Flores roxas e brancas da cultura do nabo forrageiro que enfeitam o campo experimental da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna -SP, anunciam que as culturas de inverno, usadas como cobertura do solo no período de seca, também podem carregar a nobre estratégia de disponibilizar alimentação equilibrada para as abelhas.
Abelhas africanizadas (Apis mellifera) viajam de flor em flor em perfeita harmonia com as abelhas nativas (sem ferrão) Jataí, Iraí, Arapuá, Mandaçaia e Uruçu-Amarela na frenética tarefa de recolher o pólen.
O nabo forrageiro, espécie da família das Crucíferas, é conhecido cientificamente por Raphanus sativus. Versátil e resistente, é uma cultura muito utilizada para Adubação Verde no período de outono-inverno, na rotação e ou sucessão de culturas como algodão, soja e milho, devido sua alta capacidade de reciclagem de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo. Vigorosa, a planta cobre o solo rapidamente e funciona muito bem no controle de plantas daninhas.
Conforme explicou o pesquisador da Embrapa, Cristiano Menezes, a escolha pelo nabo forrageiro se deu pela característica de ser uma cultura pouco exigente e tolerante à períodos de baixa ocorrência de chuvas e suas inflorescências, que duram por mais de 30 dias, são uma fonte de alimentação equilibrada para esses insetos polinizadores.
“Indicamos o uso da cultura nesse período, pois o inverno é naturalmente a fase do ano mais difícil para as abelhas encontrarem boas fontes de alimento, onde a fome e o desequilíbrio alimentar são uma ameaça em potencial para a sobrevivência delas,” diz Menezes.
Quanto custa alimentar as abelhas
A Embrapa Meio Ambiente tem se dedicado para que seus campos experimentais ajudem no fornecimento de alimento extra para as abelhas. Ao final dos experimentos, as áreas são recuperadas com Adubo Verde e a preferência é para as opções que também fornecem néctar e pólen para os polinizadores.
“No verão, plantamos crotalaria e girassol, que as abelhas adoram. No inverno, uma ótima opção é o nabo forrageiro”, explica o supervisor dos campos experimentais da Embrapa Meio Ambiente, Henrique Barros Vieira.
O custo é relativamente baixo. O agricultor precisará de 15kg a 20kg de sementes por hectare, que representa cerca de R$150/ha de investimento. O período de semeadura vai de março a julho e pode ser feito a lanço ou em linha.
“Nesse ano plantamos cerca de 10 hectares com nabo forrageiro. Tenho certeza que as abelhas daqui não passarão fome nesse inverno”, diz Henrique.
Importância da conservação de insetos polinizadores
A polinização é a transferência do pólen da estrutura reprodutiva masculina de uma flor para a feminina, para que aconteça a fecundação dos óvulos e a propagação da espécie. Esse processo é vital para a formação de sementes e frutos.
As abelhas são agentes polinizadores por excelência. O Brasil, possui cerca de 2000 espécies nativas, sendo 300 delas sem ferrão, subdivididas em 29 gêneros, como Melipona, Trigona, Scaptotrigona, Tetragonisca, entre outras. Além de produzir mel, própolis, pólen e cera, também são importantes para a agricultura.
Esses insetos são vitais na polinização para diversas culturas de frutas, como morango, melancia e melão. Alguns estudos apontam também a possibilidade da convivência harmônica das abelhas com a plantação de grãos, como soja, café, feijão e algodão, onde a relação das abelhas com a agricultura pode render uma produtividade de até 30% maior nessas culturas. No caso da soja, em particular, o grão mais produzido no Brasil, há ganhos consideráveis no número e no peso das vagens e também no aumento do número de sementes.
“Plantar para alimentar as abelhas significa investir no futuro do próprio agricultor. Essa simples ação vai aumentar a abundância e diversidade de polinizadores ao seu redor. E na safra seguinte, ele vai colher mais frutos, mais sementes e com melhor qualidade”, diz Cristiano.
Fonte: Embrapa Meio Ambiente – Marcos Vicente
Crédito da imagem em destaque: Embrapa/Luiz Henrique Magnante