Acerola

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Acerola

A aceroleira (Malpighia emarginata) é um arbusto que pertence à família Malpighiaceae e é originária das Antilhas, na América Central, e do norte da América do Sul. No Brasil, é cultivada principalmente na região Nordeste, em plantações abertas, sendo uma frutífera de elevado interesse pelo alto teor de ácido ascórbico (Vitamina C) dos frutos (Sazan et al. 2014; Klein et al. 2020).

AcerolaTambém possui valor ornamental e é comumente cultivada de forma isolada nas cidades, em quintais, jardins, calçadas e praças, e seus frutos são consumidos por outros animais, como pássaros.

Polinização por animais

A aceroleira apresenta flores autoincompatíveis, ou seja, o grão de pólen produzido por uma flor não pode fecundá-la ou fecundar as outras flores da mesma planta. Para a formação de frutos é necessário que o pólen seja trocado entre indivíduos diferentes, assim, a aceroleira é um cultivo essencialmente dependente de polinização cruzada para a fecundação das flores (Sazan et al. 2014; Giannini et al. 2015; BPBES 2019).

Ao visitarem as flores, os polinizadores realizam a transferência de pólen (que contém o gameta masculino) de uma flor até a parte feminina de outra – o que garante a fecundação e, logo, a formação do fruto.

Por ser essencialmente dependente de polinização cruzada, se toda uma plantação de aceroleira fosse isolada e suas flores não recebessem visitas de seus polinizadores, haveria uma redução de mais de 90% na produção de acerolas. Ao visitarem as flores, os polinizadores realizam a transferência de pólen (que contém o gameta masculino) de uma flor até a parte feminina de outra – o que garante a fecundação e, logo, a formação do fruto.

Na aceroleira, a polinização cruzada é realizada por abelhas, que também contribuem para a formação de frutos mais pesados – o vento é ineficiente na polinização, pois os grãos de pólen são pegajosos (Oliveira et al. 2015).

Visita das abelhas

abelha de óleo em flor de aceroleira
Abelha-de-óleo (Centris analis) em flor de aceroleira. Crédito: (c) Tiago Felipe

As flores da aceroleira disponibilizam dois atrativos aos visitantes: óleo floral e pólen, sendo o néctar um recurso escasso nas flores dessa planta. As espécies de abelhas dos gêneros Centris, a exemplo de Centris aenea, C. analis e C. tarsata, e Epicharis, entre elas a Epicharis flava, visitam regularmente as flores de acerola para coletar principalmente o óleo floral e são os melhores polinizadores (Freitas et al. 1999; Vilhena e Augusto 2007; Siqueira et al. 2011; Oliveira et al. 2015). Essas abelhas, conhecidas popularmente como abelhas-de-óleo, são solitárias e usam o óleo floral para alimentação das larvas e como material de construção dos ninhos (Alves-dos-Santos et al. 2007).

Os períodos de floração e colheita da acerola ocorrem durante o ano todo.  As principais variedades cultivadas no Brasil são: C. F. Rehnborg, F. Haley Red Jumbo, Hawaiian Queen, J. H. Beaumont, Manoa Sweet, Maunawili e Tropical Ruby (Klein et al. 2020).

Manejo de polinizadores

Abelha de óleo construindo ninho em um ninho armadilha de bambu
Abelha-de-óleo (Centris-sp.) construindo ninho em um ninho armadilha de bambu. Foto: Cristiano Menezes.

A avaliação da presença de abelhas-de-óleo em pomares de acerola é fundamental para a obtenção de boas colheitas, pois, na ausência ou baixa população dos polinizadores, é possível realizar um manejo com ninhos-armadilha para a atração de fêmeas das espécies que fazem ninhos em cavidades preexistentes, como a Centris analis (Oliveira e Schlindwein 2009). Em um estudo no Ceará sobre a produção de acerola com a introdução de ninhos-armadilha de C. analis, verificou-se um aumento de 186% na produção de frutos, com 1798 kg/ha a mais de frutos em áreas nas quais os ninhos foram introduzidos, em comparação a áreas sem a introdução desses ninhos (Magalhães e Freitas 2013).

