São Paulo, 22 de janeiro de 2016 – Um estudo publicado recentemente pela revista Science revela que o processo de polinização, no qual as abelhas e outros insetos atuam como agentes, é responsável por cerca de 24% do déficit de produtividade agrícola observado em pequenas propriedades rurais (até dois hectares). Fatores associados à irrigação, nutrientes e técnicas de cultivo também foram listados no levantamento e respondem pelos demais 76% do déficit nas áreas monitoradas. Pesquisadores de 18 países, incluindo o Brasil, participaram da iniciativa, financiada pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Durante cinco anos (2010-2014), os especialistas monitoraram 334 propriedades pequenas e grandes de doze países da África, Ásia e América do Sul. Eles observaram o número de agentes polinizadores, a biodiversidade e o rendimento de 33 cultivos (maçã, pepino, caju, café, feijão, algodão e canola, entre outros). Uma mesma dinâmica foi identificada em todas as nações que participaram do levantamento: o rendimento agrícola cresce de acordo com a densidade de polinizadores. Esse resultado mostrou que populações reduzidas de abelhas e outros insetos poderiam ser parcialmente responsáveis pela queda de produtividade.
“O trabalho mostra o impacto positivo potencial na produção agrícola resultante do aumento de polinizadores nas culturas”, explica Breno Freitas, da UFC, pesquisador responsável pelos dados da cultura do caju, “Percebemos também que, em propriedades pequenas, a redução do déficit de polinizadores com aumento na produtividade pode ser alcançada apenas com o aumento da quantidade de polinizadores visitando as flores. Já nas grandes propriedades, além disso, é necessário ainda aumentar a diversidade de espécies de polinizadores nos cultivos”, explica o pesquisador.
“Uma das principais contribuições desse estudo é a constatação de que é possível conciliar agricultura com conservação da biodiversidade e ter como resultado o aumento da produtividade agrícola. Nessa relação os dois lados saem ganhando. O estudo também abre uma janela de oportunidade de mudança para o novo paradigma da sustentabilidade, por meio da intensificação ecológica da agricultura”, explica Blandina Viana, da UFBA, pesquisadora responsável pela cultura da maçã.
Neste contexto, os especialistas destacam o conceito de intensificação ecológica, ou seja, adotar medidas para promover a biodiversidade na agricultura com o intuito de oferecer melhores condições aos polinizadores, como por exemplo, o plantio a construção de cercas-vivas, a redução do uso de pesticidas e a recuperação das matas nativas próximas aos cultivos.