Há mais de 35 anos, o apicultor Aldo Machado dos Santos deu início a seu trabalho com as abelhas assim como começam muitos outros: com poucas caixas, se dedicava à atividade apenas aos fins de semana e nas folgas, conciliando com seu emprego como vendedor no comércio. Mas essa realidade mudou há mais de 20 anos, quando passou a ter a apicultura como fonte primária de renda da família.
Hoje, o produtor do Rio Grande do Sul e presidente da Cooperativa Apícola do Pampa Gaúcho (Cooapampa) tem uma produção de mais de 100 toneladas de mel por ano, trabalho realizado pelas mais de 2.200 colmeias de Apis mellifera.
Nesta conversa com a A.B.E.L.H.A., Aldo Machado fala sobre a produção no Estado e o mercado para o mel brasileiro, destaca a importância na polinização de culturas agrícolas e ainda recomenda os primeiros passos para quem quer se tornar apicultor.
A.B.E.L.H.A. – Seu ingresso na apicultura foi planejado? Você queria se tornar apicultor?
Aldo Machado – Não, eu era plantador de fumo e decidi mudar de vida. Mas não tinha planos para a apicultura, comecei conciliando a criação de poucas abelhas com o trabalho como vendedor, no comércio. Só me dedicava mesmo a elas aos fins de semana. Só que a produção foi aumentando, a atividade crescendo, até que chegou o momento em que passei a viver somente disso. São mais de 35 anos, 20 dos quais tendo a apicultura como minha única fonte de renda.
A.B.E.L.H.A. – E qual sua produção de mel hoje?
Aldo Machado – Atualmente tenho de 2 mil a 2,2 mil colmeias, dependendo das condições climáticas, e produzo mais de 100 toneladas de mel por ano. Basicamente, me dedico à apicultura migratória (eucalipto), além de ter parceria com agricultores para polinização de algumas culturas, a exemplo de canola, soja e outras leguminosas, a exemplo de cornichão e trevo-branco.
A.B.E.L.H.A. – Como essas parcerias beneficiam a apicultura?
Aldo Machado – Sem dúvida, elas são benéficas para ambos os lados, embora ainda não sejam tão comuns. O agricultor tem ganho de produtividade em razão do incremento na polinização, e o apicultor aumenta a produção de mel e tem seus enxames fortalecidos. Mas precisa haver um bom entendimento entre as partes, é preciso que a comunicação seja bem feita. O agricultor sabe que as abelhas vão de fato aumentar sua produção e o apicultor precisa ter certeza de que suas caixas vão ser protegidas durante a aplicação de defensivos na lavoura.
A.B.E.L.H.A. – Você tem uma parceria desse tipo que já dura muitos anos, com bons resultados.
Aldo Machado – Sim, há mais de 11 anos tenho parceria com um produtor de soja e eucalipto. Ele reporta que tem incremento de quatro sacas de soja, ou seja, de cada 100 hectares plantados, ele colhe 400 sacas. Vejo que essas experiências positivas se ampliam e devem crescer, assim como a relação entre apicultura e agricultura.
A.B.E.L.H.A. – Qual o tamanho do mercado de mel no Rio Grande do Sul?
Aldo Machado – É o maior produtor do Brasil – de 8 mil a 11 mil toneladas de mel por ano, e tem potencial para crescer. Ocorre que, como o Estado ainda não tem entreposto, quase 50% da produção é comprada por empresas de outros Estados, que revendem o produto. Um novo entreposto local está em fase final das obras e deverá entrar em operação no ano que vem, o que deve ser positivo para evitar esse “descaminho do mel”.
A.B.E.L.H.A. – No que diz respeito à capacidade de produção, o Estado tem potencial de crescimento?
Aldo Machado – Se houver capacitação, mais de 25 mil apicultores podem ampliar sua produção de mel dos atuais 15 a 20 kg/mês para 50 kg/mês. Apenas a capacitação e a melhor qualidade de gestão podem tornar a apicultura a atividade primária de boa parte dos criadores.
A.B.E.L.H.A. – Muitas pessoas procuram a A.B.E.L.H.A. buscando orientações sobre como começar na apicultura. Quais seriam suas principais recomendações?
Aldo Machado – Em primeiro lugar, sugiro um levantamento do pasto apícola no entorno da área onde se pretende instalar as caixas. Para tanto, é importante ter uma avaliação de um especialista, alguém que entenda de abelhas e possa fazer uma estimativa sobre sua capacidade de produção. Procure sindicatos e associações apícolas locais, que podem indicar esses especialistas. Além disso, tais organizações são fontes orientações sobre compra de colmeias quanto para treinamento e capacitação. A demanda por mel existe no mercado, o caminho é dedicação e profissionalização.