Ninhos armadilha de bambu
Ninhos armadilha de bambu ocupados por-abelhas de óleo Centris-sp. Crédito: Cristiano-Menezes

Os ninhos-armadilha para C. analis podem ser feitos com cartolina preta para evitar a passagem de luz, gomos de bambu ou qualquer outro tipo de substrato linear que apresente um diâmetro de 0,6 cm e comprimento variável entre 6 cm e 10 cm. Os ninhos-armadilha para atração de fêmeas de C. tarsata, outro polinizador, também podem ser produzidos com gomos de bambu, fechados em uma das extremidades pelo próprio nó, com no mínimo 0,8 cm de diâmetro. As armadilhas devem ser inseridas em tubos de PVC para proteção do sol e da chuva (Sazan et al. 2014).

Os ninhos-armadilha podem ser colocados na borda do cultivo ou na borda de um fragmento de mata próximo ao cultivo. No caso do uso de defensivos agrícolas, a recomendação é instalar os ninhos-armadilha a uma distância de 50 a 100 metros da plantação (Sazan et al. 2014).

Produção

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não disponibiliza dados sobre a produção brasileira anual de acerola em sua Pesquisa Agrícola Municipal (PAM). Os últimos dados disponíveis são do Censo Agropecuário de 2017, realizado pelo IBGE, quando 6646 estabelecimentos produziram quase 61 mil toneladas de acerola, com um valor de produção de R$91,6 milhões. Os polinizadores contribuíram com mais de R$87 milhões do valor total de produção (cálculo realizado com base na metodologia de Giannini et al. 2015), que corresponde ao montante que os produtores deixariam de ganhar sem o serviço de polinização realizado pelas abelhas.

De acordo com o Censo Agropecuário, os maiores produtores foram Pernambuco, Ceará e Sergipe, que somaram 56% da produção brasileira. O Estado de Pernambuco liderou com 35% da produção (21,3 mil toneladas), seguido por Ceará, com 12% (7,5 mil toneladas) e Sergipe, com 9% da produção (5,4 mil toneladas).

Práticas amigáveis aos polinizadores

Como a aceroleira é essencialmente dependente da visita de polinizadores para gerar frutos, os produtores de acerola devem adotar práticas de manejo para promover a atração e a permanência das abelhas em suas propriedades, pois a presença de uma maior diversidade de polinizadores aumenta significativamente a produção de frutos.

Pelo fato da aceroleira não produzir néctar, as abelhas necessitam obter este recurso a partir de outras plantas. Além disso, os polinizadores também precisam de fontes alternativas de pólen e óleo floral no período em que a aceroleira não está florescendo. Assim, é fundamental a conservação e a recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RLs), bem como o plantio de outras espécies de plantas cultivadas e nativas ao redor dos cultivos, para o fornecimento de alimento ao longo do ano e substratos para a construção de ninhos pelos polinizadores. Uma importante fonte alternativa de óleo floral são as diversas espécies do gênero Byrsonima, conhecidas popularmente como murici.

No livro Manejo de Polinizadores da Aceroleira, organizado pela pesquisadora Morgana Silveira Sazan e colaboradores, é apresentado um calendário de floração de plantas visitadas por diferentes polinizadores da aceroleira para a coleta de pólen, néctar e óleo floral.

Outros polinizadores da aceroleira, a exemplo de Centris aenea e Epicharis flava, constroem seus ninhos no chão, de forma que a conservação do solo e o uso do plantio direto – evitando aração e gradeação – são práticas importantes para a manutenção dessas abelhas na propriedade. Enquanto a C. aenea escava seus ninhos em superfícies planas, principalmente de argila ou outros solos duros (Aguiar e Gaglianone 2003), a E. flava nidifica preferencialmente em solo plano, arenoso e compactado sob forte incidência de luz solar (Silva et al. 2014).

