Da Redação
Além da produção de mel, própolis e outros subprodutos, é conhecido o papel essencial que as abelhas sem ferrão (meliponíneos) exercem na polinização de culturas agrícolas, a exemplo do morango, do açaí, do café e do tomate.
Muitos agricultores, inclusive, já têm conhecimento de que, ao incrementar a polinização por meio da instalação de colmeias em suas lavouras, não apenas podem ampliar a produção como podem melhorar o tamanho dos frutos e sua qualidade.
Contudo, o Brasil não dispõe de abelhas em quantidade suficiente para ampliar o seu uso para esse fim. Para se ter uma ideia, apenas para a produção do morango, são necessárias vinte colônias de abelhas sem ferrão por hectare. Seriam necessárias, portanto, aproximadamente 60 mil colmeias para atender à produção nacional do fruto.
O biólogo e entomólogo Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, se dedica há anos ao estudo das abelhas sem ferrão e seus benefícios na agricultura. Segundo ele, o principal obstáculo a ser superado para atender à demanda no campo é a baixa quantidade de rainhas na maioria das espécies de abelhas sem ferrão, o que limita o número de colônias a serem produzidas.
Mas uma técnica aprimorada por ele, em parceria com pesquisadores de outras universidades brasileiras, deve contribuir para multiplicar o número de rainhas de abelhas sem ferrão.
Mais alimento
Menezes explica que o fator determinante para uma abelha se tornar rainha é a quantidade de alimento que ela ingere. Tendo isso como base, o pesquisador desenvolveu uma metodologia pela qual larvas recém-nascidas das abelhas receberam uma quantidade seis vezes maior de alimento.
“Todas as fêmeas se tornaram rainhas e com uma taxa de sobrevivência de até 97,9%. Nós já verificamos que essas rainhas in vitro são férteis, ou seja, elas puseram ovos e deram origem a novas colônias in vitro”, explica. “Com isso, foi possível estabelecer um protocolo, o que viabiliza comercialmente o sistema de produção, de maneira sustentável”.
Com o uso da técnica, uma colônia pode gerar 10 colônias-filhas por ano. Menezes estima que já em 2015 terão sido geradas 300 colônias, dando origem à 3 mil novas colônias-filhas que poderão ser alugadas ou compradas. Atualmente esse sistema de produção está em fase experimental, com apoio do programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). Para esse trabalho, o pesquisador conta com a colaboração da Promip, empresa especializada em manejo integrado de pragas.
O estudo de reprodução em massa das abelhas in vitro foi realizado em parceria com colegas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa).
Ficha técnica
Entrevistado: Cristiano Menezes
Instituição: Embrapa Amazônia Oriental
Tema: Produção em massa de abelhas sem ferrão para polinização de culturas agrícolas