Um estudo realizado por pesquisadores da University de Sussex, do Reino Unido, em colaboração com colegas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) – ambas da Universidade de São Paulo (USP) –, revelou que, apesar de serem incapazes de ferroar como as Apis mellifera, por terem o ferrão vestigial (atrofiado), as abelhas sem ferrão apresentam diferentes mecanismos de defesa.
Um deles é “morder” com tanta persistência um alvo intruso ao ponto de não se desprender e morrer durante o ataque, sacrificando-se para proteger a colônia do saque de seu alimento por outras abelhas “ladras” e da predação por outros animais.
“É a primeira descrição de um comportamento de defesa suicida em espécies de abelhas sociais, excluindo a Apis mellifera, que possui ferrão serrilhado e se destaca do corpo ao ferroar, provocando a morte do inseto”, disse Denise de Araujo Alves, pesquisadora da ESALQ-USP e uma das autoras do trabalho, à Agência FAPESP.
“Quando algumas espécies de abelhas sem ferrão atacam, elas mordem e acabam morrendo porque ficam presas por muito tempo ao alvo. Dessa forma, conseguem afugentar possíveis inimigos de seus ninhos-colônias que contêm, além da cria, a rainha-mãe, estoques de alimento (mel e pólen) e materiais de arquitetura, como resina”, disse.
Os pesquisadores realizaram três experimentos em campo com 12 espécies diferentes para estudar os mecanismos de defesa de abelhas sem ferrão.
As espécies de abelhas sem ferrão que demonstraram maior agressividade e disposição a se auto-sacrificar durante o ataque por mordedura foram as que têm colônias mais populosas. As colônias de Trigona spinipes, por exemplo, podem ter até 180 mil abelhas, enquanto a de uma espécia de abelha sem ferrão que não ataca, como a Melipona quadrifasciata, tem cerca de mil abelhas.
“É a primeira vez que é relatado e quantificado o comportamento de espécies de abelhas sem ferrão que destinam uma parcela de suas colônias para defesa e que elas acabam morrendo, porque o ganho de defender a colônia e morrer é maior do que se deixassem ser atacadas e perecessem”, afirmou.
O artigo “Appetite for self-destruction: suicidal biting as a nest defense strategy in Trigona stingless bees” pode ser lido na revista Behavioral Ecology and Sociobiology.
Fonte: Agência Fapesp – 12 de janeiro de 2015