Mel garante renda a produtores no Ceará, mesmo na seca

Um grupo de apicultores vem conseguindo superar dificuldades decorrentes da seca mantendo produção de mel de abelha na Serra dos Batistas, zona rural de Parambu, na região dos Inhamuns. A renda oriunda da agricultura familiar está assegurada. O projeto motiva a articulação comunitária e mantém uma colheita orgânica, valorizando e favorecendo a comercialização do produto.

Denominado Aroeira, o projeto incentiva o cultivo de árvores nativas. Além da aroeira, ipê, juazeiro, sabiá e angico fornecem a florada, matéria-prima para a produção de mel de abelha. “A venda do produto é assegurada. Não há dificuldades de comercialização”, disse Ademar Oliveira Loiola, presidente da Cooperativa Agropecuária de Apicultores de Parambu.

Os apicultores estão envolvidos no trabalho de reflorestamento da Caatinga. Há um trabalho de produção de mudas que já chega a 12 mil unidades. O projeto conta com a parceria da Secretaria do Meio Ambiente do Município. O esforço é para que cada agricultor contribua com o cultivo das plantas nativas.

Apoio

A produção de mel de abelha começou há 12 anos, com um pequeno grupo reunindo 30 produtores. “Fomos produzindo, vendendo e aprendendo que era importante o trabalho associativo e as técnicas modernas”, frisou Loiola. Para preparar os apicultores há capacitações por técnicos do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE).

Os resultados da produção e o crescimento da renda familiar contribuíram para atrair novos produtores. O grupo já chega a cerca de 200 apicultores integrados à cooperativa. A produção de mel surgiu como alternativa ao cultivo tradicional de grãos (milho e feijão) de sequeiro.

Muitos agricultores passaram a cultivar fruteiras e hortaliças e a criar animais – ovinos e caprinos. “O mel passou a ser um acréscimo, sem atrapalhar outras atividades na agricultura. Mesmo mediante o quadro de seca, com queda na produção, as famílias estão satisfeitas e fazem uma avaliação positiva da apicultura”, frisou Loiola.

Os cinco anos seguidos de estiagem provocaram uma queda na produção de 200 toneladas por ano para 40 toneladas. “Estamos conseguindo nos manter e esperando esse período ruim passar”, frisou o apicultor Miguel Pereira de Oliveira. Na região, o potencial de produção é de 300 toneladas/ano. “Acreditamos que a produção vai ser retomada a partir do próximo ano. A vantagem é que a floração se recupera rápido, aumentando a produção de mel nas colmeias”, prevê Loiola.

O preço de comercialização do balde de 25 quilos é de R$ 251. A venda ocorre para empresas de São Paulo e da cidade do Crato, para fins de exportação para outros países. “O preço está bom, mas ainda pode melhorar”, disse Loiola. A ideia dos apicultores é fracionar e dar valor agregado ao produto.

Para o técnico do Sebrae, Renato Bizerra, o acolhimento dos apicultores ao projeto foi decisivo para o crescimento da atividade em Parambu. “É uma cooperativa que deu certo e a produção é de mel puro, segundo florada da época. Existe uma demanda assegurada e a produção é sustentável e tende a crescer”, frisou.

Um grupo já vem comercializando o produto para a merenda escolar, por meio do Programa de Aquisição da Agricultura (PAA), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As vendas têm teto de R$ 8 mil por ano por família. São 35 apicultores envolvidos no projeto. Em média, cada família de apicultor tem uma renda mensal estimada em R$ 1.200. “É um complemento a outras atividades, sem ocupar muito tempo”, disse.

Sustentabilidade

O secretário de Meio Ambiente de Parambu, Paulo Siqueira Tenório, observou que o Projeto Aroeira tem crescido bastante nos últimos anos apesar das dificuldades oriundas da estiagem que castiga o sertão desde 2012. “Além de ampliar a renda familiar, contribui para a preservação ambiental, sem uso de agrotóxico e de queimadas. Firmamos parceria com o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, distribuímos mudas nativas e o programa está bem avançado”, destacou.

O presidente do Pacto do Meio Ambiente dos Inhamuns e dos Sertões de Crateús, Jorge de Moura, avalia que o projeto é rico em cooperativismo, ações protetivas ao meio ambiente e de apoio à melhoria da renda da agricultura familiar.

Fonte: Diário do Nordeste – Honório Barbosa