Livro aponta papel da ciência brasileira no combate à fome

Foi lançado nesta quinta-feira (14), na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, o livro Segurança Alimentar e Nutricional: O Papel da Ciência Brasileira no Combate à Fome, com o resultado do trabalho de 41 autores de 23 instituições de pesquisa, sobre o quadro da fome no Brasil. Entre os pesquisadores, estão dois integrantes do comitê científico da Associação A.B.E.L.H.A.: Vera Lucia Imperatriz-Fonseca, professora emérita do Instituto de Biociências da USP, e Décio Luiz Gazzoni, da Embrapa Soja. 

A publicação aponta como a ciência pode ajudar a agricultura, o poder público e outros setores da sociedade a enfrentar a insegurança alimentar, um problema que se agravou no país em meio à pandemia da covid-19 e que pode piorar nos próximos anos, com os impactos das mudanças climáticas.

Entre outras medidas, os autores recomendam a cooperação entre diferentes campos da ciência como forma de melhorar a produção de alimentos, valorizar a agricultura familiar e permitir parcerias entre governos, empresas e terceiro setor.

No capítulo em que é coautora, a bióloga Imperatriz-Fonseca mostra como a bioeconomia na Amazônia pode contribuir para a segurança alimentar dos povos originários e comunidades tradicionais. No artigo é citada a importância dos polinizadores para a produção agrícola na região. 

“Entre as 161 espécies [de plantas comestíveis] avaliadas, 54% dependiam das abelhas e 14% de besouros. Os polinizadores são essenciais para a produção de açaí (Euterpe oleracea), castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa), cacau (Theobroma cacao), babaçu (Attalea speciosa), guaraná (Paullinia cupana), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), bacuri (Platonia insignis), buriti (Mauritia flexuosa), andiroba (Carapa guianensis), copaíba (Copaifera langsdorffii), entre outros”, escrevem os autores.

Já Gazzoni escreve, em coautoria com Sílvia Crestana, da Embrapa Instrumentação Agropecuária, sobre o investimento público em ciências agrárias e retorno dado à erradicação da fome. 

Segundo os autores, “desde 1997, a Embrapa calcula, anualmente, o lucro social, ou seja, o retorno para a sociedade dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento da agropecuária, executados pela instituição. Em 2021, foi efetuado um balanço de 25 anos de investimento no setor, concluindo-se por um lucro social de R$ 1,2 trilhão, que retornaram à sociedade cerca de R$ 12 para cada R$ 1 investido na Embrapa.”

capa livro papel ciencia combate fomeMariangela Hungria, integrante da diretoria da ABC e pesquisadora da Embrapa, organizadora da publicação, ressalta que o Brasil é capaz de produzir alimentos para 1 bilhão de pessoas, mas ao mesmo tempo tem milhões de pessoas passando fome. “Uma das mensagens principais é que a ciência pode fazer muita coisa, mas que é um problema de múltiplas causas. É preciso fazer um trabalho em conjunto para resolver esse problema. Exige a união do setor produtivo, governo, terceiro setor”, defende.

Atualmente, o Brasil é o quarto maior produtor de alimentos do mundo. Mesmo assim, dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional apontam que, em 2021 e 2022, mais de 33 milhões de pessoas viviam em situação de insegurança alimentar grave, caracterizada por privação de alimentos e fome. 

Entre as propostas apresentadas no livro, estão o investimento em agricultura sustentável e regenerativa como forma de garantir melhor uso dos recursos; a adoção de políticas de prevenção de desastres e de gestão de riscos climáticos; o incentivo aos pequenos agricultores; a adoção de política de renda mínima que garanta a segurança alimentar e o investimento em educação no campo.

“Praticamente metade do que a gente come vem da agricultura familiar. É essa agricultura que mais precisa de ciência. É preciso dar suporte ao agricultor. A extensão hoje está desmantelada no país. O agricultor familiar precisa do auxílio para ter as melhores técnicas, ter crédito”, defende Mariangela. “Na agricultura regenerativa, o lema é produzir cada vez mais com menos. Menos água, menos terra, menos esforço humano. Isso precisa de muita ciência para chegar a esse ponto”.

Segundo a pesquisadora, é importante ter uma ciência de dados robusta para reunir as pessoas que estão em insegurança alimentar com os programas de transferência de renda.

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O lançamento do livro foi transmitido pela Academia Brasileira de Ciências via YouTube

Com informações da Agência Brasil.