Estudo aponta aquecimento global como principal fator do declínio das abelhas

Nesta quinta-feira (9), a revista científica Science publicou o mais abrangente estudo sobre o declínio das abelhas já feito, e a conclusão é de que o aquecimento global é o principal fator causador.

O estudo analisou 67 espécies diferentes do gênero Bombus nos Estados Unidos e na Europa, onde estima-se que a população de abelhas tenha caído 40% e 50% nos últimos 25 anos, respectivamente.

Em geral, cientistas e biólogos estão detectando uma expansão do “território” das espécies causada pelas mudanças climáticas. Por exemplo, no Hemisfério Norte, espécies como as borboletas já estão sendo encontradas cada vez mais ao norte, buscando temperaturas mais amenas. O problema, detectado pelo estudo, é que isso não está ocorrendo com as abelhas. A pesquisa identificou que elas estão desaparecendo no sul, por não aguentar temperaturas mais altas, mas não estão indo para o norte. Ou seja, a distribuição natural das abelhas estudadas diminuiu.

Isso acontece por causa da forma como as abelhas evoluíram. Elas não estão preparadas para enfrentar mudanças climáticas como as que estão em curso. Enquanto grande parte dos insetos surgiram em regiões tropicais – e por isso devem prosperar em um mundo mais quente –, as abelhas evoluíram na região de clima mais ameno, e têm dificuldade de sobreviver em um cenário de aquecimento. O resultado é que, nos últimos cem anos, as abelhas perderam mais de 300 quilômetros de território.

Para a pesquisadora Vera Lúcia Imperatriz, da Universidade de São Paulo (USP), que não participou do estudo, a pesquisa está sendo publicada em um momento importante, já que pode ser mais um subsídio para governos definirem um acordo contra as mudanças climáticas no final do ano. “As mudanças climáticas vão afetar as abelhas, sim, especialmente a distribuição delas. É um problema grave. Esse trabalho vem num momento muito importante, porque tudo o que se fala sobre mudanças climáticas pode ajudar em um acordo de sustentabilidade pós-2015”, diz Vera, do Conselho Científico da A.B.E.L.H.A.

O estudo da Science não analisou as seis espécies de abelhas Bombus que existem no Brasil, conhecidas também como mamangavas. Segundo Vera, entretanto, elas também estão ameaçadas. O desaparecimento das abelhas acontece no mundo todo, mas no Brasil, infelizmente, ainda há poucos dados e informações disponíveis para se saber com precisão sobre a escala desse declínio. No Brasil, os estudos estão mais focados na fragmentação dos habitats causado, por exemplo, por desmatamento ou urbanização, no uso excessivo de pesticidas e no impacto das monoculturas. Outra linha de pesquisa busca identificar o quanto as abelhas “trabalham” em prol da nossa agricultura, com a polinização. Estima-se que entre 70% e 75% das culturas agrícolas dependem em algum grau da polinização por animais.

Como evitar a extinção das abelhas?

Se as abelhas estão perdendo cada vez mais espaço, como protegê-las de uma extinção? Uma das sugestões do relatório publicado na Science é apostar na chamada “migração assistida”. Trata-se de migrar, artificialmente, as colmeias para locais com temperaturas mais amenas. “A realocação experimental das colônias de abelhas em novas áreas poderia mitigar a perda de território”, diz o estudo. É uma ideia controversa. As abelhas realocadas poderiam, em tese, competir com abelhas nativas ou transmitir doenças. Outra ideia é buscar refúgios nos biomas originais das espécies, mas com clima mais ameno, por exemplo, em áreas de morros. Políticas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas também precisam ser colocadas em prática pelos governo.

Mas nem tudo precisa ficar nas mãos do governo. Para Vera Lúcia, da USP, todo mundo pode fazer alguma coisa pelas abelhas. “Nós podemos incentivar a criação de jardins para as abelhas. Em vez de criar plantas ornamentais, que não atraem insetos, aproveitar uma flora nativa que possa acolher as abelhas”, diz. Ou seja, qualquer pessoa pode criar um pequeno refúgio para ajudar a salvar as abelhas em seu jardim.

Fonte: Revista Época – Blog do Planeta – Bruno Calixto