Dentro das cinco famílias de abelhas existentes no Brasil, há muitos gêneros e espécies das mais diversificadas formas, cores e tamanhos. O que torna difícil descrever uma anatomia comum entre todas as espécie, porém uma vez que a Apis mellifera é a espécie de abelha mais estudada, sua anatomia e estruturas externas são usadas como referência para conhecer os aspectos gerais de uma abelha.
Uma estrutura importante numa abelha, por exemplo, é a que está relacionada ao transporte de pólen, a escopa ou corbícula. Essa estrutura está presente somente nas fêmeas das abelhas, mas com exceções, como as rainhas das abelhas sem ferrão e das abelhas melíferas, que não as possuem, já que elas não saem para coletar alimento. O mesmo vale para os machos de todas as cinco famílias, uma vez que eles não trabalham, apenas possuem função reprodutora.
O ferrão é um ponto comum entre as fêmeas, mas os machos não possuem essa arma, pois o ferrão é o ovipositor, órgão responsável pela postura de ovos, que sofreu modificações.
Na cabeça estão os cinco olhos (dois compostos e três simples denominados ocelos) e as antenas, onde estão os sensores de três sentidos: audição, olfato e tato, fundamentais na identificação dos cheiros das flores e na escuridão da colônia. Ainda na cabeça, no caso das abelhas melíferas, estão localizadas duas glândulas responsáveis por dissolver a cera e produzir a geleia real, que alimentará a rainha e as larvas criadas nas células reais ou realeiras.
No tórax estão os órgãos de locomoção. As pernas dianteiras têm pêlos microscópicos que agem como escovas para limpar as antenas, os olhos, a língua e a mandíbula. O segundo par de pernas conta com um esporão, cuja função é a limpeza das asas e a retirada do pólen acumulado nas corbículas, que estão nas pernas posteriores. As asas são formadas por duas membranas superpostas. O par de trás é menor e têm ganchinhos para prender as duas asas formando uma só durante o voo.
No abdômen da Apis mellifera, que foi a espécie melhor estudada quanto à anatomia interna, está localizada a vesícula melífera ou papo (que transporta o néctar coletado das flores e onde se inicia o processo de produção do mel) e as glândulas cerígenas (que produzem a cera), além do estômago, intestino e traquéias e espiráculos (órgãos de respiração). Nessa parte do corpo também estão localizados os órgãos reprodutores. Na extremidade do abdômen das fêmeas se encontra o ferrão. Os machos não possuem essa arma.
Cabeça
É onde se localizam os órgãos sensoriais que orientam as abelhas para saber o que se passa a seu redor. Os grandes olhos compostos, localizados na lateral da cabeça, são formados por milhares de pequenas unidades individuais chamadas omatídeos. Cada omatídeo forma um ponto da imagem, sendo assim, a imagem total vista pela abelha é a soma das imagens formadas pelos omatídeos. Os olhos compostos servem para guiar a navegação de seus voos e distinguir as cores das flores.
O complexo sistema visual das abelhas é composto ainda por três olhos simples, situados no topo da cabeça, entre os dois olhos compostos, denominados ocelos. Os ocelos não formam imagens, porém auxiliam as abelhas na percepção do ambiente em relação à intensidade luminosa.
As duas antenas possuem os sentidos da audição, do olfato e do tato. Nelas estão localizadas cavidades olfativas, com função de captar odores como o de floradas, ou de rainhas virgens por parte dos machos, por exemplo. Por meio do olfato as operárias também reconhecem suas companheiras de ninho e detectam seus inimigos. Os machos possuem cerca de 30 mil cavidades olfativas, as operárias apresentam de 4 a 6 mil e a rainha apresenta cerca de 3 mil cavidades.
Na cabeça das abelhas melíferas são encontradas também algumas glândulas, entre elas as glândulas hipofaringeanas, que funcionam do 5º ao 12º dia de vida da operária, e são responsáveis pela produção de geleia real.
Tórax
No tórax estão localizados os órgãos locomotores, pernas e asas, e a presença de grande quantidade de pêlos, que possuem importante função na fixação dos grãos de pólen quando as abelhas entram em contato com as flores.
