Por Blandina Viana, Carmen Pires e Ariadna Lopes
Ao longo dos últimos anos, contribuímos para a produção de uma avaliação científica global de polinizadores e polinização, demandada pelos países signatários da Plataforma Intergovernamental sobre a Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos – IPBES, painel intergovernamental independente aberto a todos os países-membros das Nações Unidas. Criado em abril de 2012, é o principal órgão intergovernamental para avaliar o estado da biodiversidade do planeta, seus ecossistemas e os serviços essenciais que prestam à sociedade.
O IPBES fornece um mecanismo reconhecido pelas comunidades científica e política para sintetizar, analisar, revisar e avaliar criticamente as informações e os conhecimentos relevantes em todo o mundo gerados por governos, universidades, organizações científicas, organizações não-governamentais e comunidades indígenas. Trata-se de um grupo que tem como objetivo reforçar a capacidade para o uso efetivo da ciência na tomada de decisões em todos os níveis.
A avaliação sobre polinizadores trouxe a confirmação de que tanto os silvestres quanto os manejados trazem inúmeros benefícios para os seres humanos, incluindo os efeitos diretos sobre a produção de frutas, legumes e óleos. Apesar disso, as evidências apontam que os polinizadores estão em declínio em diversas partes do planeta. Muitos são os fatores relacionados a tal problema e, entre as causas principais, figura o sistema agrícola convencional.
Com base nessas premissas, e tendo em vista a excelente oportunidade de mudança da política em escala mundial que se apresenta os compromissos políticos de alto nível para conservar os polinizadores em diversos países e a inclusão do tema na próxima Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica – um grupo de doze pesquisadores identificou dez medidas que governos e formuladores de políticas em todo o mundo devem considerar para salvaguardar os polinizadores e os serviços de polinização.
Os pesquisadores integram o IPBES e são representantes de vários países: Lynn V. Dicks (Reino Unido), Blandina Viana (Brasil), Riccardo Bommarco (Suécia), Berry Brosi (Estados Unidos), María del Coro Arizmendi (México), Saul A. Cunningham (Austrália), Leonardo Galetto (Argentina), Rosemary Hill (Austrália), Ariadna V. Lopes (Brasil), Carmen Pires (Brasil), Hisamoto Taki (Japão) and Simon G. Potts (Reino Unido).
O artigo completo foi publicado hoje (25 de novembro) na Revista Science, e o resumo executivo está disponível em http://science.sciencemag.org/content/354/6315/975.
Dez políticas para polinizadores
- Elevar os padrões regulatórios para os agrotóxicos, o que inclui considerar os efeitos indiretos dos produtos nas avaliações de risco, e avaliar os riscos para uma série de espécies de polinizadores, e não apenas para as abelhas;
- Promover o manejo integrado de pragas (Integrated Pest Management -IPM), com a consequente redução do uso de agrotóxicos;
- Incluir efeitos indiretos e subletais nas avaliações de risco de culturas geneticamente modificadas (GM). Apesar de não sabermos o suficiente sobre o impacto dos cultivos transgênicos nos polinizadores, algumas culturas GM são tóxicas para os insetos e podem ter efeitos sutis nas populações de polinizadores;
- Regular o movimento dos polinizadores controlados para evitar a proliferação de doenças e conter a introdução de espécies invasoras;
- Desenvolver incentivos, como os esquemas de seguros, para ajudar os agricultores na transição para uma agricultura com menor uso de agroquímicos;
- Reconhecer a polinização como um insumo agrícola nos serviços de extensão;
- Apoiar sistemas agrícolas diversificados, a exemplo dos sistemas agroflorestais e policultivos, práticas que ajudam a manter os polinizadores por proverem a eles alimento e abrigo;
- Conservar e restaurar a “infraestrutura verde” (uma rede de habitats entre as quais os polinizadores podem se mover) em paisagens agrícolas e urbanas. Para polinizar as culturas, os polinizadores selvagens necessitam de habitats em torno dos cultivos que forneçam locais de nidificação e recursos florais. Essas manchas de habitat precisam ser suficientemente próximas para que insetos ou pequenos pássaros voem entre elas – não mais de 500 m de distância para as abelhas médias.
- Desenvolver o monitoramento de longo prazo dos polinizadores e da polinização;
- Financiar pesquisas participativas sobre a melhoria dos rendimentos na agricultura orgânica, diversificada e ecologicamente intensificada. No Brasil, onde a agricultura é uma vocação natural, com expressiva participação na economia, a implantação dessas políticas terá um grande impacto socioeconômico e poderá garantir em longo prazo a sustentabilidade para o setor.
Blandina Viana (Universidade Federal da Bahia), Carmen Pires (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia) e Ariadna Lopes (Universidade Federal de Pernambuco)