A busca por equilíbrio entre produção e conservação é uma realidade global. O impacto das mudanças climáticas, a necessidade de diminuir a emissão de carbono para conter o aquecimento do planeta e os esforços para proteger a biodiversidade são urgentes para as atuais e futuras gerações e demandam ação imediata de governos, empresas, pesquisadores, professores, enfim, cidadãos.
No que diz respeito aos setores produtivos, a pauta já está incorporada em praticamente todos eles, mas principalmente nas estratégias para produzir alimentos de maneira responsável social e ambientalmente.
O desafio é grande e, para enfrentá-lo, temos aqui um conceito-chave: bioeconomia, um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos.
Para tratar desse tema, a A.B.E.L.H.A. conversou com Alessandro Cruvinel, Coordenador-Geral de Mecanização, Novas Tecnologias e Recursos Genéticos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Ele é Presidente do Conselho Estratégico do Programa Nacional de Bioinsumos, do qual fazem parte representantes do próprio MAPA, além de membros do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Embrapa e representantes da sociedade civil.
O que é um bioinsumo ou insumo biológico?
Lançado em maio de 2020, o Programa Nacional de Bioinsumos tem como um dos principais pilares contribuir para o desenvolvimento de soluções tecnológicas para o agronegócio por meio do uso sustentável de recursos da biodiversidade brasileira. A cadeia do agro compreende vários sistemas de produção: florestal, agrícola, pecuária e aquicultura. De acordo com o Decreto 10.375/2020, que instituiu o Programa Nacional de Bioinsumos, bioinsumo é todo produto, processo ou tecnologia de origem vegetal, animal ou microbiana, destinado ao uso:
O termo é abrangente e inclui biofertilizantes, bioembalagens, promotores de crescimento de plantas, defensivos a partir de microrganismos para o controle de pragas, parasitas ou doenças e tecnologias e que têm ativos biológicos na composição, entre muitos outros. Em resumo, são produtos, processos ou tecnologias de menor impacto econômico e ambiental, que têm como base a biodiversidade brasileira, a maior do mundo. |
A bioeconomia e o potencial brasileiro na agricultura
Segundo Cruvinel, o potencial do Brasil é enorme, tendo em vista a capacidade de inovação brasileira e a relevância da produção agrícola nacional para abastecer os mercados interno e externo. Basta imaginar que o País abriga 20% da biodiversidade do planeta, incluindo 300 mil espécies de plantas comestíveis. Dessas, apenas nove espécies representam 70% do cultivo no planeta.
“Os recursos da biodiversidade brasileira são incalculáveis e precisam ser conservados, especialmente se considerarmos as biodiversidades locais e as milhares de espécies nativas cujas aplicações ainda não conhecemos por completo”.
“Atualmente, não somos nem o maior produtor, nem o maior consumidor de insumos biológicos. Entretanto, enquanto o mercado global cresce em torno de 15% ao ano, no Brasil, o crescimento é quase o dobro”.
As possibilidades de aplicação de bioinsumos nas lavouras são variadas, entre elas, para controle de pragas (bioinseticidas, biofungicidas e bionematicidas) e para fertilidade do solo e nutrição de plantas (biofertilizantes, bioinoculantes e bioestimulantes).
Em 2020, o Mapa registrou 95 defensivos de baixo risco, entre produtos biológicos, microbianos, semioquímicos, bioquímicos, extratos vegetais e reguladores de crescimento. Em relação ao ano anterior, o aumento é de 121% no número de registros.
“A demanda por produtos de base biológica é crescente, um indicativo de que os produtores rurais buscam soluções e acreditam na tecnologia, inclusive para aplicação em grandes áreas”, avalia.
Para tanto, saber como usar de forma sustentável os recursos biológicos na defesa de pragas e doenças é essencial. No início de setembro, foi formada a primeira turma de capacitação para a produção de bioinsumos, realizada pela Escola Nacional de Gestão Agropecuária (Enagro). O curso na modalidade de educação à distância teve mais de 3,1 mil inscritos.
Serviços ecossistêmicos
Embora ainda não seja uma realidade no Brasil, o uso de polinizadores como bioinsumos está no radar do Mapa e do Programa Nacional de Bioinsumos. Além de poder ampliar a produtividade de cultivos, a presença de polinizadores em áreas agrícolas contribui para melhorar a qualidade dos frutos e é fundamental para a conservação ambiental e a restauração de áreas naturais.
O representante do Mapa acredita que a inclusão desse tema na capacitação sobre bioinsumos é importante e está sendo estudada. “O Programa está sendo desenvolvido em etapas, pois são muitos os objetivos estratégicos e as frentes de atuação. O caminho é longo, mas com estratégia, pesquisa, capacitação, investimentos e incentivos sabemos que é possível desenvolver cadeias produtivas sustentáveis, que gerem renda para os produtores e qualidade de vida para a sociedade”.
Para saber mais sobre bioeconomia e bioinsumos, leia também:
Programa Nacional de Bioinsumos – https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inovacao/bioinsumos
Principais Conceitos do Programa Nacional de Bioinsumos – https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inovacao/bioinsumos/o-programa/conceitos
Gestão Estratégica do Programa Bioinsumos – https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inovacao/bioinsumos/o-programa/gestao-estrategica-do-programa-nacional
Bioeconomia – Embrapa – https://www.embrapa.br/tema-bioeconomia/sobre-o-tema