Plantas aquáticas servem como “motel” para algumas espécies de besouro

Por Rodrigo Aranda e Gisele Catian

Aprendemos na escola que as flores são os órgãos sexuais dos vegetais. Mas o que os professores de biologia esqueceram de contar é que algumas delas vão além e possuem outra atuação libidinosa: abrigar verdadeiras orgias de insetos.
É o caso das flores das vitórias-régias e das ninfeias (ou ninfas d’água), plantas aquáticas pertencentes à família Nymphaeaceae. O nome faz referência às náiades, ninfas de água da mitologia grega. Elas eram parecidas com sereias: viviam em rios, lagos e fontes, tinham controle sobre a água – e uma voz encantadora. As flores dessa planta são grandes e vistosas, e se erguem acima da superfície. Eis a associação com a figura mitológica.
Para algumas espécies de insetos, as flores da vitória-régia e da ninfeia são realmente encantadoras. Os besouros escarabeídeos do gênero Cyclocephala que o digam. Eles são animais noturnos, excelentes polinizadores desse tipo de planta e facilmente atraídos por luzes.
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Crédito das imagens: Gisele Catian/ICEN – UFR
As flores sabem disso – e usam essas características dos besouros a seu favor. Para atraí-los, elas abrem somente à noite. Os insetos são atraídos pelo odor de éter emitido pelas flores e pela coloração creme das pétalas, que se destacam no ambiente escuro. E é aí que a diversão começa.
Hora da festa
As flores das ninfeias formam uma espécie de câmara em seu interior, que oferece abrigo, alimento e calor para os besouros. Eles entram na câmara floral no início da noite, onde permanecem presos por até 48 horas. Quentinhos, eles ficam ali se alimentando da proteína do pólen e do açúcar do néctar.
Uma coisa leva à outra, e esse banquete acaba se transformando em uma noite de amor: os besouros passam esse tempo todo dentro das flores copulando.
Os machos são atraídos pela fêmea, que chega à flor antes deles. Todos que entram na câmara tentam acasalar com ela. Pode ocorrer de apenas um macho de Cyclocephala ser bem-sucedido e ficar protegendo a fêmea pelo resto da “balada”, evitando que outros copulem com ela.
besouros flor close Gisele Catian ICEN UFR red
Mas as regras da festinha são flexíveis: às vezes, acontece também de outro besouro conseguir copular com a fêmea (um comportamento bem comum no reino animal. Ao final da esbórnia, a flor reabre suas pétalas – e libera os insetos baladeiros.
Rodrigo Aranda e Gisele Catian são pesquisadores do Instituto de Ciências Exatas e Naturais da Universidade Federal de Rondonópolis.

Artigo publicado originalmente no Blog Bzzzzzz, parceria entre a A.B.E.L.H.A. e a Revista Superinteressante. Disponível em https://super.abril.com.br/coluna/bzzzzzz/plantas-aquaticas-servem-como-motel-para-algumas-especies-de-besouro/