Goiaba

Hortifruti da estação: goiaba

 

A goiabeira (Psidium guajava) é uma árvore que pertence à família Myrtaceae e é nativa no Brasil. Ela é cultivada em quase todo o País, com destaque para os Estados das regiões Nordeste e Sudeste. Os pomares de goiabeiras são cultivados em plantações abertas. Também é comumente cultivada de forma isolada nas cidades — em quintais, jardins, calçadas e praças — e seus frutos são consumidos por outros animais, como os pássaros (Klein et al. 2020).

Polinização por animais

Polinizador Trigona spinipes em flor de goiabeira
Trigona spinipes (arapuá) em flor de goiabeira Crédito: Crislaine Costa Calazans

A goiabeira é um cultivo que apresenta dependência moderada de polinização cruzada. Algumas variedades da fruta se beneficiam desse serviço realizado por insetos, que podem promover um aumento de 10% a 40% na produção de frutos (Klein et al. 2020). Ao visitarem as flores, os polinizadores realizam a transferência de pólen (que contém o gameta masculino) de uma flor até a parte feminina de outra – o que garante a fecundação e, logo, a formação do fruto.

A Paluma é uma das variedades que se beneficia da polinização cruzada, que faz com que a produção de frutos aumente em até 39,5% quando suas flores são visitadas por polinizadores. Esse tipo de goiaba, que produz frutos de formato semelhante a uma pêra e possui polpa de cor vermelha, é o mais cultivado comercialmente no País (Alves e Freitas 2007).

Vantagens da polinização
Na Paluma, a polinização cruzada realizada pelos insetos também resulta em frutos mais pesados e com maior número de sementes — embora um maior número de sementes possa diminuir o valor de mercado dependendo de como o fruto será usado. Outro atributo de melhor qualidade é a intensidade da cor vermelha da polpa, mais pronunciada em frutos provenientes de flores polinizadas por abelhas. E essa é uma característica que torna a goiaba mais nutritiva: quanto mais vermelha, maior é a presença de carotenóides, principalmente o licopeno — que apresenta função antioxidante no organismo (Oliveira da Silva 2019).

Nas cidades, é comum a presença de árvores isoladas, o que pode ser um impedimento para a polinização cruzada e, embora possam produzir frutos por autopolinização, é recomendável plantar pelo menos duas árvores para incrementar a produção de frutos (Klein et al. 2020).

Visita das abelhas

Polinizador Apis mellifera em flor de goiabeira
Apis mellifera (abelha africanizada) polinizando a flor da goiabeira. Crédito: Crislaine Costa Calazans

As flores da goiabeira são bastante atrativas para várias espécies de abelhas, que visitam as flores para coletar o pólen (Alves e Freitas 2006).

O período de floração geralmente ocorre de setembro a novembro e a colheita, de dezembro a março. Além da Paluma, outras variedades cultivadas no Brasil incluem: Branca de Valinhos, Cortibel, IPA B-22, Kumagai, Ogawa, Pedra Branca, Pedro Sato, Pentecostes, Pirassununga Vermelha, Rica, Ruby, Supreme, Sassaoka e Tailandesa (Klein et al. 2020). Mas a dependência de polinização cruzada varia de acordo com a variedade.

A abelha-africanizada (Apis mellifera) e três espécies de abelhas sem ferrão, a arapuá (Trigona spinipes), a jataí (Tetragonisca angustula) e a mandaçaia (Melipona quadrifasciata), são exemplos de polinizadores da goiabeira. A abelha-africanizada e a arapuá são os polinizadores mais frequentes em pomares estudados no Ceará, Sergipe e Minas Gerais. Outras abelhas que polinizam as flores da goiabeira são a mamangava-de-chão (Bombus morio), e espécies solitárias como a mamangava-de-toco (Xylocopa frontalis), abelha-das-orquídeas (Eulaema nigrita), abelhas-de-óleo (Centris aenea, C. tarsata e Epicharis flava), Exomalopsis auropilosa e Oxaea flavescens (Alves e Freitas 2006; Guimarães et al. 2009; Giannini et al. 2020).

Ganhos para os dois lados

Não é comum o manejo para a polinização e o uso do serviço comercial de polinização pelos produtores de goiaba, mas a oportunidade é grande para o estabelecimento de parcerias com apicultores. Como as flores de goiabeira disponibilizam o pólen como principal recurso para as abelhas, não é possível explorar o mel nos pomares ‒ o  ingrediente floral usado pelas abelhas na produção do mel é o néctar. Mas, no caso da goiabeira, o apicultor pode gerar renda alugando colmeias para os produtores.

A abelha-africanizada é um dos polinizadores mais importantes e apenas uma visita em cada flor de goiabeira é suficiente para gerar mais frutos. Essa eficiência pode ser explicada por alguns fatores, como visitar as flores nos horários em que estão repletas de pólen, realizar visitas demoradas nas flores, além de promover voos rasantes, que resultam na queda de muitos grãos de pólen no estigma — parte da estrutura feminina da flor (Alves e Freitas 2006).

