Entrevista – Vagner Arnaut de Toledo

A geleia real é um produto das abelhas produzido no período de abundância de alimento. Na região centro-sul do País, por exemplo, entre os meses de setembro a abril.

Geleia Real – O superalimento

Um dos fatores de grande importância na saúde das colônias de abelhas é a nutrição de seus indivíduos. Como se sabe, as abelhas se alimentam de substâncias retiradas das flores: o pólen – fonte de proteínas, lipídios e vitaminas – e o néctar, fonte de energia (açúcares).

As abelhas sociais, grupo do qual faz parte a Apis mellifera (ou abelha africanizada), estocam o alimento para períodos de escassez de floração. Do néctar, as abelhas retiram a água e armazenam a substância que “sobra”: o mel.  Já o pólen passa por um processo de fermentação e dá origem ao “pão da abelha”.

Quando falamos de Apis, as rainhas e suas crias, especialmente as larvas destinadas a serem rainhas, recebem uma alimentação conhecida como geleia real, um “superalimento” rico em proteínas, vitaminas, sais minerais e hormônios sexuais e de crescimento. A geleia real é uma substância amarelada e viscosa, produzida em glândulas na cabeça de abelhas jovens.

Embora as condições de temperatura sejam adequadas, a produção de geleia real e de outros produtos das colônias depende ainda de outros fatores, como a alimentação adequada das abelhas, a genética das rainhas e a adoção de tecnologia.

Na coordenação do laboratório de Apicultura e Meliponicultura, e também na chefia do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Vagner Arnaut de Toledo atua em pesquisas cujos resultados têm direta aplicação no campo. Doutor em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCAV – Jaboticabal) e pós-doutor em Entomologia pela ESALQ-USP, Arnaut de Toledo pesquisa há anos a seleção de abelhas rainhas mais produtivas. “A produção de mel no País não tem subido nos últimos anos em razão da falta do uso de tecnologia. Mas há potencial para aumentar a produtividade das colônias”.

A.B.E.L.H.A. – Quais são os principais aspectos de sua pesquisa no campo da apicultura?

Vagner Arnaut de Toledo – A primeira delas trata da seleção das rainhas mais produtivas em colônias de abelhas africanizadas (Apis mellifera) encontradas na natureza, em localidades dos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Paraná. Nesse estudo, avaliamos sete gerações de abelhas rainhas e as mais pesadas baseadas no seu valor genético maior, apresentaram melhores rendimentos na produção de mel.

Em uma segunda etapa dessa pesquisa, verificamos a relação entre a presença nas abelhas mais produtivas da proteína MRJP3, que ocorre naturalmente nas abelhas, e a produção de geleia real. Quando ela se expressa, a produção é maior.

A.B.E.L.H.A. – Esses são caminhos para elevar a produtividade?

Vagner Arnaut de Toledo – Os resultados revelaram a importância da seleção de abelhas também para o aumento da produtividade, e não apenas para resistência e adaptação ao ambiente. No Brasil, isso não é comum. A China, por exemplo, deu início à seleção e à apuração genética das abelhas ainda na década de 60 e, com incentivo do governo, os apicultores nacionais tiveram acesso às melhores linhagens para a produção e puderam aplicar melhores técnicas apícolas. Não por acaso o país detém mais de 90% do mercado internacional de geleia real.

A.B.E.L.H.A. – O que falta para que a apicultura brasileira desenvolva seu potencial de crescimento?

Vagner Arnaut de Toledo – Há um conjunto de fatores do qual resulta uma boa produção, entre eles, alimentação e temperatura adequadas, boa florada na região da produção apícola. Mas é fato que, assim como ocorreu com o agronegócio, a apicultura só poderá se desenvolver com a adoção de tecnologia. É preciso que haja incentivo e investimento público para que os apicultores recebam acesso a crédito, melhor capacitação, aperfeiçoamento das técnicas e das boas práticas apícolas. A tecnologia não é coisa de outro mundo e deve estar ao alcance de todos.


China na frente

A China é o maior produtor de geleia real e responde por 95% da produção mundial, o equivalente a mais de 6 mil toneladas por ano. No Brasil, a produção de geleia real não é suficiente nem para abastecer o mercado interno. A diferença está na tecnologia.

Com incentivo do governo chinês, as colônias de abelhas passaram por um processo de seleção e melhoramento genético durante décadas, o que permitiu a formação de uma linhagem de abelhas com alta produção de geleia real. Novas ferramentas e técnicas permitiram ainda o uso da inseminação instrumental de rainhas, facilitando o controle de cruzamentos e a seleção para melhorar geneticamente as colônias com características produtivas desejáveis.  Fonte: Santos et al. – Geleia Real e seu papel no superorganismo – Revista SAP


Suplementação alimentar – O reforço que faltava

Com base em estudos prévios sobre a composição química dos alimentos que compõe a dieta das abelhas, foi possível elaborar suplementos alimentares que atendam às necessidades nutricionais da colônia, viabilizando um aumento produtividade em épocas de escassez e em que a colônia é mais exigida. “Atualmente, estamos trabalhando numa ração fermentada com uso de probióticos para aumentar a resistência das abelhas”, comenta o professor.

“Essa ração balanceada, combinada com manejos técnicos adequados permite ao produtor manter suas colônias saudáveis, com boa população e altamente produtivas”.

 

Apis Vagner Arnaut