Crédito da imagem em destaque: Ronaldo Rosa
“Quais os insetos que polinizam o cacau? O uso de produtos químicos no plantio afeta os polinizadores? Os dias mais quentes prejudicam a fecundação da flor? Nos Sistemas Agroflorestais, qual a quantidade sombra ideal para a polinização?” As dúvidas dos agricultores Edgar Sasahara e José Valdir do Nascimento, do município de Tomé-Açu, no Pará, são objeto de estudo do projeto PolinizaCacau, que está na fase inicial de execução nos estados do Pará e Amazonas. Em reunião realizada essa semana (16/4), em Tomé-Açu, agricultores, técnicos e a equipe do projeto conversaram sobre os objetivos do trabalho, ações de campo e os resultados esperados.
A pesquisadora Márcia Maués, da Embrapa Amazônia Oriental, explica que o objetivo do PolinizaCacau é avaliar os insetos que polinizam o cacaueiro em 21 áreas com diferentes sistemas de produção nos municípios de Tomé-Açu e Medicilândia no Pará, e Manicoré no Amazonas. “Vamos avaliar os visitantes florais em cultivos com baixa sombra ou pleno sol, consórcios de cacau com açaí, cacau em Sistemas Agroflorestais biodiversos e cultivos compostos”, detalha a pesquisadora.
As avaliações serão realizadas para diferentes variedades de cacau (clones e híbridos) atualmente utilizadas no campo. Clones são cópias de plantas melhoradas geneticamente para serem mais produtivas e resistentes a doenças. Já os híbridos são resultado de cruzamentos entre plantas diferentes e trazem características de ambas. O programa de melhoramento genético da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) já desenvolveu ao longo de décadas diversas cultivares de cacau de alta produtividade para diferentes biomas.
O cacau, como explica a pesquisadora, é uma planta com polinização cruzada na maioria da vezes, ou seja, o pólen é transferido da parte da masculina da flor (antera) para a parte feminina da flor (estigma) de uma outra planta. Já os clones são autocompatíveis, a polinização acontece nas mesmas flores ou em flores diferentes de uma mesma planta, tecnicamente chamada de autopolinização.
“Porém o formato das flores do cacaueiro apresentam barreiras que impedem que o pólen por si só seja depositado na parte feminina da flor, por isso a presença de um inseto para fazer esse transporte é fundamental”, acrescenta Márcia Maués. E são mosquitos, pequenas moscas e insetos muito pequenos que fazem esse transporte, como explica a pesquisadora.
Práticas para apoiar o serviço de polinização
No encontro realizado na sede da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açú (Camta), no dia 16/4, agricultores e técnicos conheceram todas as etapas do trabalho, as áreas de coleta e colocaram as principais dúvidas sobre a polinização do cacaueiro.
O agricultor José Valdir do Nascimento, de Tomé-Açu, região Nordeste do Pará, cultiva cacau consorciado com outras espécies, como açaí, andiroba e pupunha, há oito anos e desconhecia o processo de polinização da planta. “Eu não imaginava que era necessário um inseto para fazer esse trabalho. A gente só ouve falar em abelha para polinizar acerola, açaí, mas para o cacau não”, relata o agricultor. Ele ressalta ainda que há muitas dúvidas em torno da manutenção do serviço de polinização nos plantios: “o uso de produtos químicos para eliminar formigas no cultivo prejudica o polinizador?”, questiona.
Nos 38 hectares de cacau com outras frutíferas que o agricultor Edgar Sashara possui em Tomé-Açu, a dúvida é sobre a quantidade de sombra que o consórcio entre as espécies proporciona. “Banana, taperebá, jaca… quais as espécies e o sombreamento mais indicado para ajudar o serviço de polinização?”, pergunta. Para ele, o projeto vai trazer respostas importantes para melhorar a produtividade das lavouras e posicionar melhor o Pará no cenário da cacauicultura nacional.
A pesquisadora Márcia Maués explica que nas áreas selecionadas para o inventário dos visitantes florais, as práticas agrícolas também serão avaliadas. “Queremos entender se as práticas realizadas pelos agricultores e a paisagem no entorno dos cultivos beneficiam ou não a polinização, e também gerar recomendações técnicas e práticas para melhorar esse serviço e assim contribuir para a atividade cacaueira na Amazônia”, finaliza.
O projeto PolinizaCacau é coordenado pela Embrapa e tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.). O projeto conta com a parceria da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) e tem participação de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade de Brasília (UnB), Instituto Tecnológico Vale (ITV), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT) e Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ/UFRJ).
Fonte: Embrapa – Ana Laura Lima / Embrapa Amazônia Oriental