O desenvolvimento da agricultura, com a consequente ampliação da área cultivada e diminuição das áreas de mata nativa, o crescimento de cultivos extensivos em grandes áreas, entre outras técnicas de plantio, e o uso de defensivos agrícolas de forma incorreta acabam provocando abalos na relação entre abelhas e agricultura.
Embora o uso da terra para fins agrícolas afete grande parte dos ecossistemas, por ser uma das principais causas de mudanças globais, sua contribuição para a conservação atual e futura de biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos é crucial. Dessa forma, precisamos encarar a agricultura e a conservação como temas complementares e não como antagônicos ou incompatíveis.
Para nos auxiliar nessa mudança de visão está a perspectiva da paisagem, que nos ajuda a entender os efeitos positivos e negativos do uso das terras agrícolas para manutenção de serviços ecossistêmicos. Além do mais, há o componente prático – e não menos importante – do elo entre a agricultura e a conservação, pois a agricultura se beneficia, e muito, com o manejo sustentável da biodiversidade e desses serviços.
Enquanto as abelhas conseguem o néctar e o pólen necessários para se alimentar, e produzir o mel e outros derivados (para as espécies que formam grandes colônias), a agricultura se beneficia da polinização que amplia sua produtividade e garante frutos com mais qualidade e, consequentemente, maior valor de mercado.
Ações de melhoria na qualidade dos habitat para polinizadores em propriedades agrícolas não apenas aumentam a rentabilidade do agricultor como também promovem a melhoria de outros serviços ecossistêmicos, como a regulação natural de populações de pragas, a proteção dos mananciais de água e a fertilidade do solo.
Assegurar a manutenção de comunidades diversas de polinizadores e das plantas utilizadas por eles em áreas cultivadas significa maximizar a produtividade agrícola, conservar a natureza e aumentar a capacidade de recuperação de serviços ecossistêmicos.
Boas práticas agrícolas
Além de manter um diálogo contínuo com os apicultores e meliponicultores que possuem colmeias instaladas na área agrícola e matas vizinhas para avisar quando da aplicação de defensivos agrícolas, os agricultores também podem adotar práticas de manejo para aumentar a diversidade de abelhas e promover a sobrevivência desses polinizadores em suas propriedades. Essas práticas amigáveis as abelhas são particularmente importantes para o rendimento de cultivos que dependem ou são beneficiados pela polinização cruzada.
As abelhas buscam alimento nas flores para alimentação dos adultos e larvas. Assim, manter as Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal e aumentar a área de cobertura florestal ao redor dos cultivos são medidas vitais para que exista a oferta de alimento durante o ano todo para as abelhas, uma vez que os recursos florais disponibilizados pelas plantas cultivadas estão geralmente concentrados em curtos períodos do ano. Manter as plantas herbáceas das entrelinhas dos cultivos é outra prática que ajuda a fornecer alimento para as abelhas e mantê-las na propriedade.
A manutenção das matas também contribui para a oferta de locais para as abelhas construírem seus ninhos, por exemplo, para as abelhas sem ferrão, cuja a maioria das espécies constrói os ninhos em cavidades preexistentes em árvores.
Diversas espécies de abelhas solitárias constroem seus ninhos no chão, assim, a conservação do solo e a proteção do local dos ninhos de aração, gradeamento e pisoteio são práticas importantes para a manutenção dos ninhos dessas abelhas. As mamangavas-de-toco (Xylocopa spp.), principais polinizadores do maracujazeiro, geralmente escavam seus ninhos em madeira morta, ramos secos de árvores e mourões de cerca, assim, fornecer substratos para nidificação, como orifícios de bambu ou troncos de madeira perfurados, são práticas recomendadas para a conservação e manutenção dessas abelhas na propriedade.
Por fim, cuidados durante o controle de insetos pragas, doenças e plantas daninhas nos cultivos podem favorecer a sobrevivência das abelhas e outros polinizadores na propriedade, como dar preferência a métodos de Manejo Integrado de Pragas, Doenças e Plantas Daninhas e controle biológico. O monitoramento da população de insetos pragas na lavoura tem o objetivo de identificar o Nível de Dano Econômico e o momento certo para realizar a aplicação de defensivos agrícolas químicos ou biológicos.
A pulverização de defensivos agrícolas deve ser evitada na pré-florada e durante a florada. Caso seja necessária a aplicação de defensivos químicos durante a pré-florada e a florada, a pulverização deve ser realizada com produtos de baixa toxicidade para as abelhas, ao entardecer ou à noite, quando elas não estão em atividade a campo. A informação sobre toxicidade para as abelhas está presente na bula dos produtos.
É essencial seguir todas as recomendações presentes nos rótulos e bulas dos defensivos agrícolas. As boas práticas de tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas, tanto por via aérea quanto terrestre, devem ser rigorosamente observadas. Isto inclui o tipo de produto, sua formulação, dose a ser aplicada, horário de aplicação, seleção e calibragem de pontas de pulverização, altura de barra ou de voo, velocidade, temperatura, umidade e velocidade do vento, além de medidas para evitar deriva, como evitar a aplicação nas bordas das lavouras adjacentes a locais de abrigo ou de coleta de recursos por polinizadores.
Aumento da flora apícola em cultivos extensivos
Os agricultores, especialmente os que plantam cultivos extensivos em grandes áreas, precisam atentar para a conservação da biodiversidade em suas propriedades. De maneira geral, as matas nativas que contornam as plantações devem ser mantidas (Área de Preservação Permanente e Área de Reserva Legal), conforme determina o Código Florestal Brasileiro. Uma medida adicional para garantir a visitação de abelhas seria a plantação de corredores de flora apícola nas extremidades das culturas, interligando os remanescentes florestais.
