A presença de polinizadores em ambientes agrícolas pode aumentar a produtividade dos cultivos, mas faltam investimentos em pesquisas e a definição de uma política pública para incentivar formas de manejo e preservar mais de 20 mil espécies de abelhas e outros seres vivos como borboletas, besouros, morcegos e pássaros. Foi o que apontaram especialistas em debate nesta terça-feira (20) na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).
No Brasil, ao menos 85 das espécies de plantas cultivadas para uso na alimentação humana e na produção de fibras dependem da polinização animal. Estima-se que o valor econômico da polinização feita por insetos, principalmente abelhas, corresponde a 12 bilhões de dólares da produção agrícola nacional. O valor anual das safras globais que precisam do “trabalho” dos polinizadores é estimado em US$ 577 bilhões.
Apesar do importante papel desempenhado por esses animais, mais de 40% dos polinizadores invertebrados — e 16% dos vertebrados — estão sob risco de extinção global. A perda de polinizadores pode causar uma crise na produção de alimentos e comprometer a segurança alimentar, de acordo com Vera Lúcia Fonseca, professora da Universidade São Paulo (USP). “A preservação da biodiversidade para as gerações futuras é um problema de todos nós”, apontou a pesquisadora.
Além de destacarem a importância dos polinizadores para a produção de alimentos, Bráulio de Souza Dias, professor da Universidade de Brasília (UnB), e Breno Freitas, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), ressaltaram que os avanços nas pesquisas e nas técnicas de manejo permitem uma convivência harmônica da agricultura com insetos e outros animais.
Ainda que as pesquisas tenham avançado nas últimas décadas, principalmente sobre a abelha Apis mellifera, a mais comum no Brasil, faltam estudos sobre outras espécies de polinizadores, o que dificulta avaliar o real impacto dos pesticidas, segundo Karina Cham, analista Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). “Embora tenhamos muitas informações, ainda temos algumas lacunas para, por exemplo, aperfeiçoar a metodologia de avaliação do risco de pesticidas”.
Pesticidas
O uso inadequado de agrotóxicos é, aliás, uma das principais ameaças aos polinizadores, de acordo com a maior parte dos debatedores. Outros problemas que põem em risco abelhas e outros insetos são perda dos habitats naturais em decorrência do aumento da fronteira agrícola, desmatamentos, parasitas que atacam as colônias e mudanças climáticas.
Paula Arigoni, do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, afirmou que as empresas têm incentivado a adoção de práticas e de regras de aplicação de defensivo agrícola mais seguras para as abelhas e outros animais. Ela argumentou que tanto a polinização quanto o emprego de defensivos agrícolas contribuem para a produtividade no campo e a qualidade de consumo dos frutos.
O presidente da Confederação Brasileira de Apicultura, José Soares Brito, adverte que o uso intensivo de agrotóxicos está dizimando as abelhas. “Temos que ter a racionalidade para chegarmos a uma diretriz em que o animal fosse mais preservado; infelizmente, as políticas públicas não existem para a apicultura”.
Elo
Reforçar o elo entre a academia, os apicultores e os produtores rurais é, na avaliação da pesquisadora da Embrapa Carmen Pires, um dos principais desafios de uma política para o setor. “Acho que a única maneira é tendo uma assistência pública capacitada em todos os Estados formando um elo entre a Embrapa, as universidades e o agricultor e apicultor”, avaliou.
A diretora da Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), Ana Lúcia Assad, acredita que o caminho é incentivar as parcerias público-privadas para disseminar informações e dar treinamentos. “É muito importante o apoio à pesquisa e construir parcerias público-privadas e uma política centrada no diálogo e na coexistência”.
Para o senador Lasier Martins (PSD-RS), a audiência evidenciou a necessidade de elaboração de um marco legal de apoio ao setor. “Isso diz respeito a alimentos e, sem alimentos, a gente não sobrevive”.
Assista ao debate, na íntegra, no site do Senado.
Fonte: Senado Notícias