Caqui

O caquizeiro (Diospyros kaki) é uma árvore originada da China que pertence à família Ebenaceae. No Brasil, é cultivado principalmente nas regiões Sul e Sudeste, em plantações abertas (Klein et al. 2020).

Polinização por animais

A biologia floral do caquizeiro é muito peculiar, pois, dependendo da variedade, pode apresentar três tipos de flores (femininas, masculinas e hermafroditas) na mesma planta ou apenas um tipo. Na maioria das variedades comerciais, ocorrem apenas flores femininas e a frutificação pode se dar por partenocarpia, que é a produção de frutos sem sementes, formados sem a ocorrência da polinização. Assim, o caqui é classificado como um cultivo que apresenta baixa dependência de animais polinizadores para a fecundação das flores (Campos et al. 2015; Giannini et al. 2015; Klein et al. 2020).

Dois exemplos de variedades que possuem apenas flores femininas e produzem frutos partenocárpicos são a Giombo e a Fuyu, esta última uma das mais cultivadas no Brasil. Porém, diferentemente da Giombo, a produção de frutos partenocárpicos em Fuyu é baixa. Nesta variedade, a frutificação é melhorada com a inclusão no pomar de plantas de caqui que possuem flores com produção de pólen, denominadas polinizadoras, como ocorre na macieira (Campos et al. 2015; Klein et al. 2020). A variedade polinizadora fornece o pólen que irá fecundar as flores femininas por meio da polinização, resultando na formação de caquis com sementes. Quando há formação de sementes, o pegamento dos frutos é maior e a queda destes diminui em 50% durante seu desenvolvimento, aumentando a produtividade (Tombolato 1989; Teixeira 2006). Como opção, pode-se utilizar a variedade Pomelo como polinizadora no pomar (Campos et al. 2015).

Na prática, além da presença de plantas polinizadoras, também é necessário a presença de insetos polinizadores que, ao visitarem as flores, realizam a transferência de pólen entre os diferentes indivíduos do pomar – o que garante a fecundação e, logo, a formação do fruto.

Flor de caqui site
Crédito: Salomé Bielsa, alguns direitos reservado (CC BY-NC-SA 2.0)

Visita das abelhas

Diferentes espécies de abelhas visitam as flores do caquizeiro, principalmente a abelha-africanizada (Apis mellifera), que atua como um polinizador (Campos et al. 2015; Giannini et al. 2020).

O período de floração ocorre de setembro a dezembro e o de colheita, de fevereiro a junho. Além de Fuyu e Giombo, outras variedades cultivadas no Brasil são: Costata, Hachiya, Kaoru, Mikado, Okira, Pomelo, Rama Forte, Regina, Rubi e Taubaté (Klein et al. 2020).

Ganhos para os dois lados

Para a produção de variedades como a Fuyu, recomenda-se a manutenção de abelhas nos pomares (Teixeira 2006).

Não é comum o manejo de abelhas ou o uso do serviço de polinização comercial pelos produtores de caqui. Esse serviço ambiental acontece de forma natural, por abelhas que habitam as matas da propriedade ou abelhas manejadas por apicultores que podem estar nas proximidades das plantações em busca de vegetação para a produção de mel.

Em um pomar de pequena escala, as flores podem ser polinizadas manualmente, transferindo o pólen entre flores de plantas diferentes, para melhorar a produção de caqui. Porém, para a melhora da produção em pomares de maior escala, a polinização manual é mais dispendiosa. Neste caso, há a oportunidade para o estabelecimento de parcerias com apicultores, dado que a abelha-africanizada é um polinizador e pode ser manejado para visitar as plantações. Assim, o apicultor pode gerar renda alugando colmeias para os produtores.

Mas, vale destacar, que, para obter sucesso na introdução de colmeias para uma polinização agrícola adequada, é preciso planejamento com base nas características das variedades cultivadas e das abelhas. Também é importante evidenciar que, em um contexto de parceria, com o aluguel de colmeias pelos produtores de caqui, é essencial a existência de comunicação contínua com os apicultores para uma convivência sinérgica e produtiva, permitindo a tomada de decisões em comum acordo, incluindo a transferência das colmeias para áreas seguras ou fechamento das colmeias antes, durante e algum tempo após a pulverização de defensivos nos casos em que tal manejo for necessário.

