Quiabo
O quiabeiro (Abelmoschus esculentus) é um arbusto que pertence à família Malvaceae. No Brasil, é cultivado principalmente nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, em plantações abertas (Klein et al. 2020).
Polinização por animais
As flores do quiabeiro são hermafroditas e se autopolinizam, o que significa que uma flor é fertilizada e se desenvolve em um quiabo ao receber seu próprio pólen ou o pólen de outras flores da mesma planta. Porém, quando uma flor recebe o pólen de flores de outras plantas da lavoura – polinização cruzada – há principalmente uma melhora na qualidade dos frutos.
No quiabeiro, a contribuição da polinização cruzada na produção de melhores frutos pode variar em menor ou maior grau, dependendo da variedade. Por exemplo, na variedade Chifre-de-veado, os quiabos provenientes de flores visitadas por insetos foram 65% mais pesados, 26% mais largos e 28% mais compridos comparados aos que resultaram de flores que não receberam visitas de insetos (Malerbo-Souza et al. 2001).
Outras duas variedades que são beneficiadas pela presença de polinizadores nas flores são Santa Cruz 47 e Amarelinho. Enquanto a Santa Cruz 47 apresentou frutos mais pesados, as flores visitadas por insetos da variedade Amarelinho se desenvolveram em frutos com mais sementes (Carvalho et al. 2020).
Visita das abelhas
Diferentes insetos – abelhas, borboletas, formigas, moscas, vespas, besouros – visitam as flores do quiabeiro para a coleta de pólen e néctar, porém, apenas o besouro Diabrotica speciosa e a abelha-africanizada (Apis mellifera) se comportaram como polinizadores (Malerbo-Souza e Halak 2009).
Os períodos de floração e colheita do quiabo ocorrem durante o ano todo. As variedades mais cultivadas são: Alecrim, Amarelinho, Campinas 1 (IAC-4075), Campinas 2 (IAC-4076), Chifre-de-veado, Green Velvet, Santa Cruz 47 e Veludo branco (Klein et al. 2020).
Ganhos para os dois lados
Não é comum o manejo de abelhas ou o uso do serviço de polinização comercial pelos produtores de quiabo para a melhora dos frutos. Esse serviço ambiental acontece de forma natural, por polinizadores silvestres ou abelhas manejadas por apicultores que podem estar nas proximidades das plantações em busca de vegetação para a produção de mel.
Em uma plantação em pequena escala, a exemplo de um jardim ou horta, as flores podem ser polinizadas manualmente, transferindo o pólen entre flores de plantas diferentes, para melhorar a qualidade dos quiabos. Porém, para a melhora da produção em lavouras de maior escala, há a oportunidade para o estabelecimento de parcerias com apicultores, dado que a abelha-africanizada é um polinizador e pode ser manejada para visitar as plantações. Em contrapartida, o quiabeiro fornece recursos alimentares (pólen e néctar) para a abelha-africanizada (Malerbo-Souza e Halak 2009), promovendo o fortalecimento das colônias. Assim, o apicultor pode gerar renda alugando colmeias para os produtores.
Mas, vale destacar que, para obter sucesso na introdução de colmeias para uma polinização agrícola adequada, é preciso planejamento com base nas características das variedades cultivadas e das abelhas. Também é importante evidenciar que, em um contexto de parceria, com o aluguel de colmeias pelos produtores de quiabo, é essencial a existência de comunicação contínua com os apicultores para uma convivência sinérgica e produtiva, permitindo a tomada de decisões em comum acordo, incluindo a transferência das colmeias para áreas seguras ou fechamento das colmeias antes, durante e algum tempo após a pulverização nos casos em que tal manejo for necessário.
Produção
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não disponibiliza dados sobre a produção brasileira anual de quiabo em sua Pesquisa Agrícola Municipal (PAM). Os últimos dados disponíveis são do Censo Agropecuário de 2017, realizado pelo IBGE, quando mais de 43,3 mil estabelecimentos produziram 111,9 mil toneladas de quiabo, com um valor de produção de quase R$ 191,5 milhões.
