Laranja

Hortifruti da estação: laranja

 

A laranjeira (Citrus sinensis) é uma árvore que pertence à família Rutaceae e é originada do Sudeste da Ásia. No Brasil, ela é cultivada em todos os Estados, com destaque para Bahia, Minas Gerais, Paraná e São Paulo. Quanto à forma de cultivo, os pomares de laranjeiras são cultivados em plantações abertas (Klein et al. 2020).

Polinização por animais

A laranjeira é classificada como um cultivo que apresenta dependência moderada de polinização cruzada. Isso em razão de algumas variedades se beneficiarem desse serviço realizado por insetos, que podem promover um aumento de 10% a 40% na produção de frutos (Giannini et al. 2015; BPBES 2019). Ao visitarem as flores, os polinizadores realizam a transferência de pólen (que contém o gameta masculino) de uma flor até a parte feminina de outra – o que garante a fecundação e, logo, a formação do fruto.

Um exemplo de variedade que se beneficia da polinização cruzada é a Pera Rio, cuja produção de frutos aumenta em 35% quando suas flores são visitadas por polinizadores (Malerbo-Souza et al. 2003). Para se ter uma ideia da importância da Pera Rio para a citricultura brasileira, em 2020 foi a variedade mais cultivada (35% das árvores) no cinturão citrícola, segundo inventário realizado pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus 2020). O chamado cinturão citrícola brasileiro abrange  grandes produtores de laranja localizados em  municípios dos Estados de São Paulo e Minas Gerais.

Na Pera Rio, a polinização cruzada realizada pelos insetos também resulta em frutos mais pesados, mais doces e com maior número de sementes — embora um maior número de sementes possa diminuir o valor de mercado dependendo de como o fruto será usado. As flores da laranjeira disponibilizam néctar e pólen e são bastante atrativas para várias espécies de insetos, principalmente as abelhas, que coletam preferencialmente o néctar (Malerbo-Souza et al. 2003; Klein et al. 2020).

Visita das abelhas

O período de floração geralmente ocorre de setembro a novembro e a colheita, de fevereiro a junho, dependendo da variedade e Estado em que é cultivada. Além da Pera Rio, outras variedades cultivadas no Brasil incluem: Baianinha, Charmute de Brotas, Hamlin, João Nunes, Natal, Pineapple, Rubi, Seleta, Valência, Valência Americana, Valência Folha Murcha e Westin (Klein et al. 2020). Mas a dependência de polinização cruzada varia de acordo com a variedade.

Abelha africanizada Apis mellifera em flor de laranjeira
Apis mellifera em flor de laranjeira. Crédito Denise de Araújo Alves

A abelha-africanizada (Apis mellifera) e duas espécies de abelhas sem ferrão, a jataí (Tetragonisca angustula) e a arapuá (Trigona spinipes), são exemplos de polinizadores da laranjeira — sendo a abelha-africanizada o polinizador mais frequente nas flores. Outros insetos que visitam com bastante frequência as flores de laranjeira são as borboletas (Malerbo-Souza e Halak 2013; Giannini et al. 2020).

Ganhos para os dois lados

Os produtores de laranja não costumam utilizar o serviço comercial de polinização para aumentar a produção de frutos. Mas a oportunidade é grande, já que a cultura da laranja é uma das mais importantes para o setor apícola no Estado de São Paulo e é muito procurada pelos apicultores durante o período de floração para a instalação de colmeias visando a produção de mel. O néctar das flores de laranjeira é altamente atrativo para as abelhas-africanizadas. Sendo assim, é comum o estabelecimento de parcerias entre produtores de laranja e apicultores para a produção de mel de laranjeira, um dos mais apreciados pela suavidade do sabor.

Produção, exportação e importação

laranjas redO Brasil é o maior produtor de laranja do mundo. A produção brasileira em 2019, segundo dados do IBGE, foi de 17 milhões de toneladas, com um valor de produção de mais de R$9,5 bilhões. Os polinizadores, principalmente as abelhas, contribuíram com quase R$2,4 bilhões do valor total de produção de 2019 (cálculo realizado com base na metodologia de Giannini et al. 2015), que corresponde ao montante que os produtores deixariam de ganhar sem o serviço de polinização realizado pelas abelhas.

De acordo com o IBGE, os maiores produtores foram os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, que somaram 88% da produção brasileira em 2019. São Paulo liderou com 78% da produção (13,2 milhões de toneladas), seguido por Minas Gerais com 6% (989 mil toneladas) e Paraná com 4% da produção (694,4 mil toneladas). Os municípios paulistas de Casa Branca (508,2 mil toneladas), Colômbia (377,3 mil toneladas) e Santa Cruz do Rio Pardo (366,4 mil toneladas) foram os maiores produtores de laranja.

O Brasil também é um exportador de laranjas. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Comex Stat – MDIC), em 2019, o Brasil exportou quase 3 mil toneladas de laranjas in natura (que correspondeu a 0,2% da produção total no mesmo ano) para 79 países, entre eles Ucrânia (68% do total exportado), Holanda (16%) e Reino Unido (3%). As exportações de laranja totalizaram mais de US$1,5 milhão. O Estado que mais exportou a fruta foi São Paulo (2,5 mil toneladas, somando US$1,3 milhão).

suco de laranja redO país é o maior exportador de suco de laranja do mundo, com uma venda de mais de 2,2 milhões de toneladas para 86 países, em 2019. Metade do suco de laranja produzido no mundo é feito com laranjas brasileiras. O principal destino foi Bélgica (39% do total exportado), seguido por Estados Unidos (27%) e Holanda (26%). As exportações de suco de laranja totalizaram mais de US$1,9 bilhão. Quase a totalidade de suco de laranja exportado teve origem em São Paulo (2,18 milhões de toneladas, com um valor de exportação de US$1,8 bilhão) (Comex Stat – MDIC).

