Um mercado incipiente, mas com grande potencial de crescimento, é a meliponicultura, que consiste na criação de abelhas nativas sem ferrão. O mel oriundo dessas espécies atinge alto valor agregado e chega a preços que variam de R$ 40 a R$ 80 o quilo, para o produtor, e de R$ 80 a R$ 120 o quilo na outra ponta, pagos pelo consumidor, mais que o dobro do que obtém o mel tradicional de abelhas com ferrão. Estimativas da Emater indicam que o Rio Grande do Sul tem 10 mil meliponicultores.
Como a falta de regulamentação da atividade torna-se um entrave para a comercialização do produto dentro e fora do Estado, meliponicultores estão se organizando para legalizar a colheita e o processamento do mel. Atualmente, todo o processo é artesanal e a comercialização é informal, “entre amigos e nas redondezas”, relata Hugo Schmidt, presidente da Associação de Meliponicultores do Vale do Alto Taquari (Amevat). Com o auxílio de técnicos da Emater, a entidade está reunindo a documentação necessária para formalizar o pedido de regulamentação à Secretaria da Agricultura (Seapi).
Entre as exigências para enquadrar a atividade nos marcos legais está a construção de uma Casa do Mel, estabelecimento destinado à colheita, beneficiamento e classificação do produto. Entretanto, como os 89 meliponicultores da região associados à Amevat moram distantes uns dos outros, possivelmente o local será utilizado mais para processamento e classificação.
O armazenamento do produto precisa ser feito de maneira diferenciada em relação ao convencional porque o mel das abelhas sem ferrão tem maior teor de água. Diante desta especificidade, outro requisito a ser atendido para formalizar a produção é a implantação de sistema para desumidificar o mel. Com até 20% de umidade, o mel pode ser comercializado e mantido em ambiente natural sem correr o risco de fermentar. O mel da abelha sem ferrão tem de 22% a 40% de umidade.
Para desumidificar o mel, os produtores têm três alternativas de custos diferentes: a refrigeração, a pasteurização a 63 graus ou a desidratação. A última opção oferece maior durabilidade ao produto, permitindo que fique nas prateleiras dos pontos de venda por um ano. Essas peculiaridades fazem parte do desafio de elaborar uma legislação específica, com descrição dos cuidados sanitários e técnicos necessários à produção.
“É uma atividade relativamente recente e que está crescendo com muita ênfase”, avalia o agrônomo Nadilson Roberto Ferreira, coordenador da Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura da Seapi. O técnico destaca que este é um sistema de produção que valoriza os ecossistemas nativos. A bióloga e pesquisadora em Zoologia, Betina Blochtein, lembra que as abelhas nativas “são espécies sensíveis, que sofrem com as alterações ambientais e com a presença de agrotóxico”.
Alimento rico
Do ponto de vista nutricional, o mel das abelhas sem ferrão é um alimento rico em minerais e proteínas. “O grande diferencial é o paladar. Tem um leque de sabores e aromas. São experiências gastronômicas”, descreve a bióloga e pesquisadora na área de zoologia, Betina Blochtein, lembrando que cada paisagem oferece um mel com características únicas e exclusivas.
No mercado, há demanda da alta gastronomia para pratos de luxo e comidas exóticas em São Paulo e na Europa. O agrônomo Nadilson Roberto Ferreira, coordenador da Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura da Seapi, observa que a oferta ainda é contida devido às limitações de comercialização. Presidente da Amevat, o meliponicultor Hugo Schmidt destaca que o mel das abelhas nativas sem ferrão é procurado por suas propriedades terapêuticas. “O produto é considerado um remédio”, conta.
Fonte: Correio do Povo – Bruna Karpisnki