Com foco em sustentabilidade e meio ambiente, a programação da 29a Reunião Anual do Instituto Biológico (RAIB) reservou para o seu segundo dia uma discussão importante sobre abelhas e polinizadores.
A RAIB congrega profissionais do agronegócio, pesquisadores e estudantes das áreas de sanidade animal, vegetal, proteção ambiental, pragas urbanas, museologia e história da ciência e recursos humanos.
Nesta terça-feira (7), a agenda incluiu o workshop “Abelhas x Produção Agrícola”, coordenado por Harumi Hojo (IB) e de Ana Assad (A.B.E.L.H.A.), com palestras sobre o Cenário internacional e Políticas Públicas para Polinizadores (Vera Imperatriz Fonseca – IB), a Sanidade em Abelhas (David de Jong – USP-RP) e Polinização Agrícola e Controle Biológico (Cristiano Menezes – Embrapa Amazônia Oriental).
De acordo com Ana Assad, diretora-executiva da A.B.E.L.H.A., apoiadora do evento, a iniciativa é de fundamental importância para a ampliação das discussões sobre os polinizadores e seu papel essencial na agricultura e na conservação da biodiversidade. “Este é um fórum altamente qualificado para que o tema seja abordado, do ponto de vista técnico e científico, e para que tenha ressonância entre participantes de diversas áreas”.
Cenário internacional e Políticas Públicas para Polinizadores
A pesquisadora da Universidade de São Paulo e do Instituto Tecnológico Vale – Desenvolvimento Sustentável (ITV-DS) Vera Imperatriz Fonseca destacou esforços da Plataforma Intergovernamental para Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), iniciativa internacional que busca realizar levantamentos sobre temas como espécies invasoras, restauração de habitats e cenários de biodiversidade no futuro.
A IPBES divulgou este ano a primeira avaliação mundial sobre polinizadores e sua contribuição para a agricultura. De maneira detalhada, o estudo – que reuniu o esforço de dois anos de trabalho e foi compilado por 77 especialistas de todo o mundo – relaciona uma série de fatores que põem em risco diversas espécies de polinizadores e, consequentemente, ameaçam a produção agrícola e a nutrição das populações.
A pesquisadora, que é co-chair da IPBES, salientou que o aumento da produção agrícola no mundo e a importância do processo de polinização em seu desenvolvimento têm impacto direto na produção mundial de alimentos. Por isso, ressaltou, é necessário repensar o modo como é feita a agricultura intensiva.
Toda a biodiversidade está em uma situação delicada, e o cenário para as abelhas não é diferente do restante da natureza, avalia. “São muitas as ameaças aos polinizadores: manejo intensivo, mudança no uso da terra, uso indiscriminado de defensivos agrícolas, pragas e patógenos, mudanças climáticas”.
A pesquisadora ainda tratou da dependência de determinados cultivos agrícolas da polinização, a exemplo de maçã, manga e cacau, e do risco imposto por espécies invasoras, sobretudo com o transporte indiscriminado de abelhas.
Além disso, a pesquisadora fez um chamado para que cada pessoa dê sua contribuição com pequenos gestos, como a manutenção de jardins e habitats que ajudam a conservar os polinizadores. “Se tais atitudes puderem contribuir para aumentar a produção em 5% ou 10%, com custo quase zero, por quê não tomá-las?”.
Sanidade em abelhas
Pesquisador do departamento de Genética da Faculdade de Medicina da USP-RP, David de Jong abordou alguns problemas de saúde das abelhas decorrentes de vírus, bactérias e fungos.
Muitas dessas patologias têm como fator agravante o transporte ilegal de colônias. O besouro da colmeia, por exemplo, tem origem africana e foi descoberto no Brasil em março do ano passado. Atualmente, ele já foi identificado em mais de 30 apiários e está alarmando os apicultores.
“É preciso redobrar o cuidado com o transporte indiscriminado de abelhas. Entre os problemas globais enfrentados pelos apicultores, a Varroa, ácaro que transmite diferentes tipos de vírus, se destaca. Sua disseminação teve início quando o homem começou a levar abelhas de um lado para outro do mundo, e então, essa espécie começou a atacar a Apis mellifera”, alerta.
Antes de transportar as colônias de abelhas, o apicultor precisa avaliar os possíveis riscos, tanto para as abelhas que está levando quanto para as colônias locais, ressalta o pesquisador.
Polinização agrícola e controle biológico
Cristiano Menezes, da Embrapa Amazônia Oriental, colocou em pauta a importância da polinização para diversas culturas em relação à qualidade e quantidade dos frutos.
Além de tratar das diversas espécies de polinizadores, o acadêmico apresentou um panorama sobre a relevância de cada um deles para a produção agrícola. “A abelha Jataí é a mais importante para a polinização de morango; embora esta seja uma cultura que não necessita de abelhas para polinizar, a presença delas na produção diminui a má formação dos frutos e garante maior valor agregado ao produto”. Da mesma forma, o tomate é beneficiado com a presença de polinizadores.
Cristiano também citou o maracujá, que depende 100% da polinização, e a macadâmia, que registra aumento de 10% quando há polinização. “O açaí é extremamente dependente de abelhas e outros insetos; se não houver polinização, não há produção”, conclui o pesquisador.
Serviço:
29ª Reunião Anual do Instituto Biológico (RAIB)
Período: De 7 a 10 de novembro de 2016
Horário Geral: das 8h às 17h
Local: Instituto Biológico – Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252. Vila Mariana –SP
Programação: 29ª RAIB
Inscrições e outras informações podem ser consultadas no site de eventos da Fundepag.
Mais informações sobre espécies de abelhas e interação com plantas podem ser encontradas no Sistema de Informação Científica sobre Abelhas Neotropicais.