Estudo realizado no Corredor Ecológico Cantareira-Mantiqueira (Zona Norte de São Paulo) por pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP revela uma boa notícia sobre a vida de abelhas e vespas.
A pesquisa do Laboratório de Ecologia e Evolução de Abelhas e Vespas do Departamento de Biologia da FFCLRP constatou que elas ainda são abundantes no local, apesar da ocupação urbana. Segundo os pesquisadores, a quantidade de floresta nativa (mais de 50% da área) e a utilização diversificada das terras entre os fragmentos de Mata Atlântica são os principais fatores da conservação dos insetos. As abelhas são insetos polinizadores e as vespas, agentes de controle biológico.
A ecóloga Paula Carolina Montagnana, responsável pela pesquisa, explica que se a região fosse dominada por monocultura (como a observada em diversos outros locais do Estado de São Paulo, por exemplo), as abelhas e vespas não teriam a mesma sorte para encontrar alimentos ou construir seus ninhos. “As abelhas e vespas solitárias têm autonomia de voo de cerca de 600 metros (m)”, conta. “Isto significa que elas precisam encontrar fontes de alimentação e condições de procriação dentro de uma área que não ultrapasse esse limite.”Paula realizou pesquisa de campo na Cantareira entre 2014 e 2018 para a tese de doutorado que apresentou na FFCLRP, com orientação do professor Carlos Alberto Garófalo.
O trabalho pretendia verificar a influência das diferentes formas de utilização do solo na vida de abelhas e vespas solitárias. Assim, foram confeccionados e instalados em 29 pontos da região da Cantareira ninhos-armadilha (pequenos tubos de cartolina preta e gomos de bambus) que ficaram disponíveis para essas espécies construírem seus ninhos. Paula coletou todos os ninhos-armadilhas ocupados e os levou para o Laboratório de Ecologia e Evolução de Abelhas e Vespas da FFCLRP.
Na região estudada, a ecóloga encontrou condições que favoreceram a identificação de uma maior quantidade de espécies e de um número mais elevado de abelhas e vespas. “Em uma linha reta de 1 quilômetro (km), traçada a partir do local de um dos ninhos-armadilha, haverá maior diversidade desses insetos se ao longo dessa reta houver locais com pastagem, floresta, agricultura, vilas rurais, entre outros tipos de uso da terra”, explica. “Mas também é igualmente importante a porcentagem de floresta que existe dentro de paisagens com 5 km de raio, que deve superar 50% dessa área.”
Indicadores ambientais
A escolha pelas espécies solitárias, de acordo com a pesquisadora, “se deve ao fato da presença delas na natureza ser ótimo indicador ambiental que pode ser extrapolado para as demais espécies de abelhas e vespas”, insetos polinizadores e agentes de controle biológico, respectivamente.As duas espécies são chamadas solitárias pois, ao contrário dos insetos que formam colônias, elas utilizam cavidades preexistentes na natureza para fazer seu ninhos.
A coleta aconteceu entre os meses de setembro e março, os mais chuvosos e quentes do ano no Estado de São Paulo, e período de maior atividade e diversidade de insetos.Após monitoramento dos ninhos e identificação das espécies, foram encontradas 24 espécies de abelhas e 21 de vespas, comprovando a condição ecológica favorável do Corredor Cantareira-Mantiqueira.
A partir destes dados, o estudo constatou a importância do uso diversificado da terra e da quantidade suficiente de mata nativa (mais de 50% de preservação) para a sobrevivência desses insetos. Para as regiões em que grande parte da vegetação nativa já tenha sido retirada e a atividade humana seja intensa, a ecóloga afirma que ainda assim é possível preservar algumas espécies.
“A sugestão é que haja uma diversificação no uso da terra, principalmente com atividades de menor impacto como agroflorestas, locais de recuperação da vegetação nativa, agricultura orgânica, mas que também sejam preservados os locais de vegetação nativa já existentes”, recomenda Paula. “Essa diversidade é muito melhor para a vida de abelhas e vespas que paisagens onde há apenas um uso da terra, como, por exemplo, as áreas dominadas por grandes monoculturas de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto (interior de São Paulo) ou nos plantios de soja, algodão e milho presentes no Centro-Oeste do Brasil”.
Fonte: Jornal da USP – Rita Stella e Tainá Lourenço
Crédito das imagens: Paula Carolina Montagnana