Cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade de Dalhouse, no Canadá, se uniram para mapear a diversidade genética da abelha jandaíra (Melipona subnitida), que produzem um mel conhecido pelas propriedades medicinais e que serve de complemento para a renda de pequenos criadores.
Pioneiro em todo o mundo, o zoneamento vai permitir, com mais segurança, a construção de estratégias de gestão e manejo da espécie, buscando sua conservação e seu uso sustentável em toda a cadeia produtiva. Vítima da ação predatória do homem, a jandaíra é uma das espécies ameaçadas de extinção. O trabalho será concluído em 2016.
Mapeamento
O estudo, publicado no jornal científico Conservation Genetics Resources, servirá de base para conhecer as populações e áreas que mais necessitam de atenção. A pesquisa é fundamental para conhecer a relação das jandaíras com outras existentes no Brasil e no mundo e, assim, abrir novos campos de pesquisa.
O trabalho pioneiro de sequenciamento do genoma da abelha jandaíra, no laboratório de biotecnologia da Universidade de Dalhousie, levou sete meses. O DNA genômico total foi extraído a partir do tórax de cinco abelhas coletadas no Nordeste brasileiro. As amostras foram então sujeitas a eletroforese, técnica de separação de moléculas em gel de agarose a 0,8%, para testar a quantidade e a qualidade do DNA. Nessa etapa, um único indivíduo com maior rendimento e qualidade de DNA foi selecionado para o sequenciamento. A partir daí foi criada uma biblioteca genômica, etapa mais complexa.
A análise de dados resultantes do sequenciamento do genoma da abelha jandaíra aponta para duas direções: a descoberta de populações geneticamente distintas da espécie em todo o Nordeste brasileiro; e a redução da variabilidade genética em algumas áreas da região, que é um forte indicativo de como a degradação ambiental, causada pelo desmatamento e o extrativismo predatório, afeta diretamente a espécie. Esse estudo pôde revelar também mais um avanço da ciência quanto ao tempo e ao custo de se trabalhar o sequenciamento de um genoma.
“Rainha do sertão”
Apresentando coloração escura com listas amarelas no abdômen e medindo entre seis e sete milímetros, a abelha jandaíra é típica do sertão nordestino. É uma das mais conhecidas, por ser encontrada em todos os estados da região, do Semiárido ao litoral, e em áreas de restinga dos estados do Piauí e Maranhão. Por ser uma grande produtora de mel, além de ter importância ecológica como polinizadora, a espécie é conhecida como a “rainha do sertão”.
Abelhas sem ferrão, como a jandaíra, são responsáveis pela polinização de 30% a 60% das plantas da Caatinga, do Pantanal e de manchas da Mata Atlântica, importantes ecossistemas brasileiros. No entanto, segundo a pesquisadora Fábia Pereira, da Embrapa Meio-Norte, cerca de um terço das espécies dessas abelhas está em risco. O motivo é a degradação dos ecossistemas. “A conservação dessas espécies é uma necessidade, já que elas executam uma importante função na perpetuação da floresta e sua biodiversidade, como polinizadoras e parte integrante da teia alimentar”, argumenta.
O artigo “Isolation and characterization of 23 microsatellite loci in the stingless bee – Melipona subnitida using next-generation sequencing” pode ser lido na revista Conservation Genetics Resources.