Produção

goiaba redO Brasil é o maior produtor mundial de goiabas de polpa vermelha. A produção brasileira em 2019, segundo dados do IBGE, foi de 584,2 mil toneladas, com um valor de produção de quase R$ 927 milhões. Os polinizadores, principalmente as abelhas, contribuíram com R$ 231,7 milhões do valor total de produção de 2019 (cálculo realizado com base na metodologia de Giannini et al. 2015), que corresponde ao montante que os produtores deixariam de ganhar sem o serviço de polinização realizado pelas abelhas.

De acordo com o IBGE, os maiores produtores foram os Estados de Pernambuco, São Paulo e Bahia, que somaram 78% da produção brasileira em 2019. Pernambuco liderou com 36% da produção (210,5 mil toneladas), seguido por São Paulo, com 33% (194 mil toneladas), e Bahia, com 9% da produção (50,5 mil toneladas). Os municípios de Petrolina (94,5 mil toneladas) e Santa Maria da Boa Vista (68 mil toneladas), ambos em Pernambuco, e Casa Nova (35,4 mil toneladas), na Bahia, foram os maiores produtores de goiaba.

O Brasil também é um exportador de goiabas. A participação no mercado externo ainda é pequena, mas está crescendo à medida que produtores têm investido na melhora da gestão de suas propriedades e no cultivo de goiabas diferenciadas para obter certificações internacionais. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (ABRAFRUTAS), com dados compilados do sistema AGROSTAT/MAPA, em 2019, o Brasil exportou 198,2 toneladas de goiabas (que correspondeu a 0,03% da produção total no mesmo ano). Em 2020 houve um aumento de 20% nas exportações, com um faturamento de US$ 537,4 mil.

Práticas amigáveis aos polinizadores

Os produtores de goiaba podem adotar práticas de manejo para promover a atração e a permanência dos visitantes florais e polinizadores em suas propriedades. Assim, podem obter mais frutos e de melhor qualidade e, com isso, elevar a lucratividade.

Em 2019, a professora Fabiana Oliveira da Silva, da Universidade Federal de Sergipe, e colaboradores lançaram o livro A Biodiversidade que Gera Frutos no Semiárido: o Caso da Goiabeira, com o objetivo de auxiliar agricultores, técnicos agrícolas, gestores de áreas protegidas, educadores e comunidade em geral a tomarem melhores decisões sobre práticas na agricultura, de modo a conciliar a produção sustentável de alimentos, bem-estar humano e a conservação da biodiversidade.

O livro resume os resultados de um projeto de pesquisa que tinha como objetivo avaliar práticas amigáveis e não amigáveis aos polinizadores em cultivos familiares de goiaba no Alto Sertão Sergipano. Como práticas amigáveis, o livro destaca:

  • Manutenção das áreas de Reserva Legal (RLs) e plantio de espécies vegetais na propriedade para que exista a oferta de alimento ao longo do ano e substratos para a construção de ninhos. Por exemplo, a maioria das espécies de abelhas sem ferrão constrói os ninhos em cavidades preexistentes em árvores e as mamangavas-de-toco, em troncos velhos;
  • Conservar áreas de solo sem manejo, visto que a grande maioria das espécies de abelhas solitárias nidifica nesse substrato;
  • Manutenção de plantas espontâneas com flores dentro dos pomares;
  • Dar preferência a técnicas agronômicas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e uso de insumos orgânicos; 
  • Plantio de outros cultivos consorciados com a goiabeira, a exemplo de acerola, coco, feijão, laranja, manga, entre outros;
  • Uso preferencial da irrigação por gotejamento (os microaspersores lavam as flores e removem o pólen).

Texto produzido pela Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), em colaboração com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (ABRAFRUTAS).

abrafrutas 1Referências

Alves JE e Freitas BM (2006) Comportamento de pastejo e eficiência de polinização de cinco espécies de abelhas em flores de goiabeira (Psidium guajava L.). Revista Ciência Agronômica 37, 216-220.

Alves JE e Freitas BM (2007) Requerimentos de polinização da goiabeira. Ciência Rural 37, 1281-1286.

Giannini TC et al. (2015) The Dependence of Crops for Pollinators and the Economic Value of Pollination in Brazil. Journal of Economic Entomology 108, 849-857.

Giannini TC et al. (2020) Unveiling the contribution of bee pollinators to Brazilian crops with implications for bee management. Apidologie 51, 406-421.

Guimarães RA et al. (2009) Abelhas (Hymenoptera: Apoidea) visitantes das flores da goiaba em pomar comercial de Salinas, MG. Bragantia 68, 23-27.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa da Pecuária Municipal (2019) Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9117-producao-agricola-municipal-culturas-temporarias-e-permanentes.html?=&t=sobre. Acesso em: 10 mar 2021.

Klein AM et al. (2020) A Polinização Agrícola por Insetos no Brasil. Um Guia para Fazendeiros, Agricultores, Extensionistas, Políticos e Conservacionistas. Albert-Ludwigs University Freiburg, Nature Conservation and Landscape Ecology.

Oliveira da Silva, F (Org.) (2019) A Biodiversidade que Gera Frutos no Semiárido: o Caso da Goiabeira. São Cristóvão, SE: Editora UFS.