Por Bárbara Lopes, Alistair Campbell e Felipe Contrera
Os criadores de abelhas sem ferrão sabem que um dos períodos críticos para a sobrevivência de uma colônia é durante o período de orfandade, quando a colônia perde sua rainha e assim cessa a produção de novos indivíduos para substituir ao que morrem. Entretanto, pouco se sabe sobre como as abelhas sem ferrão respondem à perda de uma rainha ao nível comportamental. No Pará, a abelha canudo (Scaptotrigona aff. postica) é uma espécie criada por vários meliponicultores, sendo uma grande produtora de mel além de prover serviços ecossistêmicos de polinização de várias culturas, como o açaí (Euterpe oleracea), dentre outras.
Visando entender aspectos básicos do comportamento resposta das abelhas operárias durante um período de orfandade, um estudo feito pela M.Sc. Bárbara dos Santos Conceição Lopes, Ph.D. Alistair John Campbell e o Dr. Felipe Andrés León Contrera, com a abelha canudo, mostrou que operárias de colônias órfãs mostraram as seguintes respostas após terem suas rainhas removidas experimentalmente:
- Operárias de colônias órfãs apresentaram uma acentuada diminuição de cerca de 50% da atividade de forrageio, comparadas a colônias com rainha;
- Operárias velhas ainda continuavam a trabalhar nos favos de cria, que em condições normais é um comportamento exclusivo de operárias jovens, com menos de 20 dias de idade. Em idades mais avançadas normalmente as operárias apenas executam a atividade de forrageio. Também foram vistos ovos de operárias em discos irregulares (ver foto), o que indica uma futura produção de machos pela colônia, pois operárias quando se reproduzem apenas podem gerar machos;
- As operárias de colônias órfãs apresentaram um aumento significativo de duração de vida, chegando até a 79 dias de idade (operárias de colônias com rainha tiveram longevidade máxima observada de 53 dias).
Todos esses comportamentos observados permitiram concluir que as operárias mudam vários comportamentos em resposta à perda da rainha. Essas mudanças resultaram em um aumento da duração de vida das operárias, o que permite que a colônia sobreviva por um tempo maior nessas condições, até que uma nova rainha seja fecundada.
Também verificamos que em colônias órfãs não houve a construção de células reais, o que mostra que se não existirem células reais previamente postas pela rainha antiga, as colônias não terão como produzir uma nova rainha. Nesse caso, uma colônia órfã terá necessariamente que receber uma célula real de alguma outra colônia para poder ter seu ciclo de crescimento restaurado. Caso contrário, a colônia acabará perecendo, mas os machos produzidos pelas operárias nesse último momento do ciclo colonial poderão espalhar o genótipo colonial caso consigam fecundar uma rainha virgem de outra colônia.
A pesquisa foi publicada na revista Behavioral Ecology and Sociobiology (em inglês). Link: https://rdcu.be/b2zci. Uma versão de divulgação em português já está em fase de redação.
Sobre os autores:
Bárbara dos Santos Conceição Lopes. Mestre em Zoologia pela UFPA/MPEG. Recebeu uma bolsa de mestrado da CAPES durante a execução do estudo. Atualmente é bolsista DTI-B CNPq, com financiamento pelo edital 32/2017, CNPQ/MCTIC/IBAMA/ASSOCIAÇÃO A.B.E.L.H.A., vinculada à Universidade Federal do Pará.
Alistair John Campbell. Biólogo, com Doutorado em Ciências Biológicas pela Lancaster University (Reino Unido). Foi bolsista CAPES (edital CAPES/EMBRAPA 15/2014) durante a execução do estudo. Atualmente é bolsista DTI-A CNPq, com financiamento pelo edital 32/2017, CNPQ/MCTIC/IBAMA/ASSOCIAÇÃO A.B.E.L.H.A., vinculado à Embrapa Amazônia Oriental.
Felipe Andrés León Contrera. Biólogo, com Doutorado em Ecologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Associado na Universidade Federal do Pará. Atualmente coordena um projeto em rede do edital 32/2017, CNPQ/MCTIC/IBAMA/ASSOCIAÇÃO A.B.E.L.H.A.