Os benefícios das florestas para a saúde humana

Embora a importância da preservação da natureza para o bem do planeta seja um consenso, a cada ano, o desmatamento, a ação de insetos, incêndios e secas são responsáveis pelo desaparecimento de dezenas de milhões de hectares.

Para a saúde humana, os benefícios de florestas envolvem purificar a água, limpar o ar, capturar carbono para combater a mudança climática, fornecer alimentos, medicamentos e melhorar o bem-estar.

As florestas fornecem, direta ou indiretamente, benefícios importantes para a saúde de todas as pessoas – não apenas aquelas cujas vidas estão intimamente ligadas aos ecossistemas florestais, mas também pessoas distantes das florestas, incluindo populações urbanas.

O assunto é destaque de um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) na semana passada. Segundo o documento, o reconhecimento da importância das florestas para a segurança alimentar e nutricional aumentou significativamente nos últimos anos, mas seu papel na saúde humana recebeu menos atenção.

Especialistas defendem que ao se discutir as ligações com as florestas, é essencial abordar a saúde e a nutrição ao mesmo tempo. As florestas também fornecem uma ampla gama de benefícios para a saúde e o bem-estar humanos. Estima-se que 50 mil espécies de plantas sejam usadas para fins medicinais.

“Em tempos de crise, temos que restaurar a importância de um futuro verde e sustentável. O dia oferece a oportunidade para ressaltar como florestas são importantes para todos os aspetos da nossa saúde, da saúde animal e da saúde do planeta. Florestas limpam o ar que respiramos e a água que bebemos. Nos dão alimento, combustível, remédios e renda. Florestas são essenciais para o nosso bem-estar. Pensemos na importância que as florestas, ou mesmo uma árvore, têm em nossas vidas. Celebremos as florestas. Cuidemos delas e assim teremos um futuro saudável”, afirmou a especialista de Gestão de Programas de Assuntos Florestais nas Nações Unidas, Bárbara Távora, em comunicado.

floresta

Estudos revelam que uma visita a um ambiente florestal pode provocar a queda da pressão arterial e da pulsação, além de reduzir a substância com influência nesses problemas de saúde, o cortisol. A lista de funções utilitárias das matas inclui seu papel na redução da pobreza e para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

No documento da ONU, especialistas ressaltam que as florestas urbanas e periurbanas fornecem espaço verde para exercícios e recreação e auxiliam na recuperação do estresse da vida urbana.

Evidências crescentes mostram uma relação positiva entre a exposição às florestas e o bem-estar mental, físico, social e espiritual – pilares interligados da boa saúde. De acordo com a ONU, os benefícios são provavelmente maiores para aqueles que vivem em áreas urbanas e cujas necessidades básicas de saúde, como nutrição e moradia, por exemplo, são amplamente atendidas.

Parques e áreas florestais oferecem oportunidades para atividades físicas ao ar livre, que comprovadamente reduzem o risco de transtornos mentais, como depressão e doenças não transmissíveis. Esses problemas de saúde geralmente afetam desproporcionalmente grupos vulneráveis e desfavorecidos socioeconomicamente e estão frequentemente associados ao estresse crônico e à má alimentação, bem como à atividade física insuficiente.

Além de reduzir o ruído dos grandes centros, a vegetação reduz o efeito de ilha de calor urbano, que pode ser letal durante as ondas de calor, e absorve a poluição do tráfego e da indústria, ajudando assim a proteger contra doenças respiratórias.

Consumo de alimentos da floresta

Florestas fornecem produtos comestíveis que contribuem com macro e micronutrientes para uma dieta saudável, como frutas, folhas, nozes e sementes, cogumelos, mel, carne silvestre e insetos.

mel alimento

Embora os alimentos da floresta possam ter um papel pequeno em termos de calorias, eles formam uma parte crítica das dietas comumente consumidas pelas populações rurais, que muitas vezes são pobres e sofrem de insegurança alimentar, segundo a ONU. Os alimentos da floresta também contribuem para a diversidade alimentar, o que aumenta a diversidade do microbioma intestinal para melhorar a saúde.

Globalmente, estima-se que 820 milhões de pessoas estejam subnutridas e mais de 2 bilhões de pessoas tenham deficiência de micronutrientes. Um estudo de dados de 43 mil famílias em 27 países da África constatou que a diversidade alimentar de crianças expostas às florestas era pelo menos 25% maior do que a das crianças que não eram.

De acordo com a ONU, os alimentos da floresta são de particular valor nutricional e cultural para as comunidades indígenas. Um estudo de 22 países na Ásia e na África constatou que as comunidades indígenas usam uma média de 120 alimentos silvestres por comunidade. Na África Central, a carne selvagem e os produtos da pesca respondem por 85% da ingestão total de proteínas dos povos da floresta.

Medicamentos

As doenças representam um desafio particular para a sobrevivência dos povos da floresta, aponta a ONU. As doenças transmissíveis são particularmente diversas nos ecossistemas florestais, especialmente nos ecossistemas tropicais úmidos e quentes. Além disso, comunidades florestais geralmente estão distantes dos serviços de saúde.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que pelo menos 80% da população mundial depende da medicina tradicional para atender às necessidades de cuidados primários de saúde. O que destaca como o conhecimento local das plantas medicinais como uma parte importante dos sistemas tradicionais de saúde.

Plantas medicinais nas florestas são usadas pelos humanos há pelo menos 5 mil anos. O número total de espécies de plantas usadas para fins medicinais pode chegar a 50.000.

O relatório da ONU aponta que mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo usam ervas e remédios caseiros para tratar a diarreia infantil.

Na Índia, por exemplo, plantas florestais são comumente usadas para tratar uma série de doenças e condições, incluindo picada de cobra, asma, icterícia, problemas ginecológicos, bronquite, reumatismo, hanseníase, diabetes e pneumonia. Na China, quase 5.000 das mais de 26.000 espécies de plantas nativas são usadas como medicamentos.

Mudança climática

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) fez um apelo para que os países possam proteger estes recursos naturais que por ano desaparecem 10 milhões de hectares por causa do desmatamento. A quantidade equivale ao tamanho da Islândia.

A ação danosa de pragas de insetos é outro fator causando perdas florestais de cerca de 35 milhões de hectares anuais. Mesmo com benefícios ecológicos, econômicos, sociais e de saúde inestimáveis, as florestas também estão ameaçadas por incêndios e secas sem precedentes.

CNN Brasil – Lucas Rochada