Pesquisadores liderados pela professora Ligia Bicudo de Almeida Muradian, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP), têm se debruçado sobre as características do pólen apícola, produzido pelas abelhas, buscando compreender quais aspectos influenciam na sua composição, as diferenças em relação às regiões de origem e os efeitos de seu consumo, não apenas como suplemento nutricional como também por sua ação bioativa. O grupo recebe amostras de vários Estados e reúne, atualmente, em torno de 250 amostras em seu banco de dados.
“Analisamos em nosso Laboratório o valor nutricional, como proteínas, lipídeos, resíduo mineral fixo ou cinzas, vitaminas antioxidantes e vitaminas do complexo B, além de capacidade antioxidante e compostos fenólicos”, explica a professora. Em parceria com outros pesquisadores e alunos, são realizadas ainda análises de origem botânica, para determinar qual planta foi a predominante na coleta de pólen. Estuda-se ainda a qualidade microbiológica, a capacidade antimicrobiana e, mais recentemente, ensaios biológicos.
A pesquisadora explica que a composição das amostras está relacionada à vegetação e ao clima do local, que são característicos de cada região do País. O interesse científico pelo pólen apícola é recente e poucos pesquisadores se dedicam ao seu estudo, principalmente pela infraestrutura complexa exigida para a realização das análises. A enorme variedade de plantas apícolas no Brasil serve como desafio para o grupo.
As abelhas realizam voos diários para colher o pólen das flores, que é fonte de proteínas e vitaminas para o desenvolvimento da colmeia. “A coleta do pólen apícola é feita no momento em que as abelhas chegam para entrar na colmeia. Os produtores fixam armadilhas chamadas de caça-pólen, que são utensílios semelhantes a peneiras com furos grandes o suficiente para permitir a passagem da abelha, mas não do grão de pólen apícola. O grão cai em um receptor, onde fica armazenado até o recolhimento pelo apicultor”, explica a doutoranda em Ciências dos Alimentos, Adriane Alexandre Machado de Melo, que atualmente trabalha na caracterização de amostras vindas de nove estados brasileiros.
Secagem
Antes da análise, o material precisa ser desidratado e separado de resíduos, como galhos e partes da própria abelha. E é dessa forma que o pólen apícola é comercializado, pois o processo evita a deterioração do produto. Os grãos podem ser consumidos puros ou misturados ao mel, saladas, iogurtes, sucos, entre outros. Um dos objetivos do grupo liderado pela professora é padronizar o método de secagem, pois cada apiário acaba adotando um procedimento diferente, muitas vezes bastante amador.
São vários os benefícios já comprovados do consumo do pólen apícola, entre eles, a prevenção de problemas de próstata, a dessensibilização frente a alergias e o efeito bacteriostático e bactericida, ou seja, o efeito de deter a ação das bactérias ou de eliminá-las. No entanto, muitas outras propriedades ainda vêm sendo testadas, como a prevenção do envelhecimento celular, de aterosclerose e de vários tipos de câncer.
Um dos alunos orientados pela professora Ligia, o doutorando José Augusto Gasparotto Sattler estuda agora os efeitos do pólen apícola sobre o estresse oxidativo e inflamação causados pela obesidade. “A maioria dos estudos ainda são feitos in vitro. Vamos iniciar os ensaios in vivo utilizando camundongos. No Brasil, existem poucos estudos que avaliam o efeito do consumo do pólen apícola em modelos biológicos”, afirma José Augusto.
As pesquisas sobre o pólen e outros produtos apícolas desenvolvidas pelo grupo chamam atenção, de forma indireta, sobre o problema do desaparecimento das abelhas, que são os principais insetos polinizadores, responsáveis pela produção de alimentos como maçã, pera, laranja e café. “O fenômeno, que tem causas ainda controversas, é alarmante e vem dizimando milhares de colônias de abelhas em todo o mundo”, comenta a professora Ligia Muradian. “A apicultura é uma das poucas atividades que fazem parte do tripé da sustentabilidade, ou seja, economicamente viável, ambientalmente favorável e socialmente justa, portanto deve ser incentivada”.
Fonte: Agência USP de Notícias – Aline Naoe