No último sábado, o universo das ciências ficou mais triste: morreu em Ribeirão Preto (SP), aos 96 anos, o geneticista Warwick Estevam Kerr, um dos maiores especialistas em abelhas do mundo e referência para a formação de mestres e doutores em pesquisas científicas, dentro e fora do País.
Ele foi um dos precursores nos estudos de genética no Brasil e dedicou a vida a estudar as abelhas. Embora tenha tido um papel fundamental na introdução de abelhas africanas no País e no desenvolvimento da abelha africanizada, uma espécie hibrida menos agressiva e mais produtiva (leia texto abaixo), Kerr teve como campo preferencial de estudo a grande diversidade de espécies de abelhas sem ferrão nativas do Brasil, em especial as da Amazônia.
Nas palavras de sua neta, “ele era um profissional de uma incrível energia e mesmo em momentos de lazer, como um churrasco, ele levava os netos pra uma caminhada na naureza e nos explicava os nomes científicos das plantas, suas propriedades e como as abelhas trabalhavam para colher o pólen. Nas ferias de verão, ele pedia aos netos para ajudá-los em sua pesquisa com abelhas e todos nós tínhamos tarefas a cumprir. Nos sentíamos importantes!”
Kerr foi membro da Academia Brasileira de Ciências e da prestigiosa Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Foi professor de diversas universidades brasileiras, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e diretor científico da Fapesp e do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
A A.B.E.L.H.A. lamenta a morte do Prof. Kerr, que tanto lutou pelo desenvolvimento da ciência no Brasil, e agradece por seu inestimável legado, que influenciou e seguirá influenciando diversas gerações de pesquisadores no estudo das abelhas e da biodiversidade brasileira.
Abelhas africanizadas
Em texto publicado na Folha de S. Paulo, no domingo, o jornalista Reinaldo José Lopes resume o incidente.
[blockquote style=”1″]Durante anos, um dos grandes temores do agrônomo paulista Warwick Estevam Kerr, que morreu neste sábado (15) aos 96 anos, foi o de que sua carreira de pesquisador acabasse sendo definida por um acidente que aconteceu em 1957. Kerr tinha ido à África no ano anterior, com apoio do Ministério da Agricultura, com o objetivo de obter abelhas do continente para usá-las em projetos de melhoramento genético das colmeias nacionais. Levou quase 50 rainhas africanas para um apiário experimental em Rio Claro, no interior paulista, mas 26 das colmeias formadas pelos insetos acabaram escapando. Bem mais agressivas do que as abelhas domésticas de origem europeia que então predominavam no Brasil, as rainhas africanas se cruzaram com os insetos que existiam por aqui e acabaram criando certo pânico, como a lenda de que eram “abelhas assassinas”. “Eu não esperava ser capaz de dar a volta por cima”, declarou Kerr anos depois em entrevista à revista “Estudos Avançados”. “Pensava que teria uma vida desgraçada para o resto dos meus dias. Até 1978, as mulheres franziam a testa, mostravam-me para seus filhos e diziam: aquele é o homem que introduziu a abelha brava no Brasil.” Por sorte, o pesquisador e seus colegas pelo Brasil afora conseguiram dominar técnicas de manejo das abelhas “africanizadas” deixando as colmeias afastadas de casas e de outros animais ou usando uniformes mais protegidos na hora de lidar com elas, entre outras coisas. E os genes africanos acabaram, de fato, mostrando-se mais capazes de levar a colmeias com alta produção de mel e resistência a doenças. O aparente fracasso virou triunfo.”[/blockquote]
Com informações de SBPC, Folha de S. Paulo e O Globo
Crédito da imagem em destaque: TV Integração