De acordo com o Censo Agropecuário, os maiores produtores foram Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Sergipe, que somaram 69% da produção brasileira. O Estado de Minas Gerais liderou com 21% da produção (23,9 mil toneladas), seguido por Rio de Janeiro e São Paulo, com 14% (15,4 mil toneladas cada um) e Bahia e Sergipe, com 10% da produção (11,2 mil toneladas cada um).
Práticas amigáveis aos polinizadores
Além do potencial uso de colmeias da abelha-africanizada para a polinização das flores do quiabeiro, é essencial adotar práticas de manejo para promover a atração e a permanência das abelhas e outros polinizadores nas propriedades, pois sua presença melhora significativamente a qualidade dos frutos. Vale ressaltar que ações de melhoria na qualidade dos hábitats para os polinizadores também promovem a melhoria de outros serviços ambientais, como a regulação natural de populações de pragas, a proteção dos mananciais de água e a fertilidade do solo.
As abelhas não sobrevivem apenas com os recursos disponibilizados pelos cultivos, assim é fundamental que existam na propriedade fontes alternativas de pólen e néctar no período em que as plantações de quiabo não estão florescendo. A conservação e a recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RLs), conforme determina o Código Florestal Brasileiro, bem como o plantio de espécies de plantas nativas ao redor dos cultivos, fornecem alimento ao longo do ano e substratos para a construção de ninhos pelos polinizadores, incluindo os silvestres.
A pulverização de defensivos agrícolas deve ser evitada no período de floração, mas se o tratamento fitossanitário for indispensável para evitar danos econômicos na lavoura, cuidados especiais devem ser adotados para não atingir os polinizadores, como dar preferência a técnicas agronômicas de Manejo Integrado de Pragas (MIP).
A pulverização deve ser realizada com produtos de baixa toxicidade para os polinizadores, ao final da tarde ou pela noite, quando eles não estão em atividade no campo. Foi observado que a abelha-africanizada visita as flores do quiabeiro para a coleta de pólen e néctar das 9h às 13h. O besouro D. speciosa, outro polinizador, começa a visitar as flores para coletar o pólen a partir de 8h, estendendo-se até às 18h (Malerbo-Souza e Halak 2009).
É essencial seguir todas as recomendações presentes nos rótulos e bulas, observando rigorosamente as boas práticas de tecnologia de aplicação dos produtos, incluindo medidas para evitar a deriva (porção do defensivo aplicado que não atinge o alvo desejado).
Em um contexto de parceria com o agricultor, vale ressaltar que o apicultor deve adotar as melhores práticas de manejo apícola, de acordo com a época do ano, visando à manutenção de colmeias populosas, saudáveis e adequadas para a polinização das plantações.
Texto produzido pela Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.).
Referências
Carvalho JR et al. (2020) Diferentes tipos de polinizações em cultivares de quiabeiro: seus efeitos na qualidade física de frutos. Brazilian Journal of Development 6, 94837-94846.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário (2017) Disponível em: https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/. Acesso em: 06 jul 2021.
Klein AM et al. (2020) A Polinização Agrícola por Insetos no Brasil. Um Guia para Fazendeiros, Agricultores, Extensionistas, Políticos e Conservacionistas. Albert-Ludwigs University Freiburg, Nature Conservation and Landscape Ecology.
Malerbo-Souza DT et al. (2001) Estudo sobre a polinização do quiabeiro, Abelmoschus esculentus (L.) Moench. Acta Scientiarum 23, 1281-1285.
Malerbo-Souza DT e Halak AL (2009) Visitantes florais em cultura de quiabo (Abelmoschus esculentus – Malvaceae). Ciência e Cultura – Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB 4, 63-70.