De acordo com uma pesquisa publicada na Science, as abelhas mamangavas (bumblebees) desenvolveram uma maneira de forçar as flores a desabrochar mais rapidamente. Os cientistas descobriram que elas dão danificam as folhas das plantas que ainda não floresceram, o que resulta em perfurações que levam as plantas a passar pelo processo 30 dias antes, em média.
A equipe de pesquisadores suíços notou esse comportamento em seu laboratório. Enquanto conduziam um experimento não relacionado, eles viram abelhas cortando pedaços de plantas sem uma razão clara. Isso chamou a atenção, e eles recorreram a informações sobre este fenômeno na literatura científica, mas descobriram que pouca pesquisa havia sido feita.
“Descobrimos que outros também observaram esses comportamentos, mas ninguém havia explorado o que as abelhas estavam fazendo com as plantas ou relatado um efeito sobre a produção de flores”, disse Mark Mescher, professor da universidade ETH Zürich e um dos autores do estudo, em um comunicado.
Para entender melhor, os cientistas colocaram abelhas famintas em gaiolas de malha cheias de pés de tomate e mostarda que ainda não haviam florescido. Em pouco tempo, eles viram as abelhas usando suas mandíbulas para perfurar as plantas. A equipe também tentou replicar o que as abelhas faziam, usando lâminas de barbear nas folhas.
O experimento descobriu que todas as plantas perfuradas floresceram mais rapidamente, mas as danificadas pelas abelhas produziram flores semanas antes das que os cientistas cortaram. Para os pés de tomate, foram 30 dias, enquanto as mostardas danificadas pelas abelhas viram flores desabrocharem 14 dias antes.
Isso sugere que ou um produto químico na saliva das abelhas acelera o processo de floração, “ou que nossa imitação manual do dano não foi suficientemente precisa”, diz Consuelo De Moraes, co-autora do estudo e professora da universidade ETH Zürich, em um comunicado.
Para investigar se essas descobertas também se aplicam a lugares onde as plantas são mais dispersas e escassas, a equipe também conduziu um experimento em colônias de abelhas. Elas exibiram o mesmo comportamento, especialmente quando menos flores estavam desabrochando ao seu redor. E não foram apenas as abelhas criadas em cativeiro do laboratório que perfuraram as folhas das plantas. Os cientistas observaram duas outras espécies de abelhas selvagens fazerem a mesma coisa.
O estudo sugere que as abelhas desenvolveram o comportamento de se adaptar às condições quando o pólen não está presente. Estas são boas notícias, e não somente para elas próprias. Como as abelhas polinizam as plantas e as ajudam a crescer, muitas espécies dependem delas para alimentação — entre elas, nós, humanos. Cerca de um terço da comida que os seres humanos comem todos os dias depende da polinização, principalmente pelas abelhas.
“Uma interpretação encorajadora das novas descobertas é que as adaptações comportamentais dos visitantes de flores podem fornecer aos sistemas de polinização mais plasticidade e resistência para lidar com as mudanças climáticas do que até agora se suspeitava”, Lars Chittka, co-autor do estudo e professor da Universidade Queen Mary de London, escreveu em uma carta na Science que acompanhou o novo estudo.
O quanto esse mecanismo de enfrentamento ajudará as abelhas a sobreviver ao caos climático é uma questão em aberto. Um relatório de fevereiro constatou que, devido às mudanças no clima, a chance de sobrevivência das populações de abelhas em qualquer lugar diminuiu em média mais de 30% ao longo de apenas uma geração humana.