Por Annelise Rosa-Fontana e Adna Dorigo
Pela primeira vez no Brasil, desde 2017, abelhas devem ser incluídas em avaliações de risco de agrotóxicos, conforme estabelecido na Instrução Normativa (IN) n° 02/2017, publicada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). A IN condiciona registros de agrotóxicos à apresentação de informações que permitam o uso adequado desses produtos, sem efeitos que comprometam a sobrevivência, a reprodução e o desenvolvimento das abelhas. Para atingir resultados deste âmbito, o IBAMA conta com um Grupo Técnico de Trabalho sobre procedimentos de avaliação de risco de agrotóxicos para abelhas, composto por pesquisadores de diversas instituições de ensino e pesquisa que o assessoram tecnicamente nas discussões.
As normativas brasileiras se baseiam nos protocolos padronizados pela Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD), que utiliza a espécie Apis mellifera como organismo-modelo. Um dos principais questionamentos do IBAMA é em relação à segurança do uso como organismo modelo de uma espécie exótica (no caso A. mellifera) como substituta das demais espécies nativas do Brasil nestas avaliações.
“Com base nessa vertente, pesquisadoras do Laboratório de Ecotoxicologia e Conservação de Abelhas (LECA) (UNESP, Rio Claro), Dra. Annelise Rosa-Fontana e MSc. Adna Dorigo, em parceria com os professores Osmar Malaspina (UNESP) e Roberta Nocelli (UFSCar), concentram seus esforços na padronização de método de criação in vitro de abelhas sem ferrão, com base na premissa de que os sistemas de desenvolvimento larval entre a espécie exótica e abelhas sem ferrão diferem em vários aspectos, principalmente quando se trata da forma de alimentação e tempo de desenvolvimento. Os primeiros resultados que atendem parâmetros essenciais para uma padronização, tais como taxas médias de mortalidade e emergência de indivíduos muito similares entre os diversos experimentos sequenciais realizados, foram obtidos com a espécie Melipona scutellaris.”
O trabalho “Padronização de um método de criação larval in vitro para a espécie de abelha sem ferrão Melipona scutellaris para uso em estudos de bioensaios toxicológicos contendo os principais resultados desta pesquisa”, foi selecionado para apresentação oral na sessão “Desenvolvimentos recentes em avaliações de risco ambiental para polinizadores”, no 28º Encontro Anual Europeu da Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental, realizado de 13 a 17 de maio de 2018, em Roma. A sessão contou com a apresentação de diversos outros trabalhos.
Foi demonstrado que o tamanho de indivíduos e os padrões de assimetria de asas de abelhas emergidas in vivo assemelha-se às produzidas em favos naturais, além das taxas uniformes de mortalidade e emergência. Com base nos resultados, as autoras concluem que este método pode ser considerado representativo para futuras aplicações em estudos de bioensaios toxicológicos em abelhas sem ferrão durante a fase de imaturos. Essa proposta de método é essencial, pois, de acordo com a OECD, para a validação de um método e para que o mesmo seja considerado como protocolo, vários laboratórios em diferentes localidades devem desenvolver a mesma proposta (chamada de “ring-tests”), a fim de se encontrar os mesmos resultados.
A expectativa das autoras é que, dentro dos próximos quatro anos esta pesquisa possa resultar na inclusão de abelhas sem ferrão nos protocolos da OECD e, evidentemente na inserção deste grupo na legislação brasileira. Até lá, as autoras esperam apresentar os resultados obtidos com outras espécies de abelhas sem ferrão, incluindo os efeitos de agrotóxicos sobre imaturos, resultado das pesquisas em andamento.
Annelise Rosa-Fontana e Adna Dorigo são pesquisadoras da Unesp-Rio Claro