Criação racional e uso integrado de abelhas promove interação entre agricultores

Pesquisadores do Núcleo de Agroecologia da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) organizaram cursos sobre criação racional e uso integrado de abelhas, em dois módulos, em assentamentos em São Paulo, durante 2016.

O objetivo foi gerar um ambiente de formação voltado a criação racional de abelhas africanizadas (Apis mellifera), atividade produtiva denominada de Apicultura e no uso integrado dessas abelhas nos sistemas agrícolas utilizados no assentamento 17 de abril em Restina (SP), em especial aos sistemas agroflorestais implantados em alguns lotes de produção, metas estabelecidas no projeto Ecoforte. Buscou-se também abordar diversos temas, desde a biologia das abelhas, até as questões práticas de instalação, povoamento de apiários e preparo de colmeias, mesclando exposições de audiovisual e atividades práticas, como incrustação de cera alveolada, captura de enxames, com a transposição para colmeias racionais e transporte para apiário.

O pesquisador Ricardo Camargo explica que, a partir de demanda identificada junto ao público local, na fase de construção da proposta do projeto Ecoforte, a atividade de criação racional de abelhas (apicultura e meliponicultura) e da interação desses agentes polinizadores nos sistemas agrícolas de produção passou a ser uma das temáticas desenvolvidas no âmbito do projeto especificamente nas Unidades de Referência – UR-SAF-Horta, em Restinga e Meliponário Escola, na Embrapa Meio Ambiente, envolvendo também outros públicos de outras regiões da Rede Agroecologia Leste Paulista, como no sítio Naturescer, em Caconde, também UR do projeto.

“Os conceitos biológicos gerais como castas, divisão de trabalho e desenvolvimento foram sendo abordados durante as práticas, fazendo com que a rica biologia desses insetos sociais pudesse ser melhor compreendida e assim relacionada com as futuras atividades de manejo produtivo das colmeias formadas e de seu uso integrado nos sistemas agrícolas”, continua Camargo.

Outro aspecto importante desenvolvido com os agricultores foi o da implantação de um sistema de produção compartilhada, com a formação de um de um apiário coletivo, em área escolhida no assentamento, inicialmente envolvendo 4 famílias.

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Crédito: Joel Queiroga

Para a escolha do local também foram trabalhadas as principais características desejadas para a instalação de um apiário, como relevo, que permita a adequada instalação das colmeias, acesso facilitado de veículo, como boa disponibilidade de flora e fonte de água.

Conforme Camargo, essa proposta de gestão coletiva permite que agricultores que já tenham mais experiência possam nos trabalhos rotineiros com as colmeias, auxiliar na formação dos menos experientes. Além disso, nesse processo coletivo de trabalho se desenvolvem questões como valoração do espaço coletivo, responsabilidade compartilhada e companheirismo, promovendo cada vez mais a interação e solidariedade na rotina produtiva desses agricultores.

Sendo assim, independentemente de que alguns agricultores se desenvolvam em ritmos e escalas diferenciadas e venham a ter mais colmeias do que outros, nesse sistema de manejo coletivo, o exemplo da divisão de tarefas e funções e o trabalho solidário fornecido pelas abelhas sociais têm mais possibilidade de ser verdadeiramente apropriado pelos agricultores, que na maioria dos casos, repetem em sua rotina de trabalho, o modelo individual e competitivo da agricultura e sociedade atual.

Como resultado prático desse módulo, foi formado um apiário com seis colmeias, sendo três delas capturadas durante o curso e três que estavam instaladas em colmeias rusticas e sem padrão e que foram transferidas para as colmeias racionais adquiridas pelo projeto. Alguns enxames mais “fortes”, ou seja mais populosos já receberam melgueiras preparadas para a produção de mel. O local do novo apiário já foi preparado para abrigar em torno de 20 colmeias.

Toda a indumentária (vestimenta apícola), com macacões, luvas e botas, assim como os utensílios mínimos necessários para o manejo racional dessas abelhas, como os fumegadores e formões também foram adquiridos pelo projeto, assim como, as colmeias racionais de alta qualidade.

Sobre o módulo II – manejo de colmeias: revisão e preparo para produção de mel, o ambiente de formação já ocorreu no próprio apiário, com os agricultores recebendo noções de “boas práticas apícolas”, no manejo rotineiro das colmeias, como cuidados e manuseio das vestimentas, preparo do fumegador, materiais de combustão, uso racional de fumaça, disposição dos manipuladores no apiário, entre outros. Na ocasião, foi verificado o estado geral dos enxames capturados e transferidos no Módulo I.

Além disso, outro enxame, agora em trânsito, pode ser capturado, o que enriqueceu as experiências de captura, uma vez que os primeiros enxames capturados durante o módulo I estavam já alojados em locais como pneus, cabaças e diferentemente desses, esse novo enxame estava recém “pousado” em forma característica de “cacho” em árvore no lote de um dos agricultores do grupo.

Caixas iscas previamente preparadas conforme indicado no módulo I foram verificadas com a “grata satisfação” da captura de mais dois enxames, o que demonstrou na prática a efetividade dessa técnica e da sua vantagem na formação de apiários.

Na revisão das colmeias instaladas no apiário, pode-se observar um rápido desenvolvimento das colônias agora alojadas em caixas racionais e com a disponibilidade de quadros com cera alveolada, o que reforçou os conceitos repassados no módulo I, em relação as “vantagens” de se utilizar materiais de qualidade e técnicas de manejo racional.

Nas colmeias onde se haviam instalado as melgueiras (alças superiores para a produção de mel), observou-se a rápida construção das lâminas de cera alveolada fornecidas e já com acúmulo de mel em estágio avançado, o que indicou a necessidade de que novas melgueiras fossem preparadas por eles para posterior colocação e, consequentemente, a boa qualidade do pasto apícola do entorno do apiário.

Essa imagem icônica de um quadro cheio de mel com a cera nova recém produzida se torna uma boa ferramenta de estímulo, para que essa nova atividade inserida na realidade de produção desse grupo de agricultores, seja cada vez mais difundida e possa realmente impactar positivamente na geração de renda dessas famílias e contribuir para a difusão de um modelo de produção mais solidário e coletivo.

Fonte: Página Rural e Embrapa Meio Ambiente