O sistema de irrigação adotado nas plantações é um fator que interfere na atratividade da florada, portanto é importante adotar um método de irrigação que não influencie a visita das abelhas nas flores. Na irrigação do tipo aspersão por canhão as abelhas não visitam as flores e permanecem assim por mais de uma hora após o término da irrigação, pois os grãos de pólen em contato com a água tornam-se pesados e aglutinados, dificultando a fixação no corpo do polinizador (Siqueira et al. 2011).

A pulverização de defensivos agrícolas deve ser evitada no período de floração, mas se o tratamento fitossanitário for indispensável para evitar danos econômicos na plantação, cuidados especiais devem ser adotados para não atingir as abelhas, como dar preferência a técnicas agronômicas de Manejo Integrado de Pragas (MIP).

A pulverização deve ser realizada com produtos de baixa toxicidade para as abelhas, ao final da tarde ou pela noite, quando elas não estão em atividade no campo. Foi observado que as abelhas começam a visitar as flores da aceroleira por volta de 5h30, estendendo-se até às 17h, com maior abundância de polinizadores no período da manhã (Freitas et al. 1999; Siqueira et al. 2011).

É essencial seguir todas as recomendações presentes nos rótulos e bulas, observando rigorosamente as boas práticas de tecnologia de aplicação dos produtos, incluindo medidas para evitar a deriva (porção do defensivo aplicado que não atinge o alvo desejado).

Texto produzido pela Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), em colaboração com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (ABRAFRUTAS).patrocinadores texto caju

 

Referências

Aguiar CML e Gaglianone MC (2003) Nesting biology of Centris (Centris) aenea Lepeletier (Hymenoptera, Apidae, Centridini). Rev. Bras. Zool. 20, 601-606.

Alves-dos-Santos I et al. (2007) História natural das abelhas coletoras de óleo. Oecologia brasiliensis 11, 544-557.

BPBES (2019) Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil. Disponível em: https://www.bpbes.net.br/wp-content/uploads/2019/03/BPBES_CompletoPolinizacao-2.pdf.

Freitas BM et al. (1999) Pollination requirements of West Indian cherry (Malpighia emarginata) and its putative pollinators, Centris bees, in NE Brazil. Journal of Agricultural Science 133, 303-311.

Giannini TC et al. (2015) The Dependence of Crops for Pollinators and the Economic Value of Pollination in Brazil. Journal of Economic Entomology 108, 849-857.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário (2017) Disponível em: https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/. Acesso em: 25 out 2021.

Klein AM et al. (2020) A Polinização Agrícola por Insetos no Brasil. Um Guia para Fazendeiros, Agricultores, Extensionistas, Políticos e Conservacionistas. Albert-Ludwigs University Freiburg, Nature Conservation and Landscape Ecology.

Magalhães CB e Freitas BM (2013) Introducing nests of the oil-collecting bee Centris analis (Hymenoptera: Apidae: Centridini) for pollination of acerola (Malpighia emarginata) increases yield. Apidologie 44, 234-239.

Oliveira JEM et al. (2015) Contribuição da polinização entomófila para a produção de frutos de aceroleira. Pesq. Agropec. Trop. 45, 56-65.

Oliveira R e Schlindwein C (2009) Searching for a manageable pollinator for Acerola orchards: the solitary oil-collecting bee Centris analis (Hymenoptera: Apidae: Centridini). J Econ Entomol. 102, 265-273.

Sazan MS et al. (2014) Manejo dos Polinizadores da Aceroleira. Ribeirão Preto, SP: Editora Holos.

Silva CI et al. (2014) Manejo dos Polinizadores e Polinização de flores do Maracujazeiro. São Paulo, SP: IEA.

Siqueira KMM et al. (2011) Estudo comparativo da polinização em variedades de aceroleiras (Malpighia emarginata DC, Malpighiaceae). Revista Caatinga 24, 18-25.

Vilhena AMGF e Augusto SG (2007) Polinizadores da aceroleira Malpighia emarginata DC (Malpighiaceae) em área de cerrado no Triângulo Mineiro. Biosci. J. 23, 14-23.