Produção e Exportação

A produção brasileira de caqui em 2020, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 158,7 mil toneladas, com um valor de produção de R$ 344,1 milhões. Os polinizadores contribuíram com R$ 17,2 milhões do valor total de produção de 2020 (cálculo realizado com base na metodologia de Giannini et al. 2015), que corresponde ao montante que os produtores deixariam de ganhar sem o serviço de polinização realizado pelas abelhas.

De acordo com o IBGE, os maiores produtores foram São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que somaram 82% da produção brasileira em 2020. O Estado de São Paulo liderou com 49% da produção (78,1 mil toneladas), seguido por Rio Grande do Sul, com 22% (34,2 mil toneladas), e Minas Gerais, com 11% da produção (17,3 mil toneladas). Os municípios de São Miguel Arcanjo (SP) (16,5 mil toneladas), Caxias do Sul (RS) (14,2 mil toneladas) e Mogi das Cruzes (SP) (9,5 mil toneladas), foram os maiores produtores de caqui.

O Brasil também é um exportador do fruto. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (ABRAFRUTAS), com dados compilados do sistema AGROSTAT/MAPA, o Brasil exportou quase 138 toneladas de caqui em 2020. Já em 2021, houve um aumento de 563% nas exportações (912 toneladas), com um faturamento de mais de US$ 1 milhão.

caquizeiro site
Crédito: HeungSoon por Pixabay

Práticas amigáveis aos polinizadores

Além do potencial uso de colmeias da abelha-africanizada para a polinização das flores do caquizeiro, é essencial adotar práticas de manejo para promover a atração e a permanência das abelhas e outros polinizadores nas propriedades, pois sua presença melhora a produção de frutos para determinadas variedades. Vale ressaltar que ações de melhoria na qualidade dos hábitats para os polinizadores também promovem a melhoria de outros serviços ambientais, como a regulação natural de populações de pragas, a proteção dos mananciais de água e a fertilidade do solo.

As abelhas não sobrevivem apenas com os recursos disponibilizados pelos cultivos, assim é fundamental que existam na propriedade fontes alternativas de pólen e néctar no período em que as plantações de caqui não estão florescendo. A conservação e a recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RLs), conforme determina o Código Florestal Brasileiro, bem como o plantio de espécies de plantas nativas ao redor dos cultivos, fornecem alimento ao longo do ano e substratos para a construção de ninhos pelos polinizadores.

A pulverização de defensivos agrícolas deve ser evitada no período de floração, mas se o tratamento fitossanitário for indispensável para evitar danos econômicos na lavoura, cuidados especiais devem ser adotados para não atingir os polinizadores, como dar preferência a técnicas agronômicas de Manejo Integrado de Pragas (MIP). Além disso, a pulverização deve ser realizada com produtos de baixa toxicidade para as abelhas, ao final da tarde ou pela noite, quando elas não estão em atividade no campo.

É essencial seguir todas as recomendações presentes nos rótulos e bulas, observando rigorosamente as boas práticas de tecnologia de aplicação dos produtos, incluindo medidas para evitar a deriva (porção do defensivo aplicado que não atinge o alvo desejado).

Em um contexto de parceria com o agricultor, vale ressaltar que o apicultor deve adotar as melhores práticas de manejo apícola, de acordo com a época do ano, visando à manutenção de colmeias populosas, saudáveis e adequadas para a polinização das plantações.

Texto produzido pela Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.)

Referências

Campos SS et al. (2015) Biologia floral e viabilidade de pólen em cultivares de caquizeiro (Diospyros kaki L.)  e Diospyros virginiania L. Revista Brasileira de Fruticultura 37, 685-691.

Giannini TC et al. (2015) The Dependence of Crops for Pollinators and the Economic Value of Pollination in Brazil. Journal of Economic Entomology 108, 849-857.

Giannini TC et al. (2020) Unveiling the contribution of bee pollinators to Brazilian crops with implications for bee management. Apidologie 51, 406-421.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agrícola Municipal (2019) Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9117-producao-agricola-municipal-culturas-temporarias-e-permanentes.html?=&t=sobre. Acesso em: 25 abr. 2021.

Klein AM et al. (2020) A Polinização Agrícola por Insetos no Brasil. Um Guia para Fazendeiros, Agricultores, Extensionistas, Políticos e Conservacionistas. Albert-Ludwigs University Freiburg, Nature Conservation and Landscape Ecology.

Teixeira AJ (2006) A cultura do caquizeiro na região serrana fluminense. Sebrae: Rio de Janeiro.

Tombolato AFC (1989) Polinização e formação de sementes em caquizeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira 24, 991-996.