Análises genéticas feitas por pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, com colaboradores de vários países, sugerem alterações em parte do que se sabia sobre a origem e a evolução da abelha responsável por grande parte da polinização e da produção de mel no mundo, Apis mellifera.
Em artigo publicado em agosto passado, na revista Nature Genetics, o grupo contesta a ideia anterior de que essas abelhas teriam surgido na África, e desloca essa origem para a Ásia. Os resultados podem também explicar um pouco sobre a abelha que existe no Brasil, conhecida como africanizada por ser um híbrido acidental entre a subespécie italiana e a africana. “Apesar de a população africana introduzida no Brasil ter sido pequena, menos de 50 rainhas inseminadas, as nossas abelhas têm muitas das características encontradas nas da África”, explica a bióloga Zilá Simões, da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, coautora do trabalho.
O estudo não é o primeiro a mostrar que as nossas abelhas são, do ponto de vista genético, mais africanas do que europeias. Zilá conta que o biólogo Marco Del Lama, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), já tinha mostrado a mesma coisa com estudos bioquímicos da enzima malato desidrogenase. É claro que agora, com mais dados, a conclusão tem muito mais força.
Segundo a pesquisadora de Ribeirão Preto, o projeto que desembocou na publicação surgiu há três anos num congresso na Dinamarca, em que Matthew Webster, líder do estudo, propôs fazer uma amostragem extensa para verificar a interpretação anterior, por outro grupo de pesquisa, de que as abelhas teriam surgido na África e colonizado a Europa por meio de três ondas migratórias.
Para tanto, eles sequenciaram o genoma completo de 140 amostras de abelhas oriundas de 14 populações distintas, inclusive a brasileira. Os resultados não apenas mudam o provável continente de origem, mas também quando isso teria acontecido. De acordo com o grupo sueco, os grandes grupos de Apis mellifera (um africano, dois europeus e um no Oriente Médio e na Ásia ocidental) se separaram há cerca de 300 mil anos, e não 1 milhão de anos como foi proposto antes. Ao longo desse tempo, a população europeia diminuiu durante as glaciações e depois voltou a aumentar.
Além de rever a origem das abelhas responsáveis pela polinização de uma parte importante das plantas que compõem a dieta humana, o trabalho detectou a ação da seleção natural em uma série de genes, como a eficiência maior dos espermatozoides nos zangões africanos quando comparados aos europeus. Essa vantagem é essencial numa espécie na qual a rainha, responsável por praticamente toda a reprodução de uma colmeia, cruza com vários machos – criando um ambiente de competição entre os espermatozoides.
Fonte: Da Redação, com base em Revista Pesquisa Fapesp e Nature Genetics – 25 de março de 2015