Projeto da UFRGS estima mais de 900 espécies de borboletas no Estado

Registrada em 1952 no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, a borboleta Vanessa carye é uma das mais de 800 espécies devidamente catalogadas e armazenadas no Laboratório de Ecologia de Insetos (LEI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A caixa de vidro, cuidadosamente manuseada por Flora Dresch, estudante do curso de Ciências Biológicas e bolsista de iniciação científica no LEI, traz apenas dois exemplares da Vanessa carye, o segundo registro foi no Morro Santana em 2004.

De 1993 até agora, a coleção do programa que estuda a fauna de borboletas do sul da Mata Atlântica e do Pampa dobrou de tamanho. Estima-se que devam existir mais de 900 espécies no estado. Helena Piccoli Romanowski, coordenadora do projeto, pontua que, do total de registros, 400 ocorreram na Região Metropolitana. “A América do Norte tem menos de 800 espécies; a Europa, cerca de 500; e a Austrália, 400. Registrar toda essa riqueza na nossa região é um resultado importantíssimo.”

borboletas ufrgs 2 Gustavo Diehl

O “paraíso das borboletas” é composto por dois biomas: Mata Atlântica e Pampa. A diversidade de fauna e flora desses ambientes se encontraram na Região Metropolitana de Porto Alegre, permitindo que algumas espécies de borboletas sejam registradas em determinada data e nunca mais sejam vistas. É o caso da Vanessa carye. “Eu nunca vi uma dessas, porque aqui não é área de ocorrência delas, vivem em ambientes mais frios. Talvez com o aquecimento global seja cada vez menos provável avistarmos essas borboletas aqui”, explica Lucas Augusto Kaminski, bolsista PNPD-Capes, do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, cientista e pesquisador colaborador no LEI.

O bioma Pampa se conecta com a “diagonal seca” na América do Sul, uma sequência de biomas secos e abertos, que inclui a Caatinga, o Cerrado e o Chaco. “Essas áreas possuem uma dinâmica antiga e relativamente estável, permitindo que as borboletas diversifiquem nesses biomas”, diz Lucas. Por outro lado, as florestas úmidas, como a Mata Atlântica e a Amazônia, são compostas por outras espécies de borboletas. Com as mudanças climáticas, principalmente em decorrência do desmatamento, as florestas estão secando, e os ambientes estão mudando. Com o desequilíbrio, a floresta úmida se tornará seca, e a “diagonal seca” virará deserto. Algumas áreas de floresta mais secas se tornarão caatinga, alterando a vegetação.

O grupo de pesquisa já esteve em mais de 40 regiões do estado gaúcho e arredores (Argentina, Paraguai e Uruguai), com amostra de mais de 130 localidades. Um dos principais resultados dos trabalhos é o conhecimento de quais são as espécies de borboletas que ocorrem no sul do Brasil, uma vez que a fauna do hemisfério Sul do planeta é pouco conhecida.

Na coleção é possível encontrar a menor espécie, a Zizula cyna, que mede entre 1 e 2 centímetros, e a maior, a Caligo (borboleta-coruja), que varia entre 11 e 13 centímetros. 

O conhecimento sobre a fauna e a flora é fundamental para qualquer lugar. No caso das borboletas, são capazes de sinalizar a saúde do ambiente e o que acontece com os outros grupos de seres vivos. A perda de diversidade e abundância de insetos poderá provocar efeitos em cascata nas redes alimentares e pôr em risco os serviços dos ecossistemas. “É impossível imaginar a vida humana sem insetos sobre a terra”, afirma Helena. “Esse é o papel do cientista: fazer pesquisa. Mas também, acima de tudo, o debate científico sobre o que está acontecendo é a real ciência”, finaliza Lucas.

Fonte: UFRGS – Nicole Trevisol

Crédito das imagens: Gustavo Diehl – Secom/UFRGS