O Brasil também importa laranjas. Em 2019, foram 30,6 mil toneladas de laranjas vindas principalmente da Espanha (65% das importações) e Uruguai (25%) (Comex Stat – MDIC).

Práticas amigáveis aos polinizadores

Como os cultivos de laranja são de especial interesse para os apicultores para a produção de mel, ações conjuntas e acordadas entre o citricultor e o apicultor são importantes para a convivência harmônica das atividades, com ganhos para ambos. Além da exploração do mel, essa convivência também contribui para a promoção da polinização dos cultivos pelas abelhas e para a obtenção de mais frutos e de melhor qualidade em algumas variedades. 

A relação entre citricultura e apicultura pode ser harmônica com a adoção de boas práticas:

Boas práticas do citricultor

  • Manter diálogo contínuo e analisar o melhor local em sua propriedade para a instalação de apiários e indicar ao apicultor;
  • Notificar com antecedência os apicultores que possuem apiários em sua propriedade e propriedades vizinhas quando da aplicação de defensivos agrícolas;
  • Evitar a pulverização de defensivos agrícolas no período de floração. Se o tratamento fitossanitário for indispensável para evitar danos econômicos na lavoura, cuidados especiais devem ser adotados para não atingir as abelhas, como dar preferência a técnicas agronômicas de Manejo Integrado de Pragas (MIP);
  • Realizar a pulverização com produtos de baixa toxicidade para as abelhas, ao entardecer ou à noite, quando elas não estão em atividade no campo. É essencial seguir todas as recomendações presentes nos rótulos e bulas, observando rigorosamente as boas práticas de tecnologia de aplicação dos produtos, incluindo medidas para evitar a deriva (porção do defensivo aplicado que não atinge o alvo desejado);
  • Conservar e recompor Áreas de Preservação Permanente (APPs), Reserva Legal (RLs) e aumentar a área de cobertura florestal ao redor dos cultivos para que exista oferta de alimento ao longo do ano e substratos para a construção de ninhos pelos polinizadores silvestres;
  • Manter as plantas herbáceas das entrelinhas dos cultivos para auxiliar no fornecimento de alimento para as abelhas.

Boa práticas do apicultor

  • Manter diálogo contínuo e instalar o apiário nos locais seguros de comum acordo com o proprietário da área;
  • Contatar o proprietário da área para fornecer a localização do apiário e o número de colmeias instaladas;
  • Manter os dados pessoais atualizados junto aos citricultores parceiros, assim como a localização do apiário e o número de colmeias, e avisar sempre que houver mudanças na localização e número de colmeias;
  • Informar aos agricultores que operam nas propriedades vizinhas sobre a localização do apiário;
  • Sinalizar a propriedade com placas, a uma distância mínima de 200 m do apiário, sobre a existência de colmeias para garantir a segurança dos colaboradores que trabalham na área;
  • Notificar o proprietário sempre que precisar ir à propriedade para visitar o apiário e realizar manejos nas colmeias;
  • Tomar as providências com as colmeias de acordo com os avisos de pulverização enviados pelo proprietário da área, que inclui a transferência das colmeias para áreas seguras ou fechamento das colmeias antes, durante e algum tempo após a pulverização;
  • Cadastrar-se na Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura estadual para fins de identificação da atividade e monitoramento de sanidade apícola.

No site do Fundecitrus está disponível gratuitamente um manual de boas práticas entre citricultura e apicultura, desenvolvido por pesquisadores da entidade em parceria com pesquisadores da UNESP, e apoio do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg). O manual traz informações e dicas para a conservação das abelhas, cuidados com a aplicação de defensivos agrícolas, além de incentivar a boa relação entre os citricultores e os apicultores.

Texto produzido pela Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), em colaboração com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (ABRAFRUTAS), Associação Brasileira de Citros de Mesa (ABCM) e o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).

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Referências

Comex Stat – Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) (2019) Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home. Acesso em: 11 fev 2021.

BPBES (2019) Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil. Disponível em: https://www.bpbes.net.br/wp-content/uploads/2019/03/BPBES_CompletoPolinizacao-2.pdf.

Fundecitrus (2020) Inventário de árvores e estimativa da safra de laranja no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro. Disponível em: https://www.fundecitrus.com.br/pdf/pes_relatorios/2020_05_26_Invent%C3%A1rio_e_Estimativa_do_Cinturao_Citricola_2020-20212.pdf.

Giannini TC et al. (2015) The Dependence of Crops for Pollinators and the Economic Value of Pollination in Brazil. Journal of Economic Entomology 108, 849-857.

Giannini TC et al. (2020) Unveiling the contribution of bee pollinators to Brazilian crops with implications for bee management. Apidologie 51, 406-421.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Agrícola Municipal (2019) Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9117-producao-agricola-municipal-culturas-temporarias-e-permanentes.html?=&t=sobre. Acesso em: 11 fev 2021.

Klein AM et al. (2020) A Polinização Agrícola por Insetos no Brasil. Um Guia para Fazendeiros, Agricultores, Extensionistas, Políticos e Conservacionistas. Albert-Ludwigs University Freiburg, Nature Conservation and Landscape Ecology.

Malerbo-Souza DT et al. (2003) Polinização em cultura de laranja (Citrus sinensis L. Osbeck, var. Pera-Rio). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science 40, 237-242.

Malerbo-Souza DT e Halak A (2013) Efeito da interação abelha-flor na produção de frutos em cultura de laranja (Citrus sinensis L. Osbeck). Zootecnia Tropical 31, 78-93.