Abóbora

Abóbora, moranga ou jerimum

A aboboreira (Cucurbita maxima) é uma erva rastejante que pertence à família Cucurbitaceae. É amplamente cultivada no Brasil em plantações abertas, com inúmeras variedades, sendo as formas silvestres ancestrais encontradas no norte da Argentina, Bolívia e Uruguai (Flora do Brasil 2020; Klein et al. 2020).

Polinização por animais

Apis mellifera em flor de abobora
Apis mellifera em flor de abóbora

A aboboreira apresenta flores masculinas e femininas isoladas e distribuídas no mesmo indivíduo. Para a formação de frutos é necessário que o pólen seja trocado entre as flores de um mesmo indivíduo ou entre indivíduos diferentes com o auxílio de insetos polinizadores. A aboboreira é, portanto, um cultivo essencialmente dependente de polinização realizada por animais para a fecundação das flores (Klein et al. 2020).

Por ser essencialmente dependente da polinização realizada por insetos, se toda uma plantação de abóboras fosse isolada e suas flores não recebessem visitas de seus polinizadores, haveria uma redução de mais de 90% na produção. Ao visitarem as flores, os polinizadores realizam a transferência de pólen (que contém o gameta masculino) de uma flor até a parte feminina de outra – o que garante a fecundação e, logo, a formação do fruto.

Visita das abelhas

As flores de abóbora são visitadas por diferentes espécies de abelhas dos gêneros Apis, Bombus, Melipona, Oxaea, Trigona e Xylocopa, assim como por moscas, vespas, mariposas e besouros (BPBES 2019).

O visitante mais abundante e frequente é a abelha-africanizada (Apis mellifera), que, ao visitar as flores de abóbora para a coleta de pólen e néctar, é muito eficiente na polinização. Outros visitantes são a arapuá (Trigona spinipes), uma espécie de abelha sem ferrão, que visita as flores para a coleta de néctar, e o besouro Diabrotica speciosa, que se alimenta das pétalas. Diferentemente da abelha-africanizada, esses outros insetos não polinizam as flores (Nicodemo et al. 2009).

No Estado de Santa Catarina, que está entre os maiores produtores de abóbora, outro polinizador muito abundante nas flores é a Peponapis fervens, uma espécie de abelha com modo de vida solitário (Krug et al. 2010). A P. fervens, assim como as demais pertencentes ao gênero Peponapis, possui uma especificidade em relação ao pólen: ela coleta esse recurso exclusivamente das flores de diferentes variedades de aboboreira para oferecer como alimento à cria (Weiss e Melo 2007, Giannini et al. 2010, Krug et al. 2010, Torezani et al. 2017).

Abelha Peponapis fervens em flor de abobora
Abelha Peponapis fervens em flor de abóbora. Crédito: Frederico Acaz Sonntag, alguns direitos reservados (CC BY-NC)

Os períodos de floração e colheita da abóbora ocorrem durante o ano todo, dependendo da região. As variedades mais comuns nos mercados e hortifrutis brasileiros são Japonesa, Kabocha, Menina, Moranga e Paulista, mas outras variedades cultivadas incluem: Seca, Brasileira, Delicious, Exposição, Faxon’s Brazilian, Golden Hubbard, Hokkaido, Hubbard, Libanesa, Majestade, Mammoth Gold, Mini Jack e Tetsukabuto Chikara (Klein et al. 2020).

Ganhos para os dois lados

Não é comum o manejo de abelhas ou a contração de serviço comercial de polinização pelos produtores de abóbora. Esse serviço ecossistêmico acontece de forma natural, por abelhas silvestres ou criadas por apicultores nas proximidades dos cultivos. Na ausência de fauna polinizadora, os produtores precisam adotar a polinização manual, que é mais dispendiosa. 

A oportunidade é grande para o estabelecimento de parcerias com apicultores, pois a introdução de colmeias da abelha-africanizada na lavoura pode garantir um número de visitas suficientes para aumentar a deposição de pólen nas flores femininas e o tamanho dos frutos. Por outro lado, o apicultor pode gerar renda alugando colmeias para os produtores. Além disso, as flores de abóbora são uma excelente fonte de pólen e néctar para alimentação das colmeias.

A abelha-africanizada é um dos polinizadores mais importantes e, quanto maior o número de visitas nas flores femininas, maior será o vingamento de frutos. A maior taxa de frutificação é atingida com 16 visitas e os frutos também apresentam maior tamanho, peso e mais sementes (Nicodemo et al. 2009).

As flores de abóbora se abrem ao amanhecer ⎯ por volta de 6h30 ⎯ e há frutificação quando as flores femininas recebem visitas dos polinizadores até às 9h, pois, após esse horário, os grãos de pólen são menos viáveis para a fecundação ⎯ etapa essencial que antecede a formação dos frutos e sementes (Nicodemo et al. 2007; Nicodemo et al. 2009).

Produção

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não disponibiliza dados sobre a produção brasileira anual de abóbora em sua Pesquisa Agrícola Municipal (PAM). Os últimos dados disponíveis são do Censo Agropecuário de 2017, realizado pelo IBGE, quando mais de 273 mil estabelecimentos produziram 417,8 mil toneladas de abóbora, com um valor de produção de R$ 366 milhões. Os polinizadores contribuíram com R$ 347,7 milhões do valor total de produção (cálculo realizado com base na metodologia de Giannini et al. 2015), que corresponde ao montante que os produtores deixariam de ganhar sem o serviço de polinização realizado pelas abelhas.

