A abelha-rainha é nutrida na colmeia com a geleia real. O processo que segue, para a manutenção do trono de uma líder reprodutora, foi estudado pelo pesquisador brasileiro Túlio Nunes, coordenado por Norberto Lopes, da Sociedade Brasileira de Química, que desvendou como a nova “chefe” do grupo se destaca e se impõe entre as demais.
Com artigos publicados sobre o assunto nas revistas Nature Ecology & Evolution e Scientific Reports, Lopes conta que a pesquisa analisou todo o processo para encontrar substâncias exaladas pelas abelhas. Os autores usaram mais de 20 espécies de abelhas sem ferrão para o estudo, do Brasil e da Austrália.
“No Brasil, você tem as chamadas abelhas sem ferrão. A mais conhecida é a jataí, do famoso mel de jataí, super valorizado no mercado”, disse.
Na maior parte das espécies de insetos sociais – com comunidades, como as colmeias – a rainha sinaliza seu poder para reprodução com feromônios. Quando a líder passa a liberar a substância, há um bloqueio do ovário da operária. Isso não acontece exatamente nas espécies pesquisadas.
“A gente acreditava que muito provavelmente essas abelhas poderiam produzir substâncias que inibiam os ovários das operárias. Mas o que se sabe é que existem algumas colmeias que a operária nunca produz ovos, algumas podem produzir quando a rainha morre e existem algumas que produzem ovos para zangões, para machos”, explicou.
Junto com uma equipe, Lopes e Túlio criaram um modelo para gerar uma imagem e mostrar onde as substâncias são secretadas. O pesquisador queria observar o momento em que as operárias reconhecem a rainha, a hora em que a abelha líder “exibe sua coroa para as outras”.
As operárias, de repente, chegam perto da rainha e passam a manipular suas antenas na parte dorsal na cabeça da companheira para entrar em contato com as substâncias. “É como se elas fizessem um cafuné na chefe”, explica Lopes.
A equipe criou imagens 3D da saída das moléculas da cabeça da abelha-rainha. No momento em que as substâncias são secretadas pela líder, as outras entendem que são operárias e que a nova líder reprodutiva já está determinada. O que surpreendeu os cientistas é que a espécie da abelha sem ferrão não expele feromônios, mas uma substância sinalizadora.
Ou seja: não é a substância liberada que causa o bloqueio da ovulação das operárias, mas as próprias operárias que recebem o sinal da abelha-rainha e param de ovular.
“A rainha avisa quimicamente: eu estou aqui. O processo é controlado pela própria operária”, disse. “Quando a operária entra em contato com a substância, ela passa imediatamente a entender: essa é a rainha, e eu respeito ela”.
De acordo com os autores, a escolha de uma abelha em específico para liberar o sinalizador precisa ser melhor estudada pelos biólogos, o critério natural ainda não foi totalmente desvendado para a espécie.
Fonte: G1 – Carolina Dantas