Encontrar negócios inovadores que tenham impacto positivo na conservação da biodiversidade brasileira. Esse foi o objetivo do desafio lançado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com a Innonatives — uma plataforma europeia aberta para soluções sustentáveis. E o grande vencedor foi o projeto intitulado Amazon Nectar, idealizado pelo Instituto Peabiru, situado no Pará e Amapá.
O projeto é abrangente e por si só conta com um grande desafio: fazer funcionar uma rede de 200 famílias produtoras de mel de abelhas nativas (sem ferrão), distribuídas em diferentes regiões amazônicas, muitas delas isoladas, como no Oiapoque (extremo norte do Amapá). “Iniciamos esse projeto há 10 anos. No momento, com o projeto Néctar da Amazônia, apoiado pelo Fundo Amazônia, do BNDES, alcançamos uma maneira simples de criação de abelhas, e treinamos os agricultores familiares a se tornarem independentes.
O próximo desafio é a comercialização desta produção e para isto uma loja virtual é o melhor caminho. Desta forma, conseguiremos atrair mais produtores, hoje isolados, para um canal de vendas comum”, explica João Meirelles, diretor Geral do Instituto Peabiru.
Antes de iniciar o projeto, estas famílias retiravam as colmeias da floresta, mas estas dificilmente resistiam, por falta de manejo adequado. Além disso, o mel extraído era em pouca quantidade. O método de criação que o projeto utiliza é resultado de aprendizado prático. “O projeto que estamos liderando é uma das maiores iniciativas do gênero, inspirado nas técnicas de Fernando Oliveira, o nosso técnico que disseminou muito da meliponicultura (produção de mel de abelhas sem ferrão) no Amazonas, Mato Grosso e, no nosso caso, no Pará e Amapá, e envolve diferentes comunidades – indígenas, quilombolas e de agricultores familiares – e em regiões com características bem diferentes em Curuçá, no litoral do Pará, em Monte Alegre e Almeirim, no Baixo Amazonas, e em Macapá e no Oiapoque, no Amapá”, ressalta Meirelles.
O objetivo, de acordo com João, é que cada família dos um milhão de agricultores familiares da Amazônia tenha abelhas nativas em seu quintal. Para isso, o Projeto Néctar da Amazônia está superando entraves tecnológicos, legais (a atividade está pela primeira vez sendo ordenada nos estados) e de organização social local.
E esta expansão está próxima de acontecer. Com a premiação de 2 mil euros recebida pela participação no desafio promovido pela Fundação Grupo Boticário, Meirelles explica que será feito um teste para a loja online: “Estamos nos preparando para ter estoque regular e trabalhando na identidade visual dos produtos que vamos comercializar. Esperamos que até o final do ano o e-commerce esteja em funcionamento”, comemora o diretor.
Outro papel fundamental do projeto vencedor é a conservação das abelhas. Árvores e outras plantas se reproduzem, multiplicam-se e dão frutos por meio de um eficiente trabalho de polinização feito pelas abelhas, fundamentais para o equilíbrio de ecossistemas e produção de alimentos para o homem e animais nas florestas tropicais. No entanto, o desmatamento, as queimadas e o uso excessivo de agrotóxicos ameaçam este exército de polinizadores, que defendem, de forma quase invisível, a biodiversidade. “As abelhas nativas nos ensinam a enxergar os ambientes naturais de outra maneira. Na medida que compreendemos a fragilidade das abelhas, entendemos de que maneira cuidar da natureza para as presentes e as futuras gerações”, completa o idealizador do projeto.
A biodiversidade brasileira detém cerca de 20% das espécies de flora e fauna de todo o planeta Terra, explica Guilherme Karam, coordenador de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário. “Isso mostra a representatividade do Brasil dentro de um cenário global. Um negócio como esse faz com que a floresta passe a ter valor para as comunidades locais, já que há uma relação de interdependência direta entre as abelhas e as florestas. Se bem-sucedido, esse tipo de produção pode ser mais atrativo do que, por exemplo, o extrativismo desordenado de espécies da flora e da fauna amazônica, ou mesmo a substituição da floresta por atividades agropecuárias convencionais, que causam um grande impacto sobre a floresta. Ou seja, esta iniciativa tem uma grande possibilidade de reduzir a pressão sofrida hoje pela floresta amazônica”, conclui.
Fonte: Ciclo Vivo