denominadas polinizadoras, para que possam frutificar (Klein et al. 2020).
Visita das abelhas
De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), o período de floração da macieira ocorre de setembro a outubro ‒ nos Estados de PR, RS e SC, que somam 99% da área de produção. Já a colheita, de dezembro a maio ‒ sendo que mais de 90% ocorre entre fevereiro e abril. As principais variedades cultivadas no Brasil são Gala e Fuji, que perfazem 95% do volume de produção. Os 5% remanescentes são quase que integralmente de Pink Lady e Eva.
A abelha-africanizada (Apis mellifera) e a mandaçaia (Melipona quadrifasciata) são polinizadores da macieira, sendo a primeira o polinizador mais importante e usado pelos produtores nos pomares (Giannini et al. 2020; Klein et al. 2020). Outras espécies de abelhas, como as do gênero Bombus, conhecidas popularmente como mamangavas-de-chão, abelhas sem ferrão (Schwarziana quadripunctata e Trigona spinipes) e espécies solitárias também visitam as flores da macieira (Nunes-Silva et al. 2020).
Ganhos para os dois lados
Os produtores de maçã utilizam fortemente o serviço de polinização comercial por meio do aluguel de colmeias da abelha-africanizada. Em São Joaquim (SC) e Vacaria (RS), principais municípios com produção de maçã no Brasil, são utilizadas, em média, três colmeias por hectare (Rosa et al. 2017) a um custo de R$ 80,00 por colmeia, segundo a ABPM.
Para conhecer mais sobre a polinização das flores de macieira, confira o vídeo que trata de sua florada e a atividade das abelhas nos pomares.
Produção, exportação e importação
A produção brasileira de maçã em 2019, segundo dados do IBGE, foi de 1,2 milhões de toneladas, com um valor de produção de mais de R$ 1,8 bilhão (valor pago aos produtores). Os polinizadores, principalmente as abelhas, contribuíram com quase R$ 1,2 bilhão desse valor de produção (cálculo realizado com base na metodologia de Giannini et al. 2015), que corresponde ao montante que os produtores deixariam de ganhar sem o serviço de polinização realizado pelas abelhas.
Segundo a ABPM, em 2019 também foram comercializadas 188,4 mil toneladas de maçã para a indústria de processamento, entre elas a de suco, totalizando um faturamento de R$ 47,1 milhões.
De acordo com o IBGE, os três Estados líderes em produção são todos da região Sul e somaram 99% da produção brasileira em 2019. O Rio Grande do Sul liderou com 49% da produção (603,3 mil toneladas), seguido por Santa Catarina com 48% (585,8 mil toneladas) e Paraná com 2% da produção (26,2 mil toneladas). No nível municipal, São Joaquim (SC) e Vacaria (RS) foram os maiores produtores de maçã, somando 320 mil e 275,4 mil toneladas, respectivamente.
O Brasil também é um exportador de maçãs. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Comex Stat – MDIC), em 2019, o Brasil exportou quase 57 mil toneladas de maçãs (que correspondeu a 5% da produção total no mesmo ano) para 81 países, entre eles Bangladesh (34% do total exportado), Índia (12%) e Rússia (10%). As exportações de maçã totalizaram US$ 42,5 milhões. O Estado que mais exportou a fruta foi o Rio Grande do Sul (41,9 mil toneladas, somando US$ 31,7 milhões).
Além da fruta in natura, o País também exportou aproximadamente 14,2 mil toneladas de suco de maçã para 56 países em 2019 (Comex Stat – MDIC). O principal destino foi Estados Unidos (62% do total exportado), seguido por Japão (21%) e Alemanha (11%). As exportações de suco de maçã totalizaram US$ 16,2 milhões. O Estado que mais exportou o suco da fruta foi Santa Catarina (10,4 mil toneladas, com um valor de exportação de US$ 11,7 milhões).
O Brasil também importa maçãs. Em 2019, foram 78,4 mil toneladas de maçãs vindas principalmente da Argentina (35,5% das importações) e Chile (25%) (Comex Stat – MDIC).