Cada um dos três pares de pernas possui uma função. O primeiro par de pernas possui pêlos microscópicos que servem para limpar as antenas, os olhos, a língua e a mandíbula. O segundo par de pernas conta com um esporão, cuja função é a limpeza das asas e a retirada do pólen acumulado nas corbículas. O terceiro par de pernas apresenta a tíbia grandemente pronunciada, alargada nas operárias, sendo mais delgada na rainha e no macho. A tíbia nas operárias forma a corbícula, um tipo de cesto com uma concavidade para carregar pólen e resina.
Os dois pares de asas são formadas por duas membranas superpostas, reforçadas por nervuras ramificadas. As asas posteriores são menores e munidos de pequenos ganchos, com os quais a abelha, durante o voo, prende as asas anteriores, de forma que os dois pares podem bater em sincronia e reduzir consideravelmente a turbulência.
No tórax também são encontrados as traquéias e espiráculos (órgãos de respiração), o esôfago, que é parte do sistema digestivo e as glândulas salivares, que estão envolvidas no processamento do alimento.
Abdômen
Nele estão situados a vesícula melífera (bolsa que transporta o néctar e a água coletada), ventrículo (estômago), intestino delgado, glândulas cerígenas (responsáveis pela produção de cera) e as traqueias e espiráculos (órgãos de respiração).
No abdômen dos machos estão localizados os órgãos reprodutores, constituídos por um par de testículos, duas glândulas de muco e pênis. É também no abdômen que estão localizados os órgãos de reprodução femininos: vagina, ovários (dois), espermateca (bolsa onde a rainha armazena os espermatozóides dos machos que a fecundaram) e glândulas, como a de Nassanof (ou de cheiro) e a de veneno, entre outras.
Na extremidade do abdômen das fêmeas está localizado o ferrão. As operárias utilizam-no como ferramenta de defesa. Para a rainha, o ferrão funciona como instrumento de orientação que visa localizar as células de cria onde irá depositar os ovos. Eventualmente ele é utilizado para ferroar outra rainha que tenha nascido ao mesmo tempo e com a qual lutará até a morte pela liderança dentro da colônia.
O ferrão da rainha possui um formato com superfície lisa. Após penetrar e injetar o veneno, ele volta ao seu estado normal. Já as operárias possuem um ferrão em forma de serrote, que, após penetrar uma superfície como a pele, fica preso. Ao voar, a operária tem seus órgãos abdominais danificados, pois parte do aparelho digestivo fica junto ao ferrão e ao saco de veneno, causando a sua morte na sequência. Uma vez que o ferrão faz parte do sistema reprodutor das fêmeas, os machos não o possuem.
No abdômen também se localiza o coração (sistema circulatório) formado por vasos, pelos quais circula o sangue das abelhas, chamado hemolinfa, que não tem função respiratória.
Esquema da anatomia e das estruturas externas de uma abelha fêmea da espécie Apis mellifera. Fonte: modificado de Wikimedia Commons.
1- Glossa (ou “língua”)
2- Abertura do tubo excretor da glândula mandibular posterior
3- Maxila
4- Mandíbula
5- Clípeo
6- Cavidade pré-oral
7- Glândula mandibular anterior
8- Glândula mandibular posterior
9- Faringe
10- Glândula hipofaringeana
11- Cérebro
12- Ocelos
13- Glândulas salivares
14- Músculos torácicos
15- Fragma posterior
16- Asa anterior
17- Asa posterior
18- Coração
19- Espiráculo
20- Saco aéreo
21- Ventrículo
22- Ostíolo (ou óstio)
23- Intestino delgado
24- Glândula de Nassanof (ou de cheiro)
25- Glândulas retais
26- Reto
27- Ânus
28- Ferrão
29- Bainha do ferrão
30- Canal do ferrão
31- Saco de veneno
32- Glândula de veneno
33- Espermateca
34- Glândulas cerígenas
35- Gânglios abdominais
36- Válvula cardia
37- Proventrículo
38- Entrada do proventrículo
39- Vesícula melífera
40- Aorta
41- Esôfago
42- Cordão nervoso
43- Palpo labial
44- Basitarso
a- Coxa
b-Trocanter
c- Fêmur
d- Tíbia (corbícula)
e, f, g- Tarsômeros
h- Garras