Por Daniel Augusto Cavalcante
O mercado de mel brasileiro possui um grande potencial a ser explorado. O Brasil vive um momento particular no setor com considerável aumento nas exportações e, consequentemente, alta nos preços. No entanto, a oportunidade de demanda e os incrementos de rentabilidade não têm sido aproveitados pelos apicultores para elevar a volume de mel produzido no país.
De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), em 2017, o Brasil era o 11º maior produtor de mel do mundo, com 41,5 mil toneladas. Em 2019, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção foi de 45,9 mil toneladas, volume 10,60% maior que em 2017, porém insuficiente para incluir o Brasil na lista dos 10 maiores do mundo.
No entanto, podemos e devemos crescer muito mais. A produtividade de mel no Brasil é baixa quando comparada a outros países. Os 101 mil apicultores do país, segundo o Censo Agropecuário de 2017, registraram uma média de produção por colmeia de 19,80 quilos de mel por ano.
Na Argentina, esse índice é de 35kg por colmeia/ano, nos EUA é de 30kg, na Austrália de 105kg e na China, 100kg. Isso significa que, com número semelhante de colmeias, na ordem de 2 milhões, o Brasil e a Argentina têm uma disparidade acentuada na produção anual de mel.
Essa análise aponta para um fator essencial para ampliação do enorme potencial do mercado apícola brasileiro, sobretudo na produção de mel. A baixa produtividade dos apicultores brasileiros não se deve ao número de colmeias manejadas e, sim, ao manejo apícola atual.
A questão está diretamente relacionada à visão do apicultor sobre a criação de abelhas. Os números do Censo Agropecuário de 2017 mostram uma média nacional de 21 colmeias por apicultor. Esse número baixo indica que, para a maioria dos criadores de abelhas, essa atividade não é a principal renda. É a terceira, às vezes, a quarta renda de sua família.
Grande parte do mel produzido no país vem de apicultores sem capacitação técnica e dedicação plena aos apiários. Cuidados mínimos de manejo para o incremento de sua produtividade ficam em segundo plano ― isso quando são implantados.
“Na apicultura, é mandatória a busca e A disseminação de conhecimento técnico sobre as boas práticas de produção”
Com poucas e efetivas ações de manejo e de boas práticas apícolas, é possível melhorar a produtividade para índices próximos da Argentina e do México, o que já nos levaria aos volumes produzidos pelos três maiores produtores de mel do mundo.
Na apicultura, a produtividade é dependente da localização dos apiários, da gestão do manejo apícola no campo e das atividades de migração das colmeias, de acordo com as floradas, sendo mandatória a busca e disseminação de conhecimento técnico sobre as boas práticas de produção.
Aumento de consumo
Além do fator produtivo, outro potencial a ser explorado para o nosso mel envolve estimular o gosto do brasileiro pelo produto. Enquanto a média mundial de consumo de mel está em 240 gramas per capita por ano, o consumo interno do produto pelo brasileiro é um dos menores do mundo: 60 gramas.
Isso representa aproximadamente 15 mil toneladas de mel, sendo 53% destinados para mel de mesa, utilizado para adoçar bebidas, frutas ou consumo in natura; 35% consumidos pela indústria de alimentos e utilizados como ingredientes; e os últimos 11% consumidos pela indústria de cosméticos, tabaco e ração animal.
Existe muito a fazer para melhorar a percepção do apicultor e do consumidor quanto a importância do mel para a saúde, agregação de renda, estabilidade na produção e exportação. Trabalhos de associações, do poder executivo em todas as esferas e dos entrepostos de mel devem ser direcionados para a uma maior conscientização dos apicultores da importância da gestão de manejo efetiva e profissional no curto prazo.
Com a pandemia do novo coronavírus, o mundo passou a consumir mais esse alimento natural das abelhas. Devemos nos valer dessa oportunidade para elevarmos, de uma vez por todas, a produção do mel brasileiro, que é valorizado e reconhecido internacionalmente pela sua qualidade.
Isso tudo sem mencionar a grande importância do serviço de polinização que as abelhas prestam não só para a conservação da biodiversidade, mas também para o incremento e otimização na produção de alimentos. A diversidade de nossas abelhas oferece uma rica oportunidade para o país. Temos que aproveitá-la!
Daniel Augusto Cavalcante é doutor em Tecnologia de Alimentos pela UNICAMP e CEO da Baldoni, empresa apoiadora da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.)
Artigo originalmente publicado em Vozes do Agro, da Revista Globo Rural (21/6/2021).