A Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP) lançam hoje (6), em São Paulo, o “Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil” e seu respectivo Sumário para Tomadores de Decisão.
O documento reuniu, durante um ano e meio, 12 pesquisadores de todo o País para preparar o diagnóstico que envolveu a revisão de mais de 400 publicações e, posteriormente, foi submetido à revisão externa acurada de outros 11 especialistas da área, incluindo gestores ambientais e tomadores de decisão, além de professores universitários e pesquisadores. Entre eles, a diretora executiva da A.B.E.L.H.A., Ana Assad, que também esteve presente no evento de lançamento do relatório, realizado na Fapesp.
O relatório segue os moldes do diagnóstico global de polinização, lançado em 2016, pela Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) da ONU. O diagnóstico global foi acatado pelos países membros da Convenção da Diversidade Biológica e deu origem à Coalizão de Polinizadores, uma iniciativa global formada por países que apoiam os programas de proteção e uso sustentável dos polinizadores nas políticas públicas e do qual o Brasil ainda não é signatário.
“O documento brasileiro foi estruturado de modo a subsidiar futuros programas de integração entre os vários setores da sociedade civil e esperamos que o Estado se sensibilize com esta questão” afirma Vera Imperatriz, da Universidade de São Paulo, que coordenou o diagnóstico global da IPBES.
A ocasião para o lançamento do relatório é oportuna, segundo Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas e coordenador da BPBES e do Programa Biota/Fapesp, pois coincide com a discussão da regulamentação e liberação de novos agrotóxicos. “Os polinizadores são de vital importância não só para nossas exportações como para produção de alimentos essenciais para a qualidade de vida dos brasileiros. O país deve avaliar com muita cautela, a utilização de substâncias que colocam em risco o enorme benefício que estes animais nos trazem”, argumenta o coordenador.
Alta diversidade de polinizadores é oportunidade também para a agricultura
A polinização contribui para a variabilidade genética de plantas, fornece frutos, sementes, mel e derivados, além de envolver um conjunto de conhecimentos tradicionais. Por isso, é considerada um serviço ecossistêmico, ou seja, um benefício decorrente da integridade da natureza para sustentar a vida no planeta, assim como a água, a regulação do clima, ar limpo, etc.
Em termos monetários, a polinização representou R$ 43 bilhões em 2018 para o País. Para chegar a este valor, os pesquisadores da REBIPP calcularam o produto da taxa de dependência de polinização pela produção anual considerando 67 cultivos. A soja responde por 60% deste valor, seguido pelo café (12%), laranja (5%) e maçã (4%).
Das 191 culturas agrícolas utilizadas para a produção de alimentos no país, que se tem conhecimento sobre o processo de polinização, 114 (60%) são visitadas por polinizadores. O diagnóstico analisou ainda o grau de dependência dos polinizadores para 91 cultivos agrícolas e constatou que, para 76% (69), a ação de polinizadores aumenta a quantidade e/ou a qualidade da produção agrícola.
Em destaque, as abelhas
A lista de visitantes das culturas agrícolas supera 600 animais, dos quais no mínimo 250 com potencial de polinizador. As abelhas predominam como polinizadores, representando 66% das espécies. Besouros, borboletas, mariposas, aves, vespas, moscas, morcegos e percevejos enriquecem a lista.
A diversidade de polinizadores é fundamental para a efetividade da polinização, afirma o relatório. E a manutenção do ambiente natural próximo ao cultivo ainda é a principal forma de garantir esta diversidade, na medida em que supre a oferta de recursos e abrigo durante o ano.
O relatório aponta o manejo de polinizadores nativos como uma oportunidade ainda pouco explorada. O País possui uma grande diversidade espécies sem ferrão que, além de produzirem méis de qualidade e de alto valor agregado, proveem a polinização de diversos cultivos agrícolas. Segundo o relatório, apenas 16 espécies são manejadas. Neste sentido, temos muito a aprender com as práticas de manejo associadas ao conhecimento local e indígena.
O documento destaca ainda os múltiplos fatores podem representar ameaças aos polinizadores e à polinização: “os ambientais – mudanças no uso da terra, agricultura intensiva e de larga escala, uso indiscriminado de agrotóxicos, poluição ambiental e mudanças climáticas globais – e os biológicos, tais como espécies invasoras, efeitos indiretos do uso de organismos geneticamente modificados, pragas e patógenos, e, ainda, a interação entre eles”.
O relatório é composto por cinco capítulos:
1 ) Contextualização do relatório temático na BPBES;
2) Status e as tendências em polinização e produção de alimentos;
3) Diversidade biocultural e valores socioculturais dos polinizadores;
4) Fatores que afetam os polinizadores, a polinização e a produção de alimentos;
5) Respostas aos riscos, governança e oportunidades associados aos polinizadores, à polinização e à produção de alimentos.
Confira o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil .
Fonte: BPBES
Crédito da imagem em destaque: Cristiano Menezes
Crédito dos infográficos: Bárbara Miranda