Por Kátia Paula Aleixo, José Maurício Ambrósio do Amaral e Décio Luiz Gazzoni
As Boas Práticas são fundamentos de sucesso em qualquer atividade do agronegócio. Não é diferente com a apicultura. Quando essa atividade é desenvolvida com o objetivo de gerar renda, seu retorno financeiro depende diretamente da localização dos apiários, da gestão das atividades apícolas no campo e das práticas aplicadas no manejo das colmeias, ou seja, do conhecimento que o apicultor possui sobre as abelhas. Para obter colmeias populosas, saudáveis e, consequentemente, maior produtividade e rentabilidade, é necessário que o apicultor inclua em sua rotina de trabalho as ações mencionadas, que formam a base da apicultura profissional no campo. Grande parte dos apicultores conhece a importância dessas ações para uma boa produção de mel e demais produtos apícolas, porém não as usam em sua rotina ou usam somente parte delas. Dentro desse contexto, a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), em parceria com o apicultor José Maurício, instalou um apiário experimental com o objetivo de demonstrar aos apicultores a importância do correto manejo apícola. Essas ações devem compor uma programação anual, com o objetivo de manter colmeias vivas, populosas e altamente produtivas em mel.
Metodologia
O apiário experimental está localizado no município de Itatinga-SP, cuja vegetação original é formada por manchas de mata nativa, que corresponde ao cerrado e Floresta Estacional Semidecidual. Localiza-se na região de maior produção de eucalipto do estado de São Paulo, razão pela qual existe uma concentração de apicultores dedicados à produção de mel. A vegetação, em um raio de 3 km do apiário, é composta por plantações de eucalipto, mata nativa e pastagem.
O apiário experimental possui 20 colmeias, todas do tipo Langstroth acomodadas em cavaletes individuais, e foi instalado em novembro de 2016, quando as colmeias estavam populosas para a divisão e o clima apresentava temperaturas mais elevadas e baixa pluviosidade. As colmeias foram obtidas por meio de divisões de colmeias altamente populosas do plantel do apicultor e, após a instalação, foram divididas em dois grupos de 10 colmeias e numeradas de 1 a 10 seguidas das letras A e B. No grupo (A) foram estabelecidas ações de manejo produtivo atreladas a um calendário de atividades apícolas em campo, enquanto o grupo (B) não está recebendo as ações em manejo produtivo, sendo mantido sem intervenções. O modelo de planilha, com um calendário de atividades de campo para o manejo produtivo adequado e para a coleta de mel, pode ser visto abaixo:
Até o momento, duas ações de manejo produtivo foram aplicadas para diferenciar os dois grupos. As rainhas das 20 colmeias foram trocadas após as divisões dos enxames, porém o grupo (A) recebeu rainhas selecionadas a partir das melhores colmeias. Dentre as que mais produziram mel na safra passada, foram selecionadas as colmeias menos defensivas, as quais forneceram larvas para a produção de rainhas. Portanto, as rainhas introduzidas no grupo (A) detinham as características genéticas de alta produção da rainha e baixa agressividade das operárias. Já as rainhas do grupo (B) foram puxadas naturalmente, sem seleção. Outro aspecto que diferenciou os dois grupos foi a alimentação suplementar, para estimular o crescimento populacional anterior à florada de eucalipto. Assim, enquanto as colmeias do grupo (B) não receberam qualquer suplementação alimentar, aquelas do grupo (A) foram tratadas com xarope de açúcar invertido e uma ração proteica comercializada para o mercado apícola. A ração contém extrato de soja, levedo de cerveja inativado, 10 aminoácidos essenciais para a sobrevivência e bom desenvolvimento das abelhas, além de vitaminas e sais minerais, como ferro e cálcio. A suplementação alimentar foi iniciada 10 dias após a instalação do apiário e suspensa no final de janeiro, com o início da floração do eucalipto, tendo sido fornecidos dois litros de xarope por colmeia a cada sete dias, em alimentadores de cobertura. A ração foi oferecida fora da colmeia, também a cada sete dias, em um alimentador coletivo, caracterizado por um ninho distante cerca de cinco metros das colmeias, simulando a coleta de pólen em flores.
Resultados obtidos
Foram efetuadas três coletas de mel da florada de eucalipto, uma no início de março e outras duas no início de abril e maio de 2017. Pelos resultados da coleta, foi possível verificar que as ações de manejo produtivo produziram efeitos positivos na produção média de mel nas colmeias do grupo (A). Não foi verificada diferença no número de colmeias produtivas entre os dois grupos, pois na primeira retirada houve sete colmeias produtivas no grupo (A) e seis colmeias produtivas no grupo (B). Na segunda e terceira retiradas, houve oito colmeias produtivas em ambos os grupos. Entende-se como colmeias produtivas aquelas que contenham favos estocados com mel em células operculadas, chamado popularmente de mel maduro.
A diferença marcante entre os dois grupos foi na produção total, refletida na quantidade de melgueiras retiradas em cada grupo, e, consequentemente, na produção média das colmeias. Enquanto no grupo (A) foi coletado um total de 624 Kg de mel, no grupo (B) foram coletados 373 Kg. Considerando cada grupo, as colmeias produziram, respectivamente, uma média de 62 Kg (grupo A) e 37 Kg (grupo B) de mel. Levando em conta o preço de R$ 12,20 para o quilo do mel comercializado em Itatinga, o apicultor elevaria seu ganho financeiro em R$ 3.062,20 com três coletas de mel em um único apiário seguindo as boas práticas de manejo apícola acima referenciadas. A margem do produtor será proporcional ao número de apiários que disponha, e pode ser potencializado pelas floradas da região, quando pode atingir até seis coletas de mel no ano. Vamos continuar estudando o efeito de melhores práticas de manejo apícola, porém os resultados obtidos até o momento demonstram que o adequado manejo das colmeias pode fazer toda a diferença na sustentabilidade econômica dos apicultores, razão pela qual devem ser criteriosamente observados. O acesso ao conhecimento associado às novas tecnologias empregadas na área de produção têm se tornado cada vez mais essenciais para o crescimento da atividade apícola como um todo.
Kátia Paula Aleixo é entomologista e Conselheira Científica da A.B.E.L.H.A.
José Maurício Ambrósio do Amaral é apicultor.
Décio Luiz Gazzoni é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e Conselheiro Científico da A.B.E.L.H.A.