“A presença natural de abelhas e outros polinizadores em açaizais aumenta a produtividade em até 25% em cada planta”

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Crédito: Ronaldo Rosa / Embrapa

Há 15 ou 20 anos, pouca gente Brasil afora conhecia o fruto nativo das áreas de várzea do delta do Rio Amazonas. Alimento tradicional das comunidades Região Norte e rico em nutrientes, o açaí se popularizou e ganhou mercado em grandes praças no País e no mundo, inclusive com novas formas de consumo: polpa industrializada, ingrediente para sucos, bebidas energéticas, iogurtes e sobremesas. Além disso, seu corante natural (antocianina) é antioxidante, com aplicação nas indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética.

Em 2006, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram produzidas 99 mil toneladas no Pará. Em 2016, 1 milhão de toneladas, quase 99% de toda a produção nacional no período.

Polinizadores

O açaí é produzido por dois tipos de sistemas: o manejo de açaizais nativos em várzea e o cultivo em terra firme, sendo este o meio pelo qual a cultura mais se expande atualmente.

Os açaizais nativos das várzeas trazem na sua composição florística uma predominância da palmeira do açaí, entre outras várias espécies botânicas. A produção de açaí nas várzeas é basicamente uma atividade extrativista. Antes de terem uma orientação técnica, os produtores das várzeas derrubavam a maior parte das espécies vegetais, deixando somente o açaí nativo e às vezes ainda plantavam mais pés de açaizeiro, transformando um ambiente biodiverso praticamente em um monocultivo.

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Crédito Alistair Campell

Com a orientação para o manejo sustentável, essa realidade já está mudando, e o cultivo orientado (inserção de novos pés de açaizeiro com espaçamento melhor distribuído no açaizal) e a conservação passam aos poucos a fazer parte do cenário, o que é fundamental para evitar impacto para os polinizadores e para a própria produção do fruto, já que se trata de uma cultura altamente dependente dos serviços de polinização.

Em especial, sofrem as abelhas nativas. As abelhas sem ferrão, por exemplo, precisam de alimento, oferecido pelas plantas nativas e cultivadas no entorno, e locais adequados para construção de seus ninhos (ocos das árvores) em espécies florestais.

“A diversidade das espécies botânicas deve ser mantida para que a produção seja sustentável, o que pode ser alcançado por meio da adoção de práticas de manejo de baixo impacto em longo prazo”, ressalta Márcia Maués, pesquisadora do Laboratório de Entomologia da Embrapa Amazônia Oriental.

Conservação e produtividade

Márcia é coautora de um estudo sobre o tema publicado recentemente no periódico Journal of Applied Ecology, que avaliou os polinizadores e a produção de frutos de açaí em 18 áreas no delta do rio Amazonas – desde açaizais nativos nas várzeas com diferentes graus de intervenção até monocultivos em terra firme. O trabalho foi realizado pelo Dr. Alistair Campbell (pesquisador visitante e pós-doc Embrapa/UFPA).

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Crédito: Cristiano Menezes

“A presença natural de abelhas e outros polinizadores aumenta a produtividade em até 25% em cada planta”, destaca a pesquisadora. “Nos nossos estudos, identificamos mais de 200 espécies de insetos que visitam as flores de açaí, entre eles, abelhas, besouros, moscas e vespas.”

Isso significa que nos açaizais nativos, os produtores não devem remover todas as espécies de plantas para dar espaço para mais palmeiras de açaí. As pesquisas mostram que essa prática, pelo contrário, pode ser prejudicial para a produtividade. “Quanto mais intensivo o manejo da várzea, menor a produção”, enfatiza.

Próximos passos

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Crédito: Alistair Campbell

Os próximos estudos vão concentrar na avaliação de como a paisagem no entorno e dentro dos açaizais (nativa e cultivada) contribui para a melhoria da produção. Além disso, também vão buscar responder como melhorá-la com a introdução e o manejo de polinizadores. “Essas informações são importantes para que os produtores, sobretudo os ribeirinhos, obtenham o melhor de seu cultivo inclusive do ponto de vista ambiental”.

Saiba mais

Como é feita a polinização do açaí

A inflorescência (fase em que se desenvolvem as flores) do açaí consiste em um cacho com várias ráquilas, pequenas hastes que apresentam as duas expressões sexuais: flores masculinas e femininas, numa proporção de 3:1. Além disso, o açaizeiro é autoincompatível. Isso significa que os visitantes florais precisam estar sempre presentes, indo de uma de uma touceira (conjunto de plantas) a outra para colher seu alimento e, assim, realizar os serviços de polinização.

A Embrapa recomenda que um açaizal nativo bem manejado tenha, em um hectare, aproximadamente 400 touceiras, com cinco açaizeiros adultos em cada touceira, 50 palmeiras de outras espécies e 200 árvores.

Manejo de mínimo impacto

Confira também o material que reúne as recomendações para o manejo de mínimo impacto no cultivo de açaí, desenvolvido pela Embrapa. https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/640/manejo-de-minimo-impacto-para-producao-de-frutos-em-acaizais-nativos-no-estuario-amazonico

O artigo Anthropogenic disturbance of tropical forests threatens pollination services to açaí palm in the Amazon river delta, publicado no periódico Journal of Applied Ecology, está disponível em https://doi.org/10.1111/1365-2664.13086.