Práticas amigáveis aos polinizadores
Além do uso de colmeias da abelha-africanizada para a polinização das flores de macieira, é possível manejar os pomares e o entorno para promover a permanência dos visitantes florais e polinizadores nas propriedades. Assim os produtores podem obter melhores resultados na produção e qualidade dos frutos. As abelhas são tão importantes para a macieira que há um cuidado enorme dos produtores com elas.
Em 2016, a Embrapa lançou um Comunicado Técnico assinado por nove pesquisadores que apresenta 17 recomendações para melhorar o manejo dos polinizadores nos cultivos de macieira (Nunes-Silva et al. 2016), alguns dos quais apresentamos abaixo.
Uma das recomendações é disponibilizar uma grande diversidade de plantas em áreas no entorno das plantações, o que inclui também conservar e recompor Áreas de Proteção Permanente (APPs) e de Reserva Legal (RLs), dando preferência às espécies de plantas nativas que disponibilizam recursos alimentares e substratos para a construção de ninhos pelos polinizadores. É importante identificar as espécies de plantas visitadas pelas abelhas nos diferentes meses do ano e incorporá-las na propriedade. No entanto, esse manejo da vegetação deve ser feito de forma a não competir com a floração da macieira para evitar o desvio de polinizadores das plantações.
A pulverização de defensivos agrícolas deve ser evitada quando os polinizadores estiverem presentes nos pomares, mas, se o tratamento fitossanitário for indispensável para evitar danos econômicos na lavoura, cuidados especiais devem ser adotados para não atingir as abelhas e outros polinizadores, como dar preferência a técnicas agronômicas de Manejo Integrado de Pragas, Doenças e Plantas Daninhas.
A pulverização deve ser realizada com produtos de baixa toxicidade para as abelhas, ao entardecer ou à noite, quando elas não estão em atividade no campo. É essencial seguir todas as recomendações presentes nos rótulos e bulas, observando rigorosamente as boas práticas de tecnologia de aplicação dos produtos, incluindo medidas para evitar a deriva.
A exposição das colmeias aos defensivos agrícolas pode ser evitada com a comunicação entre agricultores, apicultores, vizinhos e profissionais da agricultura, permitindo a tomada de decisões em comum acordo, incluindo a remoção das colmeias antes das pulverizações nos casos em que tal manejo for necessário.
É importante destacar que alguns produtores de maçã possuem colmeias próprias da abelha-africanizada para a polinização de seus pomares. Durante os meses em que as colmeias não estão em atividade nas plantações, elas passam por revisões periódicas e recebem o manejo mais adequado conforme a época do ano. Assim, se mantêm populosas e saudáveis para a próxima safra de polinização.
Veja, no vídeo abaixo, uma visita a um apiário de produtores e todos os cuidados que possuem com as colmeias.
Texto produzido pela Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), em colaboração com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (ABRAFRUTAS) e a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM).
Referências
Comex Stat – Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) (2019) Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home. Acesso em: 25 jan 2021.
Giannini TC et al. (2015) The Dependence of Crops for Pollinators and the Economic Value of Pollination in Brazil. Journal of Economic Entomology 108, 849-857.
Giannini TC et al. (2020) Unveiling the contribution of bee pollinators to Brazilian crops with implications for bee management. Apidologie 51, 406-421.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa da Pecuária Municipal (2019) Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9117-producao-agricola-municipal-culturas-temporarias-e-permanentes.html?=&t=sobre. Acesso em: 25 jan. 2021.
Klein AM et al. (2020) A Polinização Agrícola por Insetos no Brasil. Um Guia para Fazendeiros, Agricultores, Extensionistas, Políticos e Conservacionistas. Albert-Ludwigs University Freiburg, Nature Conservation and Landscape Ecology.
Nunes-Silva P et al. (2016) Visitantes Florais e Potenciais Polinizadores da Cultura da Macieira. Comunicado Técnico, 184, Embrapa.
Nunes-Silva P et al. (2020) Diversity of Floral Visitors in Apple Orchards: Influence on Fruit Characteristics Depends on Apple Cultivar. Neotropical Entomology 49, 511-524.
Rosa JM et al. (2017) Diagnosis of directed pollination services in apple orchards in Brazil. Revista Brasileira de Fruticultura 40, e-234.