De acordo com o Censo Agropecuário, os maiores produtores foram Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que somaram 55% da produção brasileira. O Estado de Minas Gerais liderou com 20% da produção (83,6 mil toneladas), seguido por Bahia, com 15% (61,2 mil toneladas), Rio Grande do Sul, com 10% da produção (42,4 mil toneladas) e Santa Catarina, com 9% da produção (40,8 mil toneladas).

abóbora

Práticas amigáveis aos polinizadores

Como a aboboreira é essencialmente dependente da visita de abelhas para gerar frutos, os produtores devem adotar práticas de manejo para promover a atração e a permanência dos polinizadores em suas propriedades. Uma medida adicional para a polinização dos plantios é o uso de colmeias da abelha-africanizada.

É essencial que existam fontes alternativas de pólen e néctar no período em que a lavoura de abóbora não está florescendo. Para isso, a conservação e a recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RLs), bem como o plantio de outras espécies de plantas cultivadas e nativas na propriedade, fornecem alimento ao longo do ano e substratos para a construção de ninhos pelos polinizadores.

A Peponapis fervens, importante polinizador da aboboreira, é uma espécie de abelha com modo de vida solitário, que constrói os ninhos em solo argiloso nas adjacências dos plantios de abóbora (Krug et al. 2010). Assim, também é importante conservar o solo e proteger o local dos ninhos de aração, gradeamento e pisoteio.

A pulverização de defensivos agrícolas deve ser evitada no período de floração, mas se o tratamento fitossanitário for indispensável para evitar danos econômicos na lavoura, cuidados especiais devem ser adotados para não atingir as abelhas, como dar preferência a técnicas agronômicas de Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Como destacado por Ramos e colaboradores (2010) no documento Aspectos técnicos do cultivo da abóbora na região Nordeste do Brasil, a pulverização de defensivos agrícolas deve ser realizada com produtos de baixa toxicidade para as abelhas, ao final da tarde ou pela noite, quando elas não estão em atividade no campo ⎯ as flores da abóbora abrem por volta das 6h30 e continuam disponíveis para os visitantes florais até às 14h, horário em que murcham (Nicodemo et al. 2007). 

Vale destacar que a produção de frutos ocorre quando os polinizadores visitam as flores até às 9h ⎯ horário em que os grãos de pólen estão viáveis para a fecundação ⎯ assim, é essencial adotar as melhores práticas para manter a livre visitação das flores pelos polinizadores nesse período da manhã (Nicodemo et al. 2009).

Além disso, devem ser seguidas todas as recomendações presentes nos rótulos e bulas, observando rigorosamente as boas práticas de tecnologia de aplicação dos produtos, incluindo medidas para evitar a deriva (porção do defensivo aplicado que não atinge o alvo desejado).

Texto produzido pela Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.)

Referências

BPBES (2019) Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil. Disponível em: https://www.bpbes.net.br/wp-content/uploads/2019/03/BPBES_CompletoPolinizacao-2.pdf.

Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/. Acesso em: 29 jun 2021.

Giannini TC et al. (2010) Ecological niche modeling and geographical distribution of pollinator and plants: A case study of Peponapis fervens (Smith, 1879) (Eucerini: Apidae) and Cucurbita species (Cucurbitaceae). Ecological Informatics 5, 59-66.

Giannini TC et al. (2015) The Dependence of Crops for Pollinators and the Economic Value of Pollination in Brazil. Journal of Economic Entomology 108, 849-857.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário (2017) Disponível em: https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/. Acesso em: 06 jul 2021.

Klein AM et al. (2020) A Polinização Agrícola por Insetos no Brasil. Um Guia para Fazendeiros, Agricultores, Extensionistas, Políticos e Conservacionistas. Albert-Ludwigs University Freiburg, Nature Conservation and Landscape Ecology.

Krug C et al. (2010) Visiting bees of Cucurbita flowers (Cucurbitaceae) with emphasis on the presence of Peponapis fervens Smith (Eucerini – Apidae) – Santa Catarina, Southern Brazil. Oecologia Australis 14, 128-139.

Nicodemo D et al. (2007) Biologia floral em moranga (Cucurbita maxima Duch. var. “Exposição”). Acta Sci. Agron. 29, 611-616.

Nicodemo D et al. (2009) Honey bee as an effective pollinating agent of pumpkin. Sci. Agric. 66, 476-480.

Ramos SRR et al. (2010) Aspectos técnicos do cultivo da abóbora na região Nordeste do Brasil. Aracajú, SE: Embrapa Tabuleiros Costeiros.

Torezani KRS et al. (2017) Visitantes Florais e Potenciais Polinizadores da Aboboreira (Cucurbita pepo L.) no Distrito Federal. Circular Técnica. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

Weiss G, Melo GAR (2007) Comportamento forrageiro de Peponapis fervens Smith (Hymenoptera, Apidae, Eucerini) em flores de Cucurbita (Cucurbitaceae). Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, Caxambu – MG.