Abelhas são insetos muito sensíveis às mudanças em seu habitat. Seca, chuva em excesso, calor e frio podem interferir diretamente na produção melífera. Para cuidar da sobrevivência das colmeias, o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e conselheiro da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), Breno Freitas, dá dicas de conservação do enxame em situações extremas.
Esses insetos agem em conjunto para regular as condições climáticas no interior da colmeia, mas para isso existe um limite. Segundo o professor, nos locais com excesso de calor, as abelhas procuram por água e buscam ventilar a colmeia.
Se o calor continua, os insetos se espalham entre os favos aumentando o espaço entre os indivíduos para permitir a circulação de ar. Se isso não funcionar, eles param de trabalhar. Então parte das abelhas sai da caixa para reduzir o calor corporal gerado dentro da colmeia e forma grandes barbas ao redor da entrada dos enxames. Se também não der certo, as larvas começam a morrer e as abelhas abandonam a colmeia.
No caso de muito frio, os insetos param de trabalhar e se aglomeram sobre a área de cria para conservar o calor corporal e aquecer as larvas. Nesses casos, as abelhas também consomem mel e vibram a musculatura indireta de voo para gerar calor. Larvas que ficam fora dessa cobertura morrem de frio. Nos casos de temperaturas extremamente baixas, as abelhas da periferia do aglomerado perdem muito calor e resfriam. Então, para não morrerem, revezam com as abelhas que estão na parte mais interna, de forma que possam se aquecer novamente, e o processo continuar.
“É importante que a reserva de mel ou alimentação dada pelo apicultor esteja logo acima do aglomerado de abelhas, pois nessa situação de muito frio as abelhas não abandonam a formação para procurar por alimento em outras partes da colmeia, morrendo de fome e frio mesmo que haja alimento na colmeia”, alerta Freitas.
A temperatura ideal para a espécie de abelha que exploramos na apicultura, a Apis mellifera ou africanizada, como é conhecida, varia de 33°C a 36°C, e a temperatura dentro do ninho quando há a produção de larvas é mantida dentro desse intervalo. Caso não haja larvas, a temperatura pode variar fora desses limites. Temperaturas abaixo de 33°C são consideradas frio e acima de 36°C, calor.
As abelhas têm mecanismos de controle da temperatura corporal. “Os insetos adultos conseguem ir a campo e trabalhar até temperaturas de 12°C porque o calor que geram ao voar compensa a perda de calor para o ambiente. Abaixo disso, a abelha morre de frio”, explica o pesquisador.
“Por outro lado”, continua Freitas, “quando o calor é grande, as abelhas conseguem voar até temperaturas de 40°C. Os insetos se refrescam colocando gotas de néctar ou com água que trazem no papo na língua, para que evaporem e eliminem o excesso de calor”. Acima dos 40°C as abelhas têm grandes dificuldades de voar e geralmente permanecem na colmeia.
Breno Freitas explica que, em condições extremas, as abelhas não conseguem produzir mel. “A questão é evitar que abandonem as colmeias e assegurar a sobrevivência da colônia no melhor estado possível para que venham a produzir bem quando as condições favoráveis retornarem”, indica.
Os cuidados que os apicultores devem tomar variam se a região atinge mais picos de frio ou de calor. Veja as dicas do especialista:
Em locais quentes
- Escolha bem onde vai colocar as caixas de abelha. As colmeias devem estar sombreadas, com árvores ou coberturas, para evitar a elevação interna da temperatura e o desgaste das abelhas em buscar ventilação e grandes quantidades de água, ao invés de buscar néctar e pólen. “Caso isso não seja feito, pode-se ter grande mortandade de larvas e até o abandono da colmeia por parte das abelhas”, ensina Freitas.
- Disponibilize fontes de água limpa e abundante na proximidade das colmeias. Na falta de alimento natural no campo, ou seja, as floradas das plantas, deve-se alimentar as colônias ou dividir o apiário em várias unidades menores (por exemplo, um apiário de 60 colmeias seria dividido em quatro apiários de 15 colmeias) em locais diferentes da propriedade. “A ideia é diminuir a quantidade de abelhas em busca de alimento em uma mesma área e ao mesmo tempo”, conta o especialista. Se nada disso der resultado, o apicultor deve migrar com as abelhas para locais onde a situação de floradas esteja melhor.
Em locais frios
- Na escolha do local para os apiários, evite pontos onde vente muito;
- Se a época fria for caracterizada por dias com pouca luminosidade e sol, evite locais expostos; porém se o frio for associado a dias de céu limpo, sem nuvens e ventos, então o apiário deve ser localizado a céu aberto para receber a luminosidade e ajudar a aquecer a colmeias;
- As entradas das colmeias também devem ser voltadas para o lado contrário ao dos ventos prevalecentes na região, mesmo que sejam fracos. O apicultor também deve reduzir a entrada da colmeia para barrar os ventos;
- Assegure-se de que haja reservas de mel suficientes nas colmeias para os dias em que as abelhas não puderem ir a campo para buscar alimento. Na falta de mel, alimente as colônias com produtos adequados;
- Evite abrir as colmeias no frio, mesmo que rapidamente. Isso leva à perda de calor e as abelhas terão um desgaste enorme de energia e de alimento para conseguir elevar a temperatura até as condições aceitáveis novamente.
Fonte: Revista Globo Rural – Teresa